Quatro anos depois; o fim.

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--- Maio de 2002.

Era mais um domingo simples como todos os outros. A manhã estava branda e a brisa refrescante sob uma aconchegante luz esbranquiçada. Era final de outono. As folhas das árvores estavam no chão se misturando na grama com as pétalas de ipês brancos.

Cohen estava sentado numa cadeira de palha aproveitando o sol. A brisa refrescava as suas bochechas. Doces lembranças de sua juventude no sul. Gostava do frio. Gostava ainda mais da paz que estava tendo agora. Era reconfortante saber que lá dentro, sua esposa preparava tudo com carinho para receber a família. E, pela primeira vez, se sentia parte disso.

Se sentiu amado de uma forma tão completa que jamais abriria a mão disso. Preferia entrar e ver o sorriso dela numa mesa posta com a comidinha mais simples do mundo. Doces lembranças do período em que teve mãe. Era bom demais encontrar tudo isso depois de certa idade, quando jamais imaginou que teria uma família novamente.

Uma lágrima escorreu ao rosto. Passou as costas das mãos para limpar a lágrima e abriu um sorriso verdadeiro. Os convidados chegaram.

Dois carros estacionaram em frente à casa. Cohen se levantou e foi lentamente na direção deles de braços abertos. De um dos carros desceu Daniel, Estela e a jovenzinha Larissa. A menininha veio ao seu encontro: "Vovô! Vovô!"

Foi um abraço cinematográfico. O coração de Cohen estava repleto.

Mais atrás, emocionada, Maria José acompanhava o Pastor Isaías com a sua esposa e as crianças. Chegaram na hora combinada para o almoço que comemoraria os 3 aninhos de Larissa.

Ao longe, os disparos festivos da buzina revelaram a alegria e vida de Jandira. Pela janela de trás do carro ela acenava extremamente contente. Enquanto Joaquim e sua esposa sorriam com as crianças pela espontaneidade da enfermeira. Pery sorria encantado com aquela tia adotiva.

O aniversário de Larissa seria incrível. O primeiro reencontro entre todos desde o grande acontecimento. Bem, todos menos Vanessa. Sobre essa caíra a pena da traição e ela havia sido banida de suas vidas.

Cohen cumprimentou e recebeu a todos com a maior felicidade que um homem poderia ter: amigos; e os convidou para entrar para se encontrarem com Inês.

*****

Vanessa tomava um whisky à caubói. Estava sentada na poltrona de luxo de seu apartamento na capital herdado da aposentadoria forçada de Ortiz.

Ele se aproximou dela com seu fraque bem engomado e seu cheiro de perfume francês. Ortiz tinha admiravelmente um bom gosto másculo, bruto, rude, cheiroso e de pegada deliciosa. Não era intelectual, carinhoso ou empolgado como Cohen, mas era bem mais jovem e tinha uma dureza que lhe entretia a pélvis.

Olhou para ele com um sorriso de admiração iluminado pelo reflexo do sol nas janelas de vidro dos prédios.

"Vamos?" -, perguntou ele. Ela se levantou com uma transparência luxuosíssima misturada com a seda opaca rosa. Deu a mão a Ortiz como uma dama desses filmes Hollywoodianos e saíram do apê.

Esse almoço entre os políticos era o que mais desejara na vida. Era o almoço de autógrafos de seu livro sobre ufologia. Ia brilhar para a comunidade como sempre sonhara com Cohen. Mas, ele preferiu o amor. Assim que Cohen saiu de sua vida, a ufologia entrou com mais força, afinal, ela não ia deixar aquele acontecimento de 4 anos atrás pesar-lhe sobre as costas.

Desceram pelo elevador e saíram pelo saguão principal. Uma limusine os esperavam. Queria chegar em grande estilo depois do que passara; de tudo o que ouvira e lhe ferira.

Assim que o chofer fechou a porta, uma lagrima apontou. Ela contrapôs-se: sorriu. Não se permitiria ser derrotada pelo sentimento imbecil que a culpa impinge aos humanos. Que traição que nada! Já não era tão humana assim.

Contratos VeladosWhere stories live. Discover now