Renascimento.

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Bom dia, minha criança. – Disse Auriana, enquanto acariciava as mãos de Diana. Desnorteada e ainda sonolenta, Diana a observou por alguns minutos e logo após despertou. Seus olhos estavam inchados e tristes, consequência da noite longa e dolorosa pelo qual ela passou. Diana chorou por horas até que Auriana incapaz de suportar tanta tristeza, a fez adormecer. Em silêncio, Diana se distanciou de Auriana e foi se banhar. Mesmo depois de dormir, ela não conseguia parar de pensar que tudo de ruim em sua vida foi culpa dela mesma. Não parava de cogitar que as coisas pudessem ter sido diferentes se ela não existisse e isso a machucava de todas as formas. Incapaz de dizer ou fazer algo, Diana apenas deitou em sua cama e tentou se sentir o mais morta possível, mas mal sabia ela, que logo seu desejo se tornaria realidade. Diana dormiu por horas a fio, queria fugir de todos os seus problemas e encontrou o sono como seu aliado nesta missão. Tomou varias vezes a poção do sono feita por Auriana, que a colocava para dormir todas as vezes que tinha pesadelos. A noite começara a chegar e a lua esta emanando uma luz prateada incandescente, cansada de se forçar a dormir, Diana tentou apreciar ao menos a única coisa que a fazia bem e que de todo modo não seria destruído por ela.

No horizonte, uma nuvem escura e densa se aproximava da campina. Temendo pelo pior, Auriana ergueu uma barreira de luz em volta do castelo. Naquele momento Auriana sentia que suas preces não foram suficientes e que isso iria realmente acontecer, Diana realmente não iria sobreviver. Desesperada, ela partiu em direção a Diana, o mais rápido que podia com suas pernas velhas e cansadas. Diana estava começando a estranhar essa oscilação de tempo e começou a associar a maldição que aquela casa possuía, ela começou a sentir uma certa incerteza sobre tudo. Quando avistou Auriana adentrando seu quarto com uma feição apavorada, temeu de que algo realmente estivesse para acontecer.

O que aconteceu, vovó? Por que está tão ofegante e assustada? – Indagou Diana, enquanto se aproximava de sua avó e a guiava até sua cama.

Faltava poucos minutos para meia noite e mesmo ofegante, Auriana tentou explicar: - Algo muito ruim está prestes a acontecer. Estou sentindo uma presença demoníaca muito forte e acredito que a minha barreira não vai durar por muito tempo, então ouça. Você irá morrer por alguns anos. Quando esse demônio findar sua existência, guardarei sua alma neste totem. – Disse ela colocando um colar com um diamante dourado cravado no pescoço da jovem aterrorizada: - Não se desespere. Assim que encontrarem este colar, você poderá retornar. Mas eu não permitirei que você seja condenada sem ao menos ser culpada de algo.

Do que está falando,vovó? – Perguntou Diana em prantos e completamente confusa.

Só... só confie em mim. – Disse a mulher com a voz falhada.

Ela beijou a testa de sua neta e pediu para se afastasse. De joelhos, ela uniu suas mãos e de repente um redemoinho de luz e ar rondava a senhora. Ela emanava uma luz forte e o vento devastava tudo no quarto, quanto mais forte a luz brilhava naquele lugar, externamente a barreira se fortalecia, emanando uma luz incandescente e forte o suficiente para iluminar a escuridão da noite. Diana pôde notar, mesmo com uma visão totalmente embaçada de sua avó, que ela estava sangrando. Seus olhos, nariz e ouvidos jorravam sangue, mas ela continuava inerte e sussurrando palavras que Diana não conseguia ouvir.

Próximo ao castelo, uma mulher se aproximava. Ela vestia um longo vestido negro e seu cabelo brilhava como fogo ao se aproximar da luz exercida pela barreira feita por Auriana. Próximo a ela, havia um homem coberto por uma crosta preta e mal parecia um ser humano normal, pelo menos do ângulo em que Diana estava vendo.

Nadine, isso tem que parar. Ela é sua filha. – Gritou Henry, enquanto se aproximava de sua esposa que não parecia nem um pouco com a mulher que ele havia se apaixonado. Nadine não possuía mais seus olhos e seu torso estava oco, com um buraco enorme em sua barriga. Sua pele estava azulada e suas mãos firmes a uma adaga. Ela parecia estar certa do que viera fazer e as coisas que Henry dizia, parecia não ter tanto sentido. Impaciente, ela correu em direção a Henry e apontou a adaga em sua direção. Henry se viu sem saída, não queria machucar a mulher que ele amava, mas ela estava morta e Diana não. Sentindo sua pele ferver, ele correu em direção a Nadine e a impulsionou para o chão, agarrando sua perna destra e inclinando seu corpo para baixo, enquanto afastava a adaga de seu corpo.

O corpo de Nadine colidia contra o chão, formando rachaduras no mesmo. Impaciente, ela segurou o braço de Henry que a prendia ao chão e o pressionou para lateral, fazendo-o estalar e deslocar-se. Henry gritou de dor e com a outra mão, prendi o pescoço dela, mas aproveitando da brecha dolorosa que ela mesma ocasionou, Nadine aproveitou suas mãos livre e fincou a adaga na costela esquerda de Henry. Sentindo aquela ponta afiada atravessar seu corpo, o homem trincou os dentes e apertou ainda mais o pescoço da esposa. Cansada de permanecer no chão, ela fincou seus polegares nos olhos de Henry e se jogou por para trás do corpo dele, puxando o pelos olhos em um movimento cíclico, que o empurrou para o chão atrás dela, fazendo agonizar e emanar um líquido negro. Rodopiando a adaga em suas mãos, ela ficou-a no coração de Henry e a roçou para que a ponta pudesse atravessar seu corpo. O corpo de Henry começava a emanar uma luz púrpura que logo fora tomada por uma explosão de fogo, transformando seu corpo demoníaco em pó.

Com uma de suas tarefas cumprida, Nadine percebeu que não sentia mais a luz da barreira tanto quanto estava em sua chegada. A luz estava oscilando e isto era a oportunidade que Nadine tinha para cumprir sua missão. Ela deslizou a ponta da adaga sobre a parede invisível e luminosa que protegia o castelo e abria uma fenda na mesma, suficiente para que ela pudesse passar. Adentrando o castelo, ela caminhou lentamente até o quarto de Diana.

Auriana estava perdendo as forças e seu corpo estava começando a se desfazer como se ela fosse de barro, seus pés já começavam a rachar e seu corpo estava coberto por fendas ocas, conforme Nadine se aproximava ela ficava cada vez mais fraca. Ao avistar Nadine, ela ergueu suas mãos e jogou algumas esferas luminosas na direção da mulher, que pareceu não sentir nenhum efeito. Cansada do teatro infindável naquele castelo, ela adentrou o redemoinho que envolvia Auriana e segurou seus fios prateados e puxou a cabeça de Auriana para cima, deslizando a lateral da adaga sobre o pescoço da senhora. Uma luz branca era expelida da fenda aberta no pescoço de Auriana e em um piscar de olhos, a senhora desapareceu.

O jeito mais divertido de matar um anjo. – Comentou Nadine, enquanto limpava sua adaga com a própria língua. Diana estava desesperada e horrorizada com o que estava acontecendo. Ela se perguntava a todo instante, quem é essa mulher? Por que ela matou a minha avó? Por que ela quer me matar? Mas nenhuma dessas perguntas conseguiu sair de sua boca, o choro tomou conta de seu ser e ela só podia sentir a morte eminente a sua frente. Conforme se aproximava de Diana, Nadine começou a oscilar e falar consigo mesma:

- Não posso fazer isso.

- Você tem que fazer.

- Ela é minha filha...

- Você não tem escolha.

- Por favor...

- Você irá matá-la agora ou eu mesma a matarei lentamente.

Diana estava confusa com a reação de Nadine e tão rápido quando um flash de luz, Nadine estava a sua frente e fincava a adaga em seu coração. Diana só conseguiu sentir seu próprio sangue a sufocar e a forte sensação de não conseguir respirar. Seu corpo ficou dormente e sua visão começara a ficar turva e escura. O cordão presenteado por sua avó começara a brilhar em azul e mesmo achando que estava delirando, ela podia jurar que a sua mãe estava chorando ao vê-la desmoronar coberta de sangue.

2017

Como um sopro de vida, Diana acordou. Ela estava aquecida por cobertores térmicos e diversas luzes em seu rosto. Ao virar seu rosto, ela observou um homem todo tatuado, com alguma coisa na boca que emanava fumaça. Ele virou seus grande olhos esverdeados em sua direção e a cumprimentou: Bem vinda de volta, Diana Bratter.


NO FACES.Where stories live. Discover now