A vida que não me pertencia

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Sempre muito alegre e cheia de energia, fui uma criança como qualquer outra, que brincava, estudava, vivia...
Minha mãe sempre trabalhando de domingo a domingo e nós ficávamos com nossa avó ou babás.
Eu e meus três irmãos nunca fomos tão próximo, apesar de morarmos na mesma casa.
Tenho também alguns tios, estes que tem a mesma idade que eu e meus irmãos...
Por aí já dar pra ter uma base de que minhas referências na infância foram só homens (rsrs), mas nada que influenciasse na minha personalidade (não diretamente!).
Sempre adorei esportes, pipas, bolinhas de gude, toda e qualquer brincadeira que julguem "ser de menino". Mas também brincava de bonecas, e adorava!
Nessas brincadeiras de criança, as vezes me pegava descobrindo um outro "eu", um ser curioso e pronto a experimentar, sentir, gostar.
Foi no escondido, no escurinho em casa e na rua que fui sendo despertada pro lado desejoso da vida, o toque, o beijo o abraço...
Meu primeiro "fica" foi com 9 anos, com um dos meus colegas de bairro. Aquele beijo medroso com umas mãos bobas que me deixaram estranhamente excitada (coisa que não entendia ainda). Sempre fui de "ir até a grande área", mas nunca tive coragem de deixar o outro fazer o gol, e recuava.
Depois de dar uns amassos com o colega do bairro, parti pra conhecer o outro lado desejoso da vida. Fui brincar de bonecas com minha melhor amiga. Aaah! Sempre as melhores amigas são as que sempre confidenciam toda e qualquer experiência com você...
Todas as tardes era religioso eu visitar minha amiga Ana, ela morava na casa do lado da minha. [e esse era um do motivos de eu sempre apanhar da minha mãe, por que eu vivia na casa da Ana rs] Em umas dessas visitas, resolvemos brincar de "mamãe e mamãe", com total inocência mesmo! Com toda casinha de boneca organizada, comidinhas feitas, confecção de roupinhas, lá estávamos nós, sendo crianças sem perceber que mais na frente, nessa brincadeira, perceberíamos que estaríamos sentindo desejo uma pela outra...
Foi em uma dessas tardes comuns de brincadeira com bonecas que resolvemos fingir dormir na mesma cama e, no vai e vem de conversas, ela me deu um selinho, e eu, claro, me assustei e me distanciei. Ela também se assustou com minha reação. Ficamos ali paradas, imóveis, olhando pro teto, até que senti sua mão tocar minha perna, e lá estava ela tentando mais uma vez, com seu desejo, me tocar mais a fundo. Mais uma vez não permiti, até que ela me beijou de vez e eu me entreguei aquele beijo. Não fomos além dos beijos, e assim se repetiu por muitas tardes aquela brincadeira...

Quando completei 12 anos, minha mãe decidiu ir embora pra outra cidade, foi muito difícil pra mim e Ana, choramos muito e juramos nunca esquecer uma da outra.
Na nova cidade, cresci, convivi, me relacionei com outras pessoas, fiz muitas amizades, porém não entendia o porquê deu sentir tanta atração por mulheres, mas não fazia ideia de que o que sentia era atração, só sentia e achava muito bom.
Namorei 3 garotos entre os 12 e 15 anos. Não sentia nada por eles além do desejo momentâneo de ser tocada por eles e, como sempre, sem deixar que eles avançassem a "grande área".
O mais curioso é que nessa minha experiência na nova cidade, me apeguei muito a uma professora de português (sim! sempre tive desejos por professoras!). O que sempre me atraiu em mulheres era a idade (as mais velhas) e a inteligência, ou seja, só encontrava isso em professoras (rsrs)!
O tempos foi passando nessa nova vida, num lugar totalmente diferente de onde nasci. Me socializei mais com as pessoas, participei de muitos eventos na cidade, até modelo fui! :D
Sempre que me sentia atraída por uma pessoa, procurava de todas as formas estar presente no dia a dia dela. Não foi diferente com minha professora... me envolvi tanto com ela, em seu cotidiano que, num determinado momento, já estava em sua casa, fazendo parte de sua família, literalmente, pois comecei a "namorar" seu filho.
Dormia na casa dela, comia, passava os fins de semana... tudo com a desculpa de que estava passando um tempo com "meu namorado". O chato dessa situação foi que me peguei apaixonada pelo filho dela e ele por mim. Eu recebia flores, cartas, presente dele. Percebi que ele estava mais apaixonado do que eu.
O tempo foi passando e eu decidi que não dava mais pra enganar ele com minha paixão incompleta. Terminamos. Ele ainda tentou voltar, mas eu não permiti viver novamente essa mentira.
Era tão difícil pra mim :(
Gostar de alguém que nem se quer sabia dos meus sentimentos. Estar perto dela, sentir seu cheiro, ver seu sorriso, suas conversas inteligente e algumas vezes cheias de graça... era tão apaixonante! Ela, de certa forma e sem perceber, me retribuía tal amor, mas do jeito dela, com amor de professora e aluna, uma admiração. Ela ainda me deu algumas cartas (que me desfiz quando fui embora da cidade pra não sofrer tanto), me deu presentes, flores... cada mimo que ganhava dela, imaginava que ela já tivesse percebido meu amor e estava compartilhando com aquilo, mas não, era um carinho de mãe mesmo... Eu estava amando sozinha s2.
Completei meus 15 anos e já me sentia a mais pura adulta, cheia de sonhos e desejos amorosos escondidos.
Mas, tudo o que ainda sonhava fazer naquele lugar foi interrompido de novo por minha mãe...
Fomos embora. Me vi perder mais uma vez tudo o que tinha conquistado naquele lugar. Os amigos, os eventos, o amor... sim! O que me fez sofrer mais foi ter que ir pra longe da minha professora.

Saindo do CasuloWhere stories live. Discover now