➺ dois quartos

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build a house around him
park jimin - lost boys
Neverland, 114 after Peter Pan

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Em toda a extensão da Terra do Nunca, havia apenas um relógio que funcionava. Ele ficava pregado na parede da caverna onde todos viviam, tiquetaqueando preguiçosa e inconstantemente. Park Jimin se sentia estranhamente confortável quando estava perto dele, o que o levou a dormir na cozinha, longe de todos e próximo do relógio.

Era um relógio estranho, tinha seis ponteiros e andava para trás, às vezes. A única pessoa que sabia lê-lo corretamente era Taehyung, pois ele entendia o funcionamento do tempo daquela ilha. As fadas controlavam o tempo conforme lhes era oportuno, fazendo dias durarem minutos e semanas, meses.

Jimin se lembra de um pôr-do-sol — um dos primeiros que presenciou. — que durou sete horas. Na ocasião, ele se sentou na praia e ficou observando o sol meio escondido pelo mar, brilhando intensamente em dourado e laranja e lançando faíscas no azul profundo. Taehyung o acompanhou, flutuando sentado daquele jeito que Jimin demorou para se acostumar, e contando as histórias fantásticas que aconteceram naquela estranha ilha.

A Terra do Nunca era um lugar esplêndido e impossivelmente grande. Por mais fácil que fosse viajar de uma estação para a outra, elas eram simplesmente enormes e diversificadas — haviam criaturas que viviam apenas no Verão, por exemplo, mas para cada uma dessas, existia uma espécie que vivia apenas no Inverno, no Outono e na Primavera. A biodiversidade era tão grande que Jimin nem esperava conseguir decorar todas as espécies, quiçá os hábitos de cada uma.

Mas haviam algumas que ele gostava de observar, como os trolls do Inverno, que migravam para a Primavera na hora de procriar, e se enchiam de flores gordas e rosas que cheiravam a morangos, ou os diabretes, que dormiam durante o dia, enrolados nas folhas das árvores do Verão, e faziam travessuras durante a noite. Taehyung disse que havia uma história muito triste por trás dos diabretes, mas nunca entrou em detalhes. Jimin os achava criaturinhas fascinantes.

E haviam, também, os moradores da ilha — os Nefelibatas. Eram um grupo estranho e pequeno, com cabelos coloridos que nasceram daquele jeito e olhos manchados de ouro. Suas idades variavam de oito a dezenove e, diferente de Taehyung, eles não gostavam tanto assim de flutuar.

O primeiro Nefelibata que Jimin conheceu foi Yoongi. Tinha cerca de dezessete anos, cabelos verde clarinhos e uma expressão que não combinava com os traços doces de seu rosto. Parecia triste e perturbado, além de nem um pouco interessado no garoto estranho que surgiu do nada em sua casa. Depois dele chegaram os mais novos — Jungkook, que tinha nove anos e levava por aí um coelhinho surrado e sujo, que contrariava toda a limpeza do resto das coisas daquele lugar. Sanha, de oito, que não desgrudava de Jinwoo, de dezoito. Momo e Mina, as gêmeas de quinze que se recusavam a soltar a mão uma da outra. Sandara, de dezenove, que parecia mortificada com a iminência do seu último ano na Terra do Nunca. Havia também Hoseok, que chegou já de noite e não saiu do lado de Yoongi nem para dar uma olhada em Jimin, além de Lalisa e Rosé, que cuidavam de mais três crianças de nove anos que sequer se deram o trabalho de se apresentar.

Taehyung apontou para pessoas e disse nomes, explicou que todos estavam cansados e tristes pela partida de Seokjin, mas que o cumprimentariam corretamente pela manhã. Jimin sentiu quão pesado o clima estava, quão triste deveria ser para eles perder um irmão, então se reservou no cantinho da cozinha, e dormiu cerca de onze horas ouvindo o bater inconstante do relógio.

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