Capítulo 8 - Porquê se foi?

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Haviam-se passado 6 meses desde que eu tinha perdido total contato com o Marcelo. Já era outro ano, e eu ainda não tinha me recuperado totalmente, sobre a ida do Marcelo, mas mesmo assim eu decidi retornar à escola. Já consciente de que havia repetido de ano.

E foi durante o tempo em que eu me fechei para o mundo, que - como vocês já sabem -, eu "conheci" o Lucas.

A nossa amizade durou bastante tempo, e como éramos muito parecidos em questões de gostos, a nossa amizade estava cada vez fortificada. Bem, era isso que eu achava... Mas com o tempo eu percebi que não era mais amizade, e sim um outro sentimento, bem mais forte que a amizade. Paixão? Talvez.

Eu amava ser o diário virtual dele, e amava o fato dele ser meu diário virtual. As conversas durante a madrugada eram constantes, aproveitávamos bastante enquanto as aulas não se iniciavam. Ele me contava seus problemas constantes, como a sua mãe que se drogava, e seu pai que o abandonou ainda quando criança.

E apesar dele ainda não ser "assumido" (odeio usar esse termo), ele já sofria com todo o preconceito que presenciava sua família dizendo. Ele me contava que ouvia piadinhas machistas, daquelas sem graça, e se sentia bastante triste por não poder se defender.

A sua depressão veio em virtude desses pequenos grandes atos, desde não ser assumido, até a sua família problemática. Ele pensava que o único modo de acabar com tudo isso, era o suicídio. Eu sempre o dizia que havia sim outro caminho, uma outra solução... Então ele me perguntava qual o caminho ou qual a outra solução. E eu frustrado, não sabia o que dizer. Confesso que nunca temi a nada, mas eu realmente temia que o Lucas cometesse aquilo contra a sua vida.

As aulas logo iniciaram-se, e consequentemente não tínhamos mais como nos falar toda a madrugada, como antes. Os tempos de conversa eram mínimos, e mal dava para falar sobre o dia. Talvez só um pouco. Falávamos apenas as partes mais marcantes do dia. Ele me contou que, logo em seu primeiro dia de aula, ele já sofreu um pouco de bullying por ser um pouco tímido e magro. Ele não me deu detalhes, mas foi apenas isso que ele disse.

E tudo ia relativamente bem. Todas as noites falávamos um pouco, e nos despedíamos da nossa forma, ele sempre dizia, "Boa noite. Dorme bem, e lembre-se, do outro lado da tela, tem alguém que se importa muito com você.", e eu não era tão diferente dele, pois falava basicamente a mesma coisa, mas em palavras diferentes.

Tudo estava normal, até que em uma noite de sexta-feira, tudo mudou (ao menos para mim), pois na hora da despedida, ele repetiu a mesma frase, e acrescentou mais uma coisa ao fim da mesma, ele escreveu um "Te amo". Simples palavras, mas com um grande significado, e nós sabíamos o peso que elas tinham, pois já havíamos falado sobre isso antes. Bem, aquelas cinco letras fizeram uma grande diferença na minha vida. E o que antes eu apenas tinha dúvidas, agora eu tinha a certeza, eu estava apaixonado naquele garoto meigo, doce e tímido. Eu estava apaixonado pelo Lucas.

Mas apesar dele ter dito aquelas palavras, eu nunca o questionei sobre o que ele sentia por mim.

Os dias se passaram, e foi em uma noite de segunda-feira, que ele falou que precisava falar uma coisa muito importante para mim, mas não estava pronto ainda, então decidiu deixar para contar no sábado. Eu então, não o pressionei, e respeitei a sua decisão. Mas confesso que durante toda a semana, eu me mordia de curiosidade, e torcia para que o sábado chegasse logo. E quando finalmente chegou o sábado, acordei com uma ligação sua, aquela foi a primeira vez em que ele me ligou, e a primeira vez que eu ouvi a sua voz. E nossa, a voz dele era linda, parecia que ele eu estava ouvindo a mais bela voz, era uma voz meia rouca, mas com o tom um pouco grave. Confesso que quando eu ouvi o seu "Bom dia, amor" pela chamada, eu fiquei sem reação, pois para mim eram duas surpresas, uma por ouvir a sua voz, e outra por ele ter me chamado de 'amor'. Eu o respondi ainda com a voz de sono - "Bom dia, Lucas. Como dormiu?" - ele em outras palavras, disse que sim, e que estava um pouco ansioso e ao mesmo tempo com medo, do que iria me contar. Eu então, disse que independente do que fosse, eu procuraria entender, e o apoiaria. Após ter dito isso, ele tomou coragem e falou -" Jeff, eu sei que hoje somos apenas amigos, e poderia ser assim para sempre, mas você é tão parecido comigo nos gostos, você me compreende como ninguém, o seu carisma me faz querer sempre a sua presença comigo, mesmo que seja de uma forma indireta. E tem mais, você é a única pessoa que nunca me julgou por nada, pelo contrário, você me ajudou bastante quando eu estava prestes a acabar com tudo. E hoje eu posso falar na maior segurança, eu te amo... Jeff, podemos ser mais que amigos? Podemos ser namorados?" -. Antes dele terminar de falar essas coisas, eu já estava em lágrimas, e eu obviamente, disse que queria sim, e também disse que aquele dia, era um dos dias mais felizes da minha vida.

Depois que ele contou tudo isso, ele me disse que precisava ir, pois já estava atrasado para a aula. Nos despedimos pela primeira vez, como namorados. E a sensação era incrível.

Passamos a nos falar com mais frequência, e o desejo de um encontro era constante entre nós dois. Sonhávamos com isso...

Como todos os casais, nós compartilhávamos segredos um para outro, e foi em um desses momentos que eu contei sobre o Marcelo para ele, e ele me contou sobre o garoto de nome diferente, então eu falei que foi através do garoto de nome diferente, que eu consigui o contato dele. Ele sorriu e falou: - "Bom, ao menos ele serviu para alguma coisa" -. Confesso que não gostei muito do que ele falou, pois apesar do garoto de nome diferente, ser ex dele, ele também era meu amigo, e o nosso laço de amizade era bem forte. Mas claro, nunca passou de amizade.

Passaram-se cinco meses desde que começamos a namorar, e o nosso amor só crescia a cada dia, era incrivelmente bom como ele me fazia feliz. Mas do nada tudo mudou, e agora ele parecia bem mais triste em relação a sua vida, a sua depressão vinha aumentando gradativamente, e consequentemente, as suas crises existenciais também. E claro, eu tentava ajudá-lo a tirar os pensamentos suicidas da cabeça, porém, parecia que não funcionava mais. Era desesperador está no meu lugar, vendo que seu namorado poderia cometer suicídio a qualquer momento, e quase não poder fazer nada. E com certeza, era mais desesperador está no lugar dele...

Com o tempo tudo parecia ter melhorado, estávamos felizes novamente. E permaneceu assim até uma manhã de Quarta-feira, quando eu mandei a primeira mensagem do dia, e ele não visualizava. - "Tudo bem, ele ainda deve estar dormindo". Eu pensava. Mas as horas se passavam e nada acontecia, e eu então fui entrando em desespero, já que aquilo nunca havia acontecido antes, e tudo só foi se agravando, pois já não se passavam mais as horas, e sim dias. Três dias haviam se passado e nada do Lucas aparecer, eu então só fazia chorar, imaginando o pior. E mais uma vez, alguém se foi da minha vida...

Passaram-se semanas desde o sumiço dele, e nenhum sinal de volta aparecia. Eu tentei mandar inúmeras mensagens, liguei muitas vezes, mas ninguém atendia. Agora o meu mundinho havia perdido as cores novamente, e o arco-íris tinha se tornado cinza...

As esperanças de um dia ele voltar, eram mínimas em mim.

Passou-se o restante do ano, e ele não voltou...

Passei a me perguntar o porquê das pessoas sempre se afastarem de mim, sempre saírem da minha vida. Será que o problema estava em mim?

Comecei a me fechar bem mais para o mundo. Eu já não queria mais sofrer. E tudo que eu mais queria, era voltar para a minha infância, e nunca mais sair de lá. Eu era feliz e não sabia. Porquê quando somos crianças queremos crescer, e quando crescemos, queremos voltar atrás?

Um novo ano chegou, e esgotaram-se as minhas esperanças de um dia ele ou outro alguém, voltar. Até que...

Talvez Eu Não Mereça o Céu [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora