A mansão dos Boyer

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Pandora del Monaco:

Grandes portões. Eles cintilam sob a lua crescente, de ferro e pesados como toneladas. Eu jamais vim até essa parte da cidade, mesmo morando aqui desde que nasci. Meu pai me contava quando eu era menor, dos jardins bonitos que os ricos cultivavam por esse lado. Árvores centenárias; milhas de flores importadas; estufas de vidros. Ainda me lembro de pedir incessantemente para que Joel me levasse até lá um dia, já que eu conseguia imaginar perfeitamente a materialização de Alice no País das Maravilhas bem ali, ao nosso alcance. Mas apesar disso, meu pai sempre me manteve longe de suas ferramentas e manchas de graxa.

Porém, agora que estou finalmente aqui, cercada de todo o luxo cabível num bairro, cuido Matthew o caminho todo pela panorâmica ao invés de olhar para a janela. Uma forma que encontrei pra evitar virar meu pescoço e procurar o carro que tem nos seguido. Matt não parece preocupado quando joga os fios loiros do cabelo para trás, esperando que o portão se abra no modo automático. Na verdade, a medida que avançávamos na estrada eu o acompanhei usar de todas as formas possíveis para aliviar a tensão. Matthew cantou o que estava dando na rádio; me falou sobre os prédios bonitos na entrada do seu bairro e em quais lugares gostava de brincar quando criança.

– É a sua casa? – Pergunto, me esforçando para não demonstrar surpresa. É um legítimo sonho de televisão. Uma mansão tão grandiosa que é preciso erguer o pescoço para vislumbrar até o último andar, que no mínimo devem ser em três. Matthew estaciona em frente a porta principal de entrada; tão perto do meio fio que contorna uma fonte que quase acho que vai ultrapassar a parede.

– É – Me responde quando desliga o carro. – Não é bonita? – Ele sorri – Digna de Matthew Boyer – Dá de ombros, pulando do carro. O portão atrás de nós é fechado automaticamente, e eu sigo Matt pelos degraus da escada erguendo o olhar para quem tem o controle do portão numa das mãos. Um dos meus passos é inevitável para trás, porque eu conheço aquele rosto. O corpo, e principalmente a voz que vem a seguir.

– Vocês demoraram, achei que eu iria ter que dormir sozinho – Diz, dando uma risada depois disso. Parei de caminhar, parada entre os degraus que dão até a porta aberta. Seu cabelo parece mais curto do que antes; ou eu não consigo me lembrar direito. Porque não são boas lembranças. Eu anulo más lembranças. A mão de Matt no meu ante braço chega antes que eu vire as costas e comece a voltar para casa.

– O que foi?

– Ah se não é a garota dos Dayton – O outro grita, fazendo meus ombros estremecerem.

– Cala essa boca Carl – Resmunga Matt – Tudo bem? O que foi? – Ele sussurra pra mim agora, inclinando até ficar com o rosto na minha altura. Eu balanço com força a cabeça.

– Acho que Pandora e eu temos assuntos não resolvidos – Carl retruca.

– Espera – Matthew para, ainda me segurando. Seu rosto vira e ele ajeita a coluna num segundo; apesar da pouca iluminação vindo do jardim consigo ver seu maxilar tencionando. – Você bateu na Pandora naquele jogo. Do ano passado. – Os olhos claros se arregalam na direção do amigo, como se ele estivesse relembrando todas aquelas cenas. Que foram mesmo no ano anterior. Especialmente na final do campeonato, quando perdemos de novo para os Lion. Era a função de Carl parar Kevin, não a mim. São só esboços na minha mente; naqueles últimos minutos, quando seu corpo contornou o running back para vir até a mim. A voz de Bryan também já é abafada, gritando para que alguém mais perto consiga me defender. Mas não havia ninguém quando o camisa 32 chegou até mim. Seu cotovelo acertou minhas costelas quando nos levou para o chão e proteção nenhuma conseguiu conter o golpe. Seu sorriso foi a última coisa que vi por trás do capacete quando eu tive que ser tirada do gramado. E sua voz foi certa em me murmurar as mesmas palavras que o ouço dizer agora.

Como Não Se Apaixonar Por Um QuarterbackDonde viven las historias. Descúbrelo ahora