➺ epílogo

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set them free
kim taehyung
London, 8 years after Neverland

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Taehyung não queria acreditar que aquela seria a última vez que visitaria aquela praia, que finalmente deixaria as esperanças para trás.

Já faziam oito anos que ele mantinha essa rotina de patrulhar a orla em busca de algum vestígio de passagem humana, qualquer sinal de que o que foi deixado para trás encontrou seu caminho; de que havia redenção para seus tão graves erros. Veja bem, Taehyung devia ter imaginado — devia ter sabido que as fadas não os deixariam fugir tão facilmente. Havia sempre um preço a ser pago, e as fadas o cobraram.

Elas levaram Jungkook.

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Na urgência de sair correndo da ilha ninguém teve o bom-senso de checar se estavam todos a bordo, as crianças estavam dormindo e eles ansiavam tanto pela liberdade... apenas foram, carregados pelos ventos fortes e por todo o pó mágico que conseguiram carregar. Só perceberam que havia alguém faltando na tarde seguinte, quando os menores subiram até a proa, atordoados pelo movimento vertiginoso do barco e pela repentina sensação de não poder mais flutuar. Não era possível que Jungkook não tenha acordado ao sentir a magia sendo sugada dele, a sensação foi dolorosa, foi como se todos de repente passassem a pesar o dobro, mas, ao mesmo tempo, estivessem ocos.

Procuraram por Jungkook em cada canto do navio: embaixo das cordas, entre as velas e em cada buraco que um garoto de doze anos poderia se esconder, mas ele não estava em lugar nenhum. Foi apenas ao anoitecer, quando Taehyung estava prestes a ter um ataque de pânico, que uma das crianças menores se pronunciou; era Jisung, o mais novo de todos.

— A gente não sabia que ia sair da ilha, Taetae, — a voz dele estava meio rouca de tristeza. — então ninguém tentou segurar ele no barco quando ele falou que ia atrás de você e do Jiminie...

Taehyung se lembrou, então, de ver uma única fada na praia; uma do outono, cor de casca de árvore e abóboras, segurando um coelho encharcado e sujo pelas orelhas. O horror do que havia acontecido o atingiu no peito, como uma flecha envenenada: as fadas atraíram-no para algum lugar distante do barco com aquele maldito coelho, para mantê-lo preso na ilha. A imagem era tão vívida em sua mente que quase parecia magia — Jeongguk parado na praia, sendo segurado pelas fadas para que não pudesse correr atrás do barco, gritando, chorando. Preso para sempre num lugar cheio de coisas quebradas e perdidas.

Ele quase enlouqueceu com a culpa, se fechou na cabine do capitão — que não era mais habitada por fantasmas, eles sumiram em algum momento antes do amanhecer. — e passou dias falando sozinho e gritando desculpas em seu sono. Se culpava por Jeongguk estar sozinho com aqueles seres horríveis, pagando um castigo que deveria ser seu.

Jimin foi quem conseguiu trazê-lo a realidade, pouco antes de desembarcarem numa praia cinzenta e deserta. Deixou Taehyung chorar em seu colo sem falar uma palavra, até que as lágrimas pararam de cair.

— Vamos, amor, você ainda tem trabalho a fazer. — Precisa levar a gente para nossa nova casa.

Taehyung, então, engoliu a dor presa em sua garganta. Haveria tempo para lamentar mais tarde, quando todos estivessem são e salvos.

E houve. Taehyung lamentou todos os dias durante os oito anos seguintes.

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Ia até a praia onde desembarcaram todos os dias atrás de Jungkook, esperando, torcendo por qualquer sinal. Havia provas de que aquele lugar era onde todos que saiam da Terra do Nunca desembarcaram, pedras marcadas com nomes, números de telefone e endereços. Todos os fugitivos tinham alguém para procurar, anotaram os dados e se foram com alguma parcela do tesouro, prometendo cartas que jamais viriam. Lalisa foi a primeira a partir, seguida das gêmeas, que levaram os três mais novos consigo, então Sanha, que conseguiu fazer contato com um Jinwoo que não se lembrava exatamente de si.

nefelibataWhere stories live. Discover now