08 | marionetas

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"Tem 2 novos voicemails. Esta mensagem foi enviada às 08:36." Silêncio. "Val, sou eu. Estou a caminho do aeroporto e quando acordares já devo estar fora do país. Eu gostava de me ter despedido, mas aconteceu tudo tão rápido." Um forte bip faz-se ouvir e depois sou dada a opção de ligar de volta para a pessoa que tentou contactar-me, ou de ouvir o segundo voicemail. Escolho ouvir a outra mensagem de voz. "Eu não estava nada à espera que os treinos começassem mais cedo. Se eu soubesse, tinha passado muito mais tempo contigo e aproveitado cada segundo. Já agora, é o Afonso que te vai levar ao aeroporto amanhã... Adeus, Val. Eu..." Bip.

Olho para o relógio e reparo que são apenas nove e meia. Talvez ainda houvesse tempo.
Chamo um táxi de imediato e visto a primeira coisa que me vem à mão, saindo do quarto logo a seguir. Enquanto espero pelo táxi decido ligar a Afonso, que me atende segundos depois.

"Afonso, a que horas é o voo do André?" Pergunto, vendo o táxi à distância e fazendo-lhe sinal.

"Se não me engano é às 10:15." Ele diz com uma voz sonolenta. "Porque é que perguntas?"

"Porque não me despedi." Digo, fechando a porta e indicando o taxista de que tenho que estar no aeroporto o mais rápido possível.

"Valerie, isso é de loucos! Mesmo que lá chegues antes das 10:15 não te vão deixar passar sem teres bilhete."

"Vale a pena tentar, Afonso! Esta pode ser a minha última oportunidade do o ver." Explico enquanto observo atentamente o conta quilómetros do táxi.

"Eu vou ter contigo, ok? Vejo-te lá."

** ** **

Passo sorrateiramente pelo segurança que está neste momento a verificar os bilhetes e coloco-me na fila, tentando parecer o menos suspeita possível. Minutos depois passo pelo detector de metais e nada acontece pelo que me deixam passar sem problema.

Está tudo a correr bem, quando de repente me pedem para ver o bilhete de avião e eu sou obrigada a remexer a carteira, fazendo de conta que procuro pelo mesmo. O segurança começa a ficar impaciente e então eu percebo que é agora ou nunca. Eu começo a correr.

Tento furar pelo meio da multidão assustada, intimidados pela cavalaria que me persegue agora. Olho para um dos ecrãs e procuro rapidamente qual a porta em que André está prestes a embarcar e depois continuo a correr.

À distância, consigo vê-lo, tão bonito como da primeira vez. Não é preciso chamar o nome dele para que ele me olhe, pois o barulho que os polícias e os seguranças atrás de mim estão a fazer é o suficiente para que toda a gente dê pela nossa presença.

Quase que em câmara lenta, ouço-o dizer o meu nome. Ele está surpreendido e não parece saber o que fazer.

Ao chegar a ele, o meu primeiro instinto é abraçá-lo, sentir o seu cheiro, e brincar com o seu cabelo com os meus dedos esguios. Eu sei que o meu tempo está a acabar.

"Eu também." Sussurro antes de me afastar para o olhar uma última vez.

Ele agarra a minha mão e está prestes a dizer algo quando alguém me agarra pela cintura e me puxa para longe dele. Eu não luto; em vez disso eu sorrio para ele.

** ** **

"Tu tens noção da sorte que tens, Valerie?" Afonso pergunta pela quinquagésima vez, fechando a porta do carro com um pouco de força a mais. "Podiam-te ter dado um tiro, ou assim!"

"Eu sei, Afonso. Mas valeu a pena." Digo, feliz por ter revelado a André os meus sentimentos por ele.

Afonso ri-se do nada.

"Tenho que admitir que foi bem fixe de se ver e tudo, muito à filme." Rio-me também.

"Sem dúvida."

** ** **

Somos marionetas na maior peça de teatro de sempre. Chamem-lhe... vida.

Se Deus existe, eu não sei, mas o certo é que o director desta peça é maior e mais poderoso que todos nós. Ele controla-nos, coloca-nos no sítio certo à hora certa e manipula os nossos sentimentos.

Foi isso que Ele fez comigo e com o André.

Ele começou por nos colocar no aeroporto no mesmo dia, fez com que eu perdesse a minha mala e despertou a bondade no coração de André, de modo a que ele me oferecesse boleia.
Depois, Ele mostrou-nos o verdadeiro significado da palavra felicidade e fez com que aprendessemos a amar. Ele fez com que nos apaixonássemos um pelo outro, e assim que isso aconteceu, Ele afastou-nos.

É a típica peça dramática com um romance improvável, em que os protagonistas ficam miseráveis e o director celebra o seu maior sucesso.

Eu estou miserável. E André também.

andresilva9
há 1 minuto atrás

andresilva9há 1 minuto atrás

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EU QUERO-TE A TI [andré silva]Onde histórias criam vida. Descubra agora