05 | perdidos e achados

946 39 1
                                    

Como esperado, toda a gente olha para Valerie por onde for que ela passe. Afinal de contas, ela está de camisa de dormir e mais apetecível que nunca.

Tento ignorar os olhares esfomeados dos homens que passam por nós, mas é impossível e sinto até a cabeça a ferver.

Quando finalmente chegamos à área dos perdidos e achados, dou por mim a chegar-me extremamente perto de Valerie e a tentar cobri-la para que ninguém, para além de mim, a pudesse ver.

Valerie diz o nome e segundos depois, o homem volta com a mala dela que se encontra fechada e parece não ter sido tocada. Ela pousa-a no chão à nossa frente e abre-a, suspirando de alívio, quase de imediato, ao ver que o seu livro ainda lá está e em bom estado e também ao reparar que o seu dinheiro ainda se encontra no sítio onde ela o arrumara, dentro de umas sapatilhas.

Ela levanta-se, contente, e abraça-me inesperadamente. Ao início, eu não sei bem o que fazer mas depois puxo-a para mais perto de mim, agarrando-a bem com os meus braços e apertando-a contra o meu corpo. Eu levanto-a ligeiramente no ar e depois volto a pousá-la mas não a largo logo de imediato. Em vez disso, espero que seja ela a desfazer o abraço.

Quando ela o faz, admito ainda não estar pronto, mas sou obrigado a deixá-la ir. Ela parece um tanto envergonhada por me ter abraçado sem mais nem menos, mas eu quero dizer-lhe que ela não tem que se sentir assim e que eu adorei cada segundo daquele abraço. No entanto, decido não o fazer.

Ela baixa-se novamente para fechar a mala e quando se levanta para ir, noto que tem as bochechas um pouco vermelhas.

Eu coloco o braço à volta da sua cintura, e puxo-a para mais perto de mim, sentindo a obrigação de a proteger dos homens que a olham com atenção. Ela não diz nada e limita-se apenas a continuar a andar.
Ao chegarmos ao carro, ela devolve-me a chave e antes de por a bagagem na mala do mesmo retira de lá um vestido curto de verão.

"Vou só vestir-me no banco de trás, ok?" Ela diz, e eu entendo que tenho que ficar cá fora à espera. Quando eu afirmo com a cabeça, ela afasta-se e entra no carro, fechando a porta de seguida.

Por muito que eu queira dar-lhe a privacidade que ela merece, sinto-me compelido a olhar e, ainda que o vidro fumado não me permita ver muito, é o suficiente para vê-la movimentar-se. Ela retira cuidadosamente a camisa de dormir, que desliza facilmente pelos seus braços finos.

Afasto-me do carro rapidamente, sentindo-me culpado por ter olhado e segundos depois ouço a porta abrir-se. Quando me viro de novo, ela está à minha espera, agora vestida. A minha cabeça está a mil.

Eu ando em direcção ao carro, mas encontro-me a ir direito ao lado do passageiro, onde ela se encontra.
Agora estou frente a frente com ela, a poucos centímetros de distância do seu corpo. Ela irradia um calor característico e por um mero segundo, pareceu-me vê-la morder o lábio inferior.

Por esta altura, a minha visão está já turva de desejo e eu dou por mim a pôr os braços à sua volta e a puxá-la contra mim. Eu viro-a de costas para o carro e encosto-a ao mesmo, deixando os nossos lábios à distância de um dedo apenas.
As minhas mãos percorrem agilmente as suas costas e por fim, aproximo-me para a beijar.

** ** **

VALERIE

"Isto tem que ser ilegal." Comento, entre gargalhadas, enquanto corro de mão dada com André até ao meio do campo de futebol.
Assim que paramos de correr, André deita-se no relvado e abre os braços, para que me deite a seu lado e assim faço.

Coloco a cabeça no seu ombro e o braço sobre o seu peito e sinto os seus dedos brincarem com o meu cabelo longo.

"O que é que vai acontecer depois de me ir embora?" Pergunto num sussurro e André deposita um beijo na minha testa.

"Eu não sei... mas eu não quero perder contacto contigo." Ele admite e eu, sem saber o que dizer, mantenho-me em silêncio. "Tens um efeito em mim que nunca ninguém teve."

Eu ouço o seu coração bater sem irregularidades e sorrio para mim mesma enquanto procuro a sua mão livre com a minha e a puxo para um beijo.

"Depois de o meu pai falecer, encontrei uma caixa que ele guardara, até mesmo depois de se ter divorciado da minha mãe, com cartas que eles tinham trocado quando tinham apenas a nossa idade." Sussurro, sendo esta a primeira vez que falo abertamente da morte do meu pai.

"Eu lamento." André murmura, sem saber o que dizer para além disso, e eu, por minha vez, sinto que lhe devo uma explicação.

"É por isso que cá estou, André. Eu não estou cá de férias." Admito. "O meu pai foi enterrado cá e todos os anos eu venho e coloco uma carta sobre a sua campa. Eu sei que é estranho mas eu espero que ele de alguma forma as consiga ler mais uma vez e que, por fim, encontre paz. Graças às cartas e à pessoa que ele era quando escrevera aquelas cartas."

André senta-se, obrigando-me a sentar-me também, e olha-me com atenção. Depois, ele acaricia o meu rosto suavemente e beija os meus lábios.

"Não é estranho, Valerie. Eu gostava de o fazer contigo este ano, se tu também o quiseres." Ele diz e eu sinto uma lágrima formar-se no canto do meu olho. Eu abano a cabeça em afirmação.

"Obrigada, André." Murmuro e beijo-o mais uma vez.

~ olá babes, eu espero que estejam a gostar! Votem e comentem na fic e se quiserem seguir-me no insta (silvias.gomes), eu sigo de volta! ~

EU QUERO-TE A TI [andré silva]Where stories live. Discover now