Perdão

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É a primeira noite na qual não consigo encontrar as estrelas no céu de Opposite.

Por um segundo, meus olhos se perdem na atmosfera enigmaticamente nebulosa. Contemplo como as nuvens a preenchem, cobrindo-a por completo, e de repente, até mesmo a Lua. A claridade de nossas chamas permite que continuemos enxergando, porém, só o que está por perto. A cegueira à longa distância me faz estremecer, no entanto, não só ela. A risada malígna de meu pai ainda ecoa pela orla, tornando-se cada vez mais audível e indicando sua aproximação.

Toda a coragem que consegui reunir para chegar até aqui morre em um único segundo. Sinto meus batimentos cardíacos acelerarem, minha garganta secar, minhas mãos tremerem e uma vontade de me esconder que nunca senti na vida. Estou assustada à ponto de chorar, mas faço de tudo para reprimir essa necessidade. Se existe uma coisa que eu detesto é a sensação de vulnerabilidade.

Como esperado, o pânico me faz perder o foco. Minhas chamas se apagam e eu fico totalmente desprotegida. No entanto, Luke logo percebe o meu abatimento e aniquila os três demônios, em minha frente, que estavam prestes a me atacar.

– Obrigada. – Agradeço, ignorando a tremedeira.

Ele encara meus olhos com preocupação e segura uma das minhas mãos com força. Suspiro, contente em tê-lo ao meu lado novamente. Estivemos separados por tão pouco tempo, mas pareceu uma eternidade para mim. Nunca pensei que fosse sentir a falta de alguém com essa intensidade.

Luke está prestes a dizer alguma coisa, mas neste exato momento, a voz de Agramon volta a nos aterrorizar:

– Vocês fizeram um belo trabalho, meus guerreiros, mas já é hora de parar. Acho que já é suficiente... – Ele se dirige ao exército demoníaco.

Assim que Agramon termina de falar, imediatamente, todos os demônios ao redor obedecem suas ordens, interrompendo seus movimentos como se fossem robôs. Observamos as criaturas demoníacas se afastarem lentamente de nós e se moverem na direção Sul, de onde estavam vindo.

Ruídos metálicos de espadas se chocando me chamam a atenção e então percebo que os únicos que continuam a duelar são Peter e Elliete. A disputa parece equilibrada, mas, para o meu desespero, a loura passa uma rasteira em Peter, que ao perder o equilibrio e cair, deixa a espada voar para longe.

Um sorriso cruel se forma nos lábios de Elliete quando ela caminha com sua espada pontiaguda até Peter. Os olhos de Peter se arregalam, assim como os meus. Sinto meu coração dar uma cambalhota só de imaginar o que a loura maldita está prestes a fazer agora que o feiticeiro está desarmado.

Por puro impulso, faço um movimento brusco para a frente, no intuito de sair correndo para salvar meu amigo. No entanto, sou puxada para trás por Luke, que segura meus ombros com força. Infelizmente, não consigo escapar dessa vez.

Antes que eu reclame do excesso de proteção e tente me soltar novamente, Luke sussurra, com convicção:

– Emily, ela não vai fazer nada.

Não confio muito no que Luke diz e mordo o lábio inferior, nervosa, observando os movimentos de Elliete, há poucos metros de nós. Ela encosta a espada no pescoço de Peter, que parece tão assustado quanto eu.

– Luke, faça alguma coisa. Por favor! – Berro, agoniada, mas mesmo assim, ele não faz absolutamente nada. Nem ao menos me responde.

Elliete dá uma gargalhada alta com a aflição de Peter e acho que com a minha também. Se eu pudesse, ficaria honrada em colocar fogo no cabelo dessa loura destestável!

Mas para o meu alívio e surpresa ela murmura, entre os risos:

– Hoje, não, lindinho. Hoje, não.

Opposite - Chamas IniciaisOnde histórias criam vida. Descubra agora