O cemitério clandestino

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O bunker estava frio. O gás vazava pelas câmaras refrigeradas. André estava desesperado: "Vamos morrer congelados".

O soldado ranzinza estava sobre os ombros do outro tentando alcançar a rachadura de vidro.

"Invés de reclamar, poderia nos ajudar a sair daqui" -, apelou.

Isaías estava pensativo num canto: - "Isso não vai adiantar".

"O que adiantaria?" -, interpôs o mal-humorado. "Só podemos entrar por onde saímos".

Na realidade, os soldados sabiam da outra saída, mas, isso os levaria a uma antessala que poderia denunciar os outros experimentos, dessa vez com humanos.

"Isso é um bunker, quem construiu tinha acesso a isso, então, obviamente tem uma saída" -, insistiu Isaías.

"Na realidade tem" -, apontou o segundo soldado despertando visivelmente a irritação no mais mal-humorado. "Só que temos que procurar em todas as portas".

"Então vamos logo, antes que congelemos por aqui" -, apontou André com pressa abrindo uma porta do frigorífico revelando algo diferente.

O cheiro era forte. André puxou uma alça que revelava uma mesa do tipo necrotério. Com uma das mãos tampou o nariz e a boca. Tentou não respirar.

"O que seria isso?" -, perguntou Isaías.

"Corações adulterados de humanos e alienígenas em experimentos que falharam" -, disse o soldado.

Isaías olhou para tudo com nojo. Eram pedaços e pedaços de carne acumulados em grande quantidade com sangue ressequido, veias e artérias expostas. Pareciam pedras. O gelo tinha alterado textura e cores.

"Que tipo de coisas horrendas fazem por aqui?" -, insistiu o homem de Deus.

"Não fazemos nada, apenas tomamos conta do que está aí. Somos funcionários do governo e cumprimos nossa missão -, se protegeu o segundo soldado.

"Acho melhor tentarmos sair daqui e esquecer essas coisas, antes que a situação possa piorar" -, disse o mal-humorado com feição de nojo.

"Se vamos seguir, precisamos saber com o que estamos metidos e quais os riscos" -, disse Isaías os colocando na parede.

"Soldado João" -, disse o rapaz mais novo. "Estamos na plataforma experimental de São Sebastião em que o governo viabiliza e aplica, através do Ministério de Ciência e Tecnologias, experimentos em parceria com os extraterrestres na tentativa de depurar as raças vivas para dominar os demais planetas do sistema solar".

Isaías tentou entender: "Quer dizer que tudo o que estamos passando por aqui é algo protegido e fomentado pelo governo? Ao contrário do que pensávamos que o movimento fosse uma trégua para a raça humana não ser dizimada, há então um contrato de interesse por trás de tudo?"

"Meu nome é Herson" -, disse o soldado mal humorado. "Agora vamos sair daqui urgente isso é perigoso".

Isaías o encarou: "Me fale mais desse projeto e prometo que tentamos sair daqui de qualquer modo".

João se adiantou: "Há sim um contrato velado com as nações mais potentes do mundo. O Brasil estava fora do eixo até que os alienígenas nos incluísse devido ao nosso grande potencial natural para subsidiar interesses das demais nações. O projeto de estender uma só raça pelo universo só anda porque o motor é o Brasil. O governo aceitou doar humanos para experimentos".

André estava tremendo de frio. "Precisamos sair daqui, está ficando mais gelado".

"O jeito é tentarmos algumas das portas. Não temos conhecimento sobre as saídas de outros setores que não os nossos" -, apontou Herson.

Contratos VeladosOnde histórias criam vida. Descubra agora