Capítulo dezenove

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No dia seguinte estou andando para todos os lados e olhando no relógio várias vezes seguidas no mesmo minuto. Olho para o lado e vejo Carla sentada no sofá me olhando de maneira cômica.

– O que foi? – Pergunto por fim.

– Você está uma pilha de nervos. – Ela sorri. – Nunca te vi assim. Tá certo que você sempre fica com vergonha de tudo, mas nervoso? Não mesmo. – Ela sorri, pega o celular e continua digitando.

– Eu não estou um pilha de nervos. – Minto. Sento-me no sofá da sala ao seu lado. – É que hoje Henri vai me dizer tudo o que ele esconde de mim.

– Como assim "esconde de mim"? Que história é essa? – Ela ajeita o corpo e joga o celular para o lado.

– É que ele sempre some por uma semana inteira e fica sem falar comigo. Eu sempre achei que era por causa do trabalho, mas tenho certeza que tem algo mais aí.

– Sério? Que estranho... – Ela segura o queixo e fica pensativa.

– E para piorar, da última vez ele havia reatado com a jararaca.

Ela quase cai para trás de rir.

– Jararaca? – Ela dá mais uma longa gargalhada, segurando a barriga. – Você é demais, P.O.zinho!

Começo a rir da risada da Carla.

– Eu arraso só isso. – Dou de ombros.

Carla tem mais um ataque de risos que dura minutos e eu acabo entrando na onda dela e rindo mais dela do que do motivo da risada.

– Adoro quando você pega as minhas manias. – Diz limpando suas lágrimas de riso.

– Você fica me influenciando com as suas meninices.

– Eu sei. Adoro pessoas sexys sendo influenciadas. – Ela me olha de cima em baixo.

– Para com isso! – Repreendo-a, tentando fechar a cara.

– Só estou te zoando, amorzinho! Sabe que eu adoro ver você ficar vermelho.

– Aparentemente todo mundo gosta. – Digo mais para mim do que para ela.

– Como assim? – Ela diz se levantando e me encarando com os olhos abertos.

– Deixa para lá. – Só estava pensando alto.

– Ah, nem vem com esse negócio de "deixa para lá" não. Sabe com eu sou curiosa...

Abro a boca para responder quando o meu celular toca. Atendo no primeiro toque.

– Alô?

– Oi, cheguei, – sua voz é animada – estou aqui embaixo.

– Quer subir? – Tento ser educado para disfarçar o nervosismo.

– Não, deixa para uma próxima vez, já está ficando tarde, queria pegar um solzinho de final de tarde. Vamos?

– Tudo bem, já estou descendo.

Desligo o telefone e abaixo para dar um beijo na Carla. Ela me devolve um beijo rápido no rosto e vou em direção da porta.

– Eu quero saber que história é essa viu!? – Ela grita ameaçadora lá do sofá.

Saio pela porta ainda sorrindo pelo momento com Carla. Aperto o botão do elevador e aguardo até que ele chegue. Começo a pensar no que quero com esse encontro. Dessa vez Henri vai ter que me contar o que há de errado com ele, o que ele tanto me esconde? Por que ele voltou com sua noiva e já a deixou tão rápido? Onde é que ele vai parar quando some por uma semana inteira. Por que seu tio me conhece? E finalmente, qual é o problema daquele velho sem educação comigo? Eu sei que muito disso gira em torno da relação politicamente incorreta que nós temos um com o outro. Da minha parte não tem problema porque já aceitei o que eu sou e o que eu quero da vida, mas da parte dele é que eu me preocupo. Como poderíamos ter algo mais sério se ele não aceita o que ele é? Não quero viver me escondendo pelo resto da vida, quero ser normal igual a todo mundo, pelo menos na medida do possível. Gostaria de ter uma família, casar e, se possível, ter filhos – não naturalmente, óbvio, mas já vi casais homossexuais que adotaram e viveram normalmente como uma família.

Copiloto (Amor sem limites #2)Where stories live. Discover now