Afeto

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– Ele parecia ser poderoso. – Digo, ainda me referindo ao cara do sonho. – E perigoso. Ele mencionou dominar Opposite!

Já é de manhãzinha. Luke e Jer preparam a canoa enquanto eu e Nina desmontamos as barracas e terminamos de arrumar as malas. Estamos bem próximos e todos conseguem me ouvir.

– Pais perigosos podem ser um problema. – Comenta Jeremy, zombando. – Ainda piores do que os super protetores. – Ele refere-se a Sra. Gray.

Resmungo algo que nem eu mesma consigo entender e continuo a trabalhar em silêncio. A verdade é que estou um tanto irritada pelo fato de meus amigos não levarem tão a sério minhas teorias sobre meu pai invadir minha mente durante o sono. Eles acreditam que tudo não passou de um sonho.

– Em, eu sei que é difícil por você nunca ter conhecido seus pais, mas é impossível alguém invadir seus sonhos. Impossível. – Nina explica, percebendo o quão magoada estou.

– Mas é aí que está: Eu achava que ser uma feiticeira também era impossível! – Respondo, tentando convencê-los.

Jeremy dá uma risadinha e depois disso permanecemos em constante silêncio.

Acontece que eu não quero e nem consigo acreditar que aquele sonho foi apenas um sonho qualquer, sem nenhum outro significado. E não é só porque estou louca para conhecer meus pais, mas porque foi real. Real até demais. Tanto, que eu até pensei estar morta.

E por um momento, uma dúvida dolorosa percorre minha mente: O que Peter diria sobre meu sonho, se estivesse aqui? Será que acreditaria que aquele cara envolto com o manto branco era realmente meu pai? Aposto que sim, Peter costumava ser tão sonhador quanto eu.

Lembrar dele me faz sentir uma pontada dolorida no coração e o estômago embrulhar. Decido tentar pensar em outra coisa para me distrair, mas infelizmente Logan me vem a cabeça, junto com a enorme saudade que sinto dele. Balanço a cabeça, já com a garganta ardendo e acabo escolhendo não pensar em absolutamente nada.

Termino de carregar a última mala até o barco com um suspiro e noto que Luke já está parado bem atrás de mim, provavelmente querendo me dizer alguma coisa. Eu me viro em sua direção e ele chega um pouco mais perto

– Emily, é o seguinte, eu sei que você quer praticar o uso dos seus poderes o quanto antes, mas acho melhor seguirmos a diante com a viagem. Aqui não é muito seguro, entende? Quando finalmente chegarmos até Arcanum Island, nos revezamos para te ajudar a controlar sua força. Tudo bem?

– Tudo bem. – Concordo, um tanto quanto tensa.

Se tem uma coisa de que estou decidida é de que não usarei mais meus poderes enquanto não praticar. Eu não suportarei ser a causa da morte de mais um de meus amigos. Não mesmo. É claro que não digo isso em voz alta...

Entramos no barco com rapidez e navegamos para fora da gruta, remando com umas espécies de remos improvisados por Nina.

Logo que saímos da gruta, a pouca claridade já machuca meus olhos. Levanto minha cabeça e encaro ao céu, admirando sua cor: uma mescla de azul, alaranjado e alguns tons de dourado. As nuvens também coloridas adornam cada pedacinho de onde eu consigo enxergar. E então avisto o sol surgir, além do horizonte.

A beleza celeste do nascer do sol, refletida nas águas escuras me deixa boquiaberta e totalmente sem palavras. Nunca imaginei que fosse, um dia, parar em um lugar como este. Não prestei muita atenção no começo da viagem, porque estava embaixo d'água, mas agora consigo ver o quão maravilhoso é o Shadow Ocean, apesar das indesejáveis criaturas marinhas.

Opposite - Chamas IniciaisOnde histórias criam vida. Descubra agora