Oito

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Olivia

"Existe uma energia quando eu toco você. E ela me suga, lenta e tentadoramente, sem que eu possa resistir."

Noah correu no trânsito e olhava constantemente para trás, como se verificasse se estava sendo seguido.

Ok, ele está agindo estranho, e não percebi isso porque curso psicologia, ou porque passo tempo demais maratonando Sherlock Holmes. Ele simplesmente quase barroou três vezes.

Ele não falou nada quando estacionou na calçada do meu prédio, nem quando subimos as escadas, ou entramos no apartamento e ele ficou me observando fechar a porta. Eu podia sentir a tensão rodeando seu corpo, e estava com medo disso.

— Você quer alguma coisa? Água, suco, café, um calmante...?

Noah se sentou no sofá e negou com a cabeça, mas eu o vi engolir em seco e fui pegar um copo de água. Ele permanecia sentado na mesma posição, ainda de boné e moletom.

— Aconteceu alguma coisa? Não é por nada, mas você está agindo estranho, e tem esses hematomas sinistros no rosto... — Falei com cautela e lhe entreguei o copo de água.

Como previsto, ele bebeu tudo de uma vez.

— É complicado — respondeu, depois de um longo suspiro.

Com aquele dar de ombros e um sorriso nervoso as coisas realmente ficavam complicadas. Para mim, principalmente.

Mas eu entendia de medos, e entendia da dificuldade sobre falar deles.

— Você não precisa me contar se não quiser, Noah... Mas se quiser, eu vou te ajudar. — Me sentei ao seu lado. — Acho que pode até me chamar de amiga.

Ele tirou o boné lentamente, e eu percebi que a situação era ainda pior. Além da enorme mancha roxa, seu olho estava inchado e seu cabelo escuro estava manchado de sangue, que eu desconfiei ter vindo do corte raso na testa.

— Wow, isso é um problemão — arregalei os olhos, assustada.

— É, eu sei. Desculpa, eu não deveria ter vindo...

Ele estava pronto para levantar, mas eu segurei sua mão com força e o forcei a me olhar.

— Do que você precisa, Noah? — Jamais deixaria qualquer um sair da minha casa sem receber nenhuma ajuda.

Eu o vi hesitar. Estava no fundo daquelas piscinas azuis que ele desejava me contar, mas acabou negando com a cabeça.

— Um lugar para ficar. Não posso entrar na fraternidade assim. — Ele sorriu de canto olhando para o chão. — E na casa dos meus pais, nem pensar.

— Você não tem nenhum amigo? — Tão famoso assim, seria de se esperar que todos abrissem as portas para acolher Noah James. Mas ainda assim, com tantas opções, ele veio até mim. Por que?

— Não — disse, respirando fundo. — Ninguém que eu possa confiar de verdade.

Eu iria recusar, mas ele me olhou no fundo dos olhos, como se quisesse reforçar o pedido, e provocou mais do que o pretendido.

— Você pode ficar. Claro que pode ficar. — Seus ombros relaxaram. — Eu devo me preocupar com algum maluco invadindo minha casa? Porque não vai ser problema, é só ligar para o meu pai.

Ele ficou em alerta.

— Sem polícia nessa história.

— Tá bom, sem polícia nessa história — cedi.

Que humilde. Apanhou feio, mas mesmo assim não queria ferrar os agressores.

Olhei para suas mãos e elas torciam a aba do boné com força. A ponta da manga do moletom cinza também estava suja de sangue.

Desastre Sensual (REPOSTANDO)Where stories live. Discover now