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Jantares de família nunca foram legais. Você encontra aqueles tios chatos que só sabem falar de coisas chatas em suas vidas chatas; os parentes velhos que você não entrosa; as crianças que tem vontade de matar; e as tias pedindo das suas namoradas, sempre. Bom, essa parte eu pude pular já que eu praticamente não via uma garota à cinco anos, e não é como se eu gostasse de garotas. Pelo que parece meu assunto era mesmo meninos.

Mas além de todo aquele esteriótipo ridículo de família tradicional Coreana, eu ainda tinha meus primos. Felizmente eles eram legais e não me fizeram mil perguntas idiotas como os adultos.

— Você é um adulto agora, bem vindo ao inferno. — Hyun disse com uma cerveja em mãos, rindo debochado.

— Obrigado? — ri junto a ele e suspirei, brindando nossas cervejas e olhando para o enorme quadro com a foto de todos os primos da família. — quando tiramos essa foto?

Hyun olhou para o quadro e levou alguns segundos até me responder. — Acho que uns seis anos atrás. Você ainda tinha aquelas bochechas gordas. — ele disse sorrindo e abraçou meus ombros com seu braço.

Ele era de longe o melhor primo que eu poderia ter, ele sempre me entendeu e me agradava. Talvez fosse porque ele me comprava bebidas e me levava em festas da galera mais velha, mas ele também me ouvia, diferente dos outros parentes. Deve ser por isso que a Tia YangMi sempre achou que eu estivesse o influenciando a gostar de meninos.

— Olha o que temos aqui. — uma voz feminina soou atrás de nós.

Logo um enorme sorriso se fez presente em todos os rostos ali. Ela não tinha mudado nada, continuava com os saltos altos para ficar mais alta que eu e ainda fazia piada com isso.

— Ora ora, Youngjae resolveu acordar e me fazer uma visita. — disse se sentando ao meu lado.

— Tecnicamente ele visitou à nós. — Hyun a corrigiu.

— Ah, cala a boca Hyun, deixa eu me sentir especial. Senti falta do nosso bolinho. — disse me apertando.

Hyerin, minha prima que mais parecia minha mãe. A presença dela me deixou feliz, até quase me fez esquecer os problemas.

...

— Ok, ta me dizendo que você recebia cartas de um estranho que vive a quilômetros daqui falando que era seu namorado e não contou pra mim? Que tipo de primo você é? — ela quase gritava enquanto caminhava de uma lado para o outro no quarto de Hyun.

Eu e ele nos entreolhávamos várias vezes para rir, Hyerin ficava mesmo irritada quando eu escondia coisas dela pelo visto, e desta vez foi uma coisa enorme. Eu não sabia porque estava contando isso naquele dia, ali sozinhos no último quarto do segundo andar, mas contei.

— Eu sabia. — disse Hyun, nos fazendo o olhar imediatamente — ele contou uma vez que ficamos bêbados, mas disse que era segredo e que eu não devia mencionar para ninguém.

O olhei um pouco preocupado, e com a expressão de quem esperava mais informações, quase gritando milhões de perguntas para ele. Apenas gesticulei o obrigando a falar mais.

— Eu não sei de mais nada, você tava muito chapado. Até cheguei a pensar que o acidente pudesse ser culpa disso tudo, mas como não sabia de nada preferi esperar você acordar.

— E SE ELE NUNCA TIVESSE ACORDADO, HYUN? — Hyerin gritou, se aproximando e dando um tapa no garoto, me fazendo revirar os olhos — pode ser culpa desse- desse cara! E se ele causou a tragédia do Youngjae?

— Ei! — me levantei — eu sou... eu era apaixonado por ele. E ele por mim. Eu não lembro quem ele era mas eu tenho certeza que ele nunca me machucaria.

Então eles ficaram em silêncio, finalmente. Hyun sabia me ouvir, e Hyerin sabia me respeitar, eles sabiam me ajudar.

Foi por isso que eu pedi uma carona no dia seguinte, eu iria encontrar o professor Yugyeom.

...

— Como você se sente?

Eu já tinha ouvido tantas vezes essa pergunta que as palavras nem faziam mais sentido na minha cabeça. Viraram apenas palavras; apenas uma pergunta qualquer. E eu não fazia questão de responder.

Agora eu estava em frente ao que podia ser a resposta de todas as minhas perguntas, ou a chave para mais um baú cheio delas. Respirei fundo antes de ler em voz alta "Yugyeom, Vice Presidente".

— Tem certeza que quer entrar? — Hyun pediu baixinho.

Ele tinha a maior habilidade em fingir não estar ali, usando seus fones e segurando as chaves do carro dentro do bolso enquanto estávamos naquela sala de espera. Eu apenas assenti, e neguei sua proposta de entrar comigo. Então quando a mulher que estava na recepção disse que eu poderia entrar, eu fechei meus olhos respirando fundo uma última vez.

Abri a porta e a primeira coisa que eu vi foi um homem sentado e digitando algo em um computador moderno e branco. Engoli seco e tentei falar alguma coisa, mas é como se minha boca estivesse fechada pois nada saía dela. O homem me olhou, e eu juro por tudo que eu acredito que ele ficou totalmente branco no mesmo segundo.

— Youngjae? — questionou.

— Professor. — foi tudo o que eu consegui dizer.

10881 // 2JaeWhere stories live. Discover now