Capítulo quarenta e sete

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O monitor acaba se apagando na minha frente por eu não ter interagido com o computador há alguns minutos. Tem duas coisas me incomodando demais. A primeira é que o meu chefe foi demitido, o que me deixou nervoso e desmotivado. Gostava muito dele, era compreensivo e sabia tudo, além de ajudar a tudo e a todos a conseguir subir de posições. Ele oferecia cursos e workshops para toda a equipe e estava sempre preocupado com a vida pessoal do time. Aliás, foi ele quem me liberou para viajar às pressas e visitar minha mãe. Agora a nossa equipe parece desestruturada sem a sua presença e os nervos de todos estão à flor da pele, inclusive os meus.


Mas o que mais está me deixando perturbado é o fato de Henri não ter respondido minhas mensagens e não ter atendido quando liguei esta manhã. Pode ser alguma paranoia minha, afinal de contas, Henri tem o seu emprego com seu tio e só se passaram algumas horas desde que enviei as primeiras mensagens de manhã. Por outro lado, não consigo deixar de pensar naquela última semana antes de me mudar para o Rio, quando ele desapareceu. Nós estávamos indo bem e num instante, como em um piscar de olhos, ele desaparece. E depois – para piorar – ele aparece com a sua noiva na formatura.

Depois deste último final de semana o clima entre a gente estava tão bem – quase tão bem quanto daquela vez. Nós passamos o restinho do final de semana juntos e no domingo à noite ele resolveu ir para casa. Achei meio estranho, mas entendi que nós também precisamos ter o nosso próprio espaço, e para falar a verdade, eu estava sentindo a falta de dormir sozinho. Dormir com Henri é difícil, ele me distrai muito. Quando começo a relaxar para dormir ele me agarra por trás e me dá beijos, o que faz meu corpo despertar imediatamente, e lá se vai o meu sono. Suspiro. Não é nada Pedro, deixa de ser paranoico – digo para mim mesmo.

Arrasto minha cadeira e me levanto para esticar as pernas. Acho que preciso de um café. Quando vou sair da minha pequena sala, meu celular toca. Fico com um frio na barriga quando vejo quem é:

– Alô?

– Sabe quem está falando? – Sua voz é grossa.

– Claro que eu sei, Ralph. Não se passou tanto tempo assim desde que conversamos. – Faço uma tentativa de descontração.

– Sério, Pedro. Já faz muito tempo desde que você apareceu na academia pela última vez. Vai me dizer o que está acontecendo? – Sua voz continua séria.

– Não é nada, Ralph. Só estou ocupado com algumas coisas e...

– Ah, para né Pedro! Você estava todo focado no seu projeto verão. Fala a verdade, tem alguma coisa a ver o que aconteceu aquele dia lá em casa?

– Claro que não, Ralph! Afinal de contas, nem aconteceu nada.

– É... não aconteceu, mas senti que eu fiz merda.

– Não se preocupe, não tem nada a ver com você. É só umas coisas... – Tento não tocar no assunto.

– Fala para mim o que é... sabe que pode confiar em mim. – Sua voz soa terna.

Penso por um momento no que falar. Não queria envolver Ralph na minha briga com Carla, mas isso está me incomodando tanto. Não estou indo na academia cem por cento por causa disso. Me sinto mal pelo que eu fiz e ao mesmo tempo não acho justo frequentar uma academia onde ela arrumou uma vaga gratuita para mim, mesmo que eu conheça o dono. Fico indeciso se falo ou não. Acabo deixando sair.

– É que eu fiz merda, Ralph.

– Que tipo de merda? – Sua voz volta a ficar séria.

– Carla e eu brigamos, ela estava ficando lá em casa, mas foi embora no outro dia. Não consegui me desculpar com ela, não sei nem mesmo se tem alguma desculpa. – Respiro fundo. – Mas eu estou sentindo tanta a falta dela que não consigo ir para a academia sabendo que não vamos voltar juntos para casa.

– Entendi. – Ele faz uma pausa. – O que eu poderia fazer para te ajudar?

– Acho que nada. Estou dando um tempo para ela, antes de fazer qualquer coisa.

– Vocês precisam resolver isso, P.O. Não faz sentido vocês dois ficarem brigados, vocês são unha e carne. E outra coisa, não acho que você tenha feito algo tão grave assim que valha a amizade de vocês.

– É... não sei Ralph. O fato é que eu sou um idiota e preciso pagar pelos meus erros.

– Bom, não vou te perguntar o que você fez, ainda mais pelo telefone. Mas se quiser conversar, estou sempre disponível para você.

– Obrigado Ralph. Você é um amigão! Não sei o que eu faria sem você.

– Mas volte para a academia, pelo menos para me ver, ok?

– Pode deixar, irei em breve. Prometo.

– Até mais então.

– Até mais, Ralph.

Desligo o telefone me sentindo um pouco menos nervoso. A preocupação de Ralph por mim é uma coisa muito legal. Gosto de tê-lo como amigo, aliás, não consigo enxergá-lo por outro ângulo que não esse e às vezes tenho medo de que ele sinta algo a mais por mim. Não quero machucá-lo, quero sempre tê-lo por perto e espero nunca o decepcionar, como fiz com a Carla.

Depois do expediente, pego minhas coisas e me preparo para deixar escritório. Tento mais uma vez ligar para Henri, mas ele não atende. Seu celular está desligado. Em parte, fico preocupado de que algo ruim tenha acontecido. É uma situação muito complicada para mim porque mesmo preocupado, a primeira coisa que me vem à cabeça é que Henri me deixou mais uma vez com o coração na mão.  

Copiloto (Amor sem limites #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora