02. Querido amigo eterno...

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"E de repente a juventude vem à memória...e me adoça o vazio..."

Querido amigo aterno

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Querido amigo aterno...

É impossível não pensar nos dilemas de ser criança. Eu cresci num orfanato, mas isso é em todo lugar. Quando uma criança briga com outra criança, não existe força no universo capaz de guardar aquela mágoa. Por quê? Porque ela simplesmente não existe. Crianças são puras. Não guardam rancor.

Lembro-me que sempre tinha alguém pra implicar comigo quando cheguei ao Lar Roses. Eu era a novata , e ninguém nunca está preparado pra ser a novata. No entanto, as mesmas pessoas que caçoaram de mim ontem, brincavam comigo hoje. Sem resentimentos.

— Beca? — Louise saia do banheiro, quando entrei no dormitório. — Pensei que fosse ficar fora.

— Chamou alguém pra vir aqui? — Tirei a bolsa, pendurando na porta do guarda-roupa.

— Não chamei, mas é sexta e eu pensei que o Murilo fosse te levar pra casa dele. — Louise procurava alguma coisa no armário.

— Hoje não.

O fato era que Murilo me beijou, me estigou e foi embora. Oh, que grande idiota maldito. Mas ele estava estranho o caminho inteiro de carro até meu prédio. Ora olhava pra estrada, ora pra mim, pra qualquer coisa alheia, que teve uma hora que não aguentei.

— "O que é?" — Perguntei. Ele me olhou estranhando a pergunta.

— "Estou dirigindo".

— "O que está te incomodando?"

— "Já disse que estou dirigindo".

Ótimo. Não perguntei mais. Também assim que paramos na entrada do campus, me pus pra fora do carro e acenei sem dar chance de ele chegar perto, e entrei.

Não quero pensar nisso agora. O que quero mesmo é me preparar pra mais uma de minhas maratonas de seriados.

— Rebeca! — Lou puxou o controle da TV de mim. A olhei indignada. — Você está brincando que só porque o professor gostoso não quis sair com você, que vai ficar aí jogada vendo série?

— Na verdade eu faço isso toda semana. — Me inclinei pegando o controle dela, que a mesma nem me viu chegando. — E não é por causa de professor algum. Eu só quero ficar em dia com meu arqueiro e meu velocista.

— Nem pensar.

— Aí, me deixa, Lou. — Ela me bateu com a almofada. — Lou!

— Sai dessa cama. — Neguei. — Você vai comigo pra festa do Sean.

Universitários malditos. Vou por todos vocês na minha lista negra, que acabei de criar.

— Não quero ir.

Querido Eu Where stories live. Discover now