Bottom Of The Deep Blue Sea

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Pov-Delphine

Vulnerabilidade é um substantivo feminino e singular. Seu significado é quase tão miserável quanto o emprego da palavra em um contexto qualquer. Com sete vogais e oito consoantes, o termo "Vulnerabilidade" pode ser entendido como a condição de risco em que uma pessoa se encontra. Um conjunto de situações problemáticas que situam a pessoa em um longo estado de carência, necessidade, e impossibilidade de responder com seus próprios recursos.

Frágil, feito cristal.

Escura, feito alma vendida.

Sem direção, feito bússola macabra.

Humanos são penas negras pairando pelo ar, instáveis em vento endiabrado, distantes do contentamento, sempre almejando algo que não podem ter.

Nunca pedi por muito, porém jamais contentei-me com o básico. Quando pequena queria dançar feito bailarina, na adolescência quis mudar o mundo, na faculdade mirei ao céu, no estágio almejei o topo, e quando no topo...decidi, então, ser feliz. Não importava-me o farto salário, a invejável posição, o cintilante brilho de uma carreira impecável. A única coisa que tirava-me o sono, o ar, e consumia-me de satisfação era a leve ideia, o breve devaneio de como seria meu futuro com Cosima e nossa malformada família.

É no calar dos grilos e cigarras que a tempestade chega para devastar tudo.

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O aroma do sábado invadiu o quarto bagunçado. O íntimo das roupas ao chão, o planar da poeira, o fio de luz vindo do sol e a beleza da preguiça contida naquele cômodo, evidenciavam falhas lembranças da retroativa diversão degustada na noite passada.

Em meus lábios, havia resquício do sabor originado pelo espesso liquido de Cosima. Durante efêmeros segundos, como um filme delicado, assisti em memórias, todos os movimentos feitos por minha namorada enquanto sacolejava em minha boca voraz. O cravar de suas unhas em minhas costas, o rebolado de seus quadris em minha face, os gemidos mendigando por prazer, a cachoeira turva e particular de sua lubrificação...cada detalhe, perfeito singular, trilha sonora aos ouvidos de quem sabe amar...

Revisitei tudo dentro de ligeiros segundos.

Sorri sem querer, e querendo a toquei. Ela ainda dormia feito João de Barro certo de monogamia. Meus olhos não hesitavam em observar o respirar da jovem moça ao lado meu. Os pelos em seus braços eram claros, porém longos. O caminho constituído por seu liso abdome, passando por coxas e curvas sinuosas, entre a estrada de pele macia, digna de procissão dos devotos ajoelhados.

Os lábios estavam secos com o clima desértico. Os cabelos, selvagens feito savana Africana. A epiderme exalava o odor peculiar de perfumes incapazes de serem enfrascados.

Cosima é linda, e sua venustidade é conveniente ao meu apocalítico apogeu.

"Tá me assistindo dormir?" Seus olhos não abriram.

"Sempre." Respondi pousando caricias em sua testa.

"Maluca." O rouco daquela voz é sinfonia delicada.

Dra. Niehaus despertou em um barulhento bocejo, lançando seus braços ao ar para expulsar toda sua preguiça matinal.

"Quais são os planos para hoje?" Perguntou após alcançar seus grossos óculos no criado mudo.

"Bom..."Suspirei, "Tenho consulta marcada com o Obstetra em algumas horas, podemos sair para comer, passear, e depois ir para a clínica."

"É hoje que ouviremos esse neném?" Seus dentes formavam uma obra de arte personificada em sorriso singelo.

She's Got Me DaydreamingKde žijí příběhy. Začni objevovat