➺ três quartos

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is that a kiss?
park jimin - kim taehyung
Neverland, 115 years after Peter Pan

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É mais do que correto dizer que o segundo ano de Park Jimin na Terra do Nunca passou como um raio, afinal, foi um ano repleto de tempestades torrenciais e noites sem estrelas.

A praia não inundou; as fadas trabalhavam dia e noite secando as poças e tentando controlar a maré para que não invadisse a praia, com medo de que a água levasse os tesouros da baía embora. Jimin aprendeu que os tesouros da ilha eram matéria prima para o pó que tornava as fadas mágicas, e perder os objetos perdidos era quase como perder uma colheita inteira. As fadas precisavam daquilo para sobreviver — não tinha nada a ver com a fé das crianças, aparentemente, Jimin acreditava mesmo que se fosse, estariam todas mortas. —, não podiam deixar a maré levar tudo de volta para seus respectivos donos.

Mas, por mais preocupadas que estivessem em manter a praia seca (o suficiente para não matarem o humano todas as vezes que ele esbarrava nelas), eram totalmente alheias as necessidades dos habitantes da ilha.

No terceiro mês de chuvas, o telhado da caverna que abrigava os nefelibatas e o cachorro velho cedeu e a maioria de seus bens foram levados pela água. Foi apenas graças a Jimin que escaparam; ele percebeu rachaduras de infiltração algumas semanas antes, e conseguiram tirar o mais importante do abrigo antes de desmoronar.

Quase tudo. O coelho de Jungkook foi esquecido na correria, e não mais encontrado. Taehyung disse que não dava para saber onde ele foi parar — talvez no limbo das memórias, onde as coisas que não são completamente esquecidas moram, intocáveis. O garoto ficou inconsolável; nunca mais flutuou um centímetro sequer, e andou por ai ao lado de Jimin com água até os tornozelos. Havia algo solitário sobre Jungkook, seus cabelos quase pretos, diferentes de todos os outros, e seu apego ao coelhinho sujo e o jeito silencioso de se arrastar por aí. Jungkook era a criança mais estranha naquele lugar totalmente pirado, mas sua presença trazia conforto a Jimin. O mais estranho dos estranhos era o que mais se assemelhava a um ser humano.

Os dois enfrentavam as tempestades juntos. Sem seu coelho, Jungkook tomou Jimin como substituto, um meio pobre que reclamava quando o garoto o apertava demais, mas bom o suficiente para o acalmar nas noites barulhentas.

Não havia lugar seco para morar em Verão, o topo das árvores estava demasiado infestado de diabretes e o interior das cavernas, inundado. Então, carregando todas as roupas mais quentes que Rosé podia produzir e os cobertores que acharam na baía, marcharam para as montanhas de Inverno. Pelas contas de Jimin, devia ser meio de junho quando terminaram de construir o pequeno forte de madeira rígida para morarem, e começo de agosto quando tiveram que sair de lá para não congelarem. Tudo o que chovia em Verão nevava em Inverno, e Jimin só conseguia pensar em quão quentinho e confortável Busan devia estar naquele momento. As noites eram torturantes, por mais empilhados que dormissem, nunca estava quente o suficiente, e as fadas de Inverno conseguiam ser duas vezes piores.

Jimin sabia — por que Sanha lhe contou — que as fadas de Verão escondiam sua real aparência atrás de fachadas pequenas e bonitinhas. As de Inverno não conheciam tal gentileza, apareciam para eles em sua real forma; altas, magras, imponentes e congeladas. Tinham estacas de gelo no lugar dos dedos e produziam um pó mágico branco e opaco. Nas praias de Verão eram encontrados os objetos que guardavam memórias doces e inocentes, em Inverno, eram aqueles que escondiam mágoa por trás. Aquele não era lugar para eles.

Migraram, então, para Outono, esperando que as ventanias da seção afastassem a chuva e que as árvores caídas oferecessem abrigo. Foi lá, naquele paraíso laranja e marrom, que tudo começou.

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