Em busca da "cura gay"

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Me sentia tão bem sendo amiga da Ilmara e da Cris. Era incrível como elas me faziam sentir uma paz. Em casa, eu me sentia muito sozinha. Minha mãe sempre trabalhando de domingo a domingo desde que eu era criança, nunca tivemos uma proximidade maior, mas nos amamos muito!
Pude encontrar na igreja evangélica um lugar de refúgio e um possível remédio pra o que eu sentia, pra o que eu era, mas não aceitava ser.

Minha mãe, sempre muito católica, não aceitou minha decisão em entrar pra igreja evangélica. Pra ela foi um choque muito grande quando eu contei. Tanto que ela brigou muito comigo e disse que "preferiria eu me prostituindo ou no mundo das drogas do que ser evangélica".
É, foi bem radical! Também achei naquele tempo! Mas eu tinha que passar por isso, pois eu já estava indo escondida pra igreja há quase dois anos. Saía de casa todos os domingos dizendo que iria à missa, mas desviava o caminho pra Assembleia de Deus. Isso mesmo, Assembleia de Deus! Umas das igrejas mais tradicionais e seguidoras à risca dos ensinamentos bíblicos.

Entrei e fiquei nesse lugar por 12 anos. Foram 12 anos de aprendizados, trabalho, cura e libertação. Ops! Não! Cura? libertação? não!
Adorava ir pra igreja. Ficava em casa ansiosa por cada culto da semana. Ia àquele lugar com uma determinação de que tudo iria mudar e eu seria uma pessoa "normal".
O tempo mais uma vez foi passando e eu firme e forte na igreja, mas tinha um porém nessa minha perseverança, um porém que eu não queria aceitar, que eu estava fazendo tudo de novo, então enganei a mim mesma e me deixei levar pra minha próxima historia de admiração por uma mulher.

Conheci uma cantora da igreja, a Maria, uma mulher inteligente, super feliz e cheia de Deus e muito bonita. Daí vocês já sabem... Lá vou eu de novo. Se antes de conhecer Maria eu já ia pra igreja, depois que a conheci, passei a participar de tudo que ela participava. Fui fazendo como na outras vezes, me aproximando cada vez mais de Maria.
Ela começou a me convidar para ir em outras igrejas com ela, e eu amava, ficava super feliz! Com algum tempo já estava visitando sua casa, já era muito amiga de seus dois filhos, só não ia muito com a cara do seu esposo, mas mesmo assim, o aturava.

Dias e mais dias eu estava mais e mais perto de Maria. Nesse tempo eu já estava no meu primeiro ano da faculdade de Jornalismo. Sim! Sou apaixonada por essa profissão que, por coincidência (coincidência mesmo!), Maria era jornalista, radialista e assessora de imprensa. Coisa que só fez eu me encantar mais ainda por ela...
Quando me dei conta, já estava frequentando com muita assiduidade a casa de Maria, indo a eventos com ela e ainda ia no seu local de trabalho quase que todo dia depois que saia da faculdade.

Houve um período em 2008, estava no segundo semestre do meu curso, que o esposo de Maria precisou viajar por 3 meses, pois ele trabalha a distância e, as vezes, precisa viajar, e eu fui convidada a ficar na casa deles enquanto ele estava fora pra ajudar Maria com os meninos que ainda eram pequenos e não podiam ficar sozinhos, já que ela trabalhava o dia todo de segunda a sábado. Nesse tempo o Pedro, que era o mais novo, tinha uns 5 anos, acabou se apegando muito a mim, carinho que carrego até hoje por ele. Já o mais velho, o João, gostava de mim também, porém era mais na dele.

Foram 3 meses muito bons naquela família! Pude conhecer cada um bem melhor, e, principalmente, Maria...
Nos tornamos ainda mais amigas, de compartilhar muita coisa.
Eu estava radiante nesse período! Nem acreditava que estava vivendo aquele momento tão perto dela.
Mas um dia, pensando sobre tudo aquilo, sobre o que e estava sentindo por Maria, percebi que não era como as outras mulheres, com ela era diferente, havia um respeito que se sobressaia a tudo. Na verdade eu estava mais idolatrando Maria por tudo o que ela era e tinha, do que estar sentindo algum sentimento amoroso por ela ou algum desejo físico. Então era isso, idolatria! Mas mesmo assim eu continuei a viver naquilo, até que um dia, acredito que por estar sufocada com minha integral presença em sua vida, Maria pediu que eu parasse de idolatrá-la. Que aquilo não era de Deus e que ela gostava muito de mim, como uma irmã que o Senhor havia lhe presenteado. Depois desse dia, fiquei sem vê-la por quase um mês, mesmo ela me procurando e querendo "consertar" as coisas.
Eu estava envergonha por ela ter se manifestado, por pensar que ela já tivesse percebido minha idolatria há muito tempo e ter dado um basta por estar em seu limite...

Ela conseguiu me encontrar. Foi em minha casa e conversou comigo e pediu que eu não me afastasse dela, de sua família, que ela queria me ajudar. Eu aceitei. Depois disso, eu mudei mesmo em relação a ela, nos tornamos amigas de verdade e já havia mais sinceridades em nós. Deixei de lado toda aquela idolatria que sentia e passei a me dedicar ao que Deus queria de mim, ao trabalho na igreja. Também não podia esquecer que fui àquele lugar em busca de cura.
Realmente eu estava me enganando certinho. Acreditei que estava me tornando uma pessoa normal. Queria casar com um homem de Deus, ter uma família... estava mergulhando num mundo de mentiras que eu mesma criei com base em conceitos bíblicos.

Era difícil! Muito mesmo! Eu desviando olhar ao ver lindas "irmãs". Ter que ir pra casa das amigas e não querer trocar roupa na frente de ninguém ou ver elas sem roupas pra não me pegarem admirando seus corpos nus. Lutei contra algo que era bem mais forte que eu.
No décimo segundo ano na igreja, minha mãe resolveu ir embora mais uma vez, mas dessa vez sozinha. Veio morar em São Paulo, tentar uma nova vida. Nesse tempo sem ela, comecei a ficar mais na internet e me desligar das pessoas com quem conviva por causa da minha tristeza e saudade da minha mãe. Não de frequentar a igreja, porém passei a participar de grupos do WhatsApp de pessoas "mundanas" que me levaram a acessar sites de bate-papo com o "Uol". Nessas minhas visitações, por curiosidades, acessei uma vez uma sala de pessoas lésbicas. Só fiquei de olho, não conversava, tinha muito medo do que estava fazendo por conta do pecado. Mas essa prática foi se tornando rotineira, um vício. Todos os dias lá estava eu nas salas de bate-papo do Uol, tentando suprir a falta da presença da minha mãe.

Acabei conhecendo uma menina, entrando num grupo lésbico do Whats e daí passei de vez a me relacionar virtualmente com mulheres.
Meu primeiro namoro com uma mulher durou menos de 1 mês, ela era muito sufocante, queria saber tudo o que eu estava fazendo e com quem estava o tempo todo. Aí eu terminei! Mas ela jurou vir ao meu encontro, eu acreditei. Fiquei com muito medo! Não conhecia essa pessoas e não sabia do que ela era capaz. O tempo passou e ela continuou me perseguindo por mais de 2 meses depois que eu terminei com ela. Mas depois de eu não dar retorno, ela acabou desistindo de mim. Assim eu penso e dou graças a Deus, por que ela não me procurou mais.

Me envolvi em mais dois relacionamentos que me entreguei profundamente as pessoas deles. Mas um deles, além de sofrer muito, fui enganada e só servi de passa tempo pra pessoa. Quebrei a cara, porém consegui me reerguer. O outro foi doce, respeitoso, bom, porém estava além das nossas barreiras. Não iria dar certo também. Mas se a amizade tivesse continuado, seria muito bom, pois a pessoa é muito especial. Mas ela não soube lidar com minhas escolhas e nem com o sentimento que ela dizia sentir por mim. Não tínhamos nada firmado entre nós duas, mas sentíamos que tinha algo que ligava a gente, o que fazia com que só pensássemos que existia somente a gente no mundo. Mas, como eu disse, ela não soube lidar com esse estranho sentimento e acabou ficando com a ex e ainda veio me contar, pois acreditava que devia explicações a mim, por mais que não tivéssemos firmado nada. E eu também pensava assim. Fiquei muito magoada com o que ela fez, discutimos e eu dei como terminado aquilo que nem tínhamos começado ao certo. Eu estava aberta a uma amizade, mas ela queria tudo ou nada. Então ela decidiu pelo nada e nos separamos, não tivemos mais contato até ela saber que eu estava em um outro relacionamento e ainda me julgou por estar com outra pessoa depois do que vivemos virtualmente. E ela não satisfeita, disse que iria até minha cidade me ver, e foi! Mas eu não fui encontrar ela. De certa forma, por mais que nos conhecêssemos há algum tempo, não vazia ideia de quem ela era pessoalmente. Poderia ter ido vê-la, mas em respeito ao namoro em que eu estava, não fui.

Saindo do CasuloOnde histórias criam vida. Descubra agora