Capítulo VI: Violino e violoncelo

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"She's got eyes of the bluest skies
As if they thought of rain
I hate to look into those eyes
And see an ounce of pain"
Sweet Child O' Mine - Guns N' Roses

"She's got eyes of the bluest skiesAs if they thought of rainI hate to look into those eyesAnd see an ounce of pain"Sweet Child O' Mine - Guns N' Roses

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Estava deitada na cama, encarando o teto que precisava urgentemente de uma pintura e pensando na ideia de Karyn sobre os testes para a orquestra do colégio

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Estava deitada na cama, encarando o teto que precisava urgentemente de uma pintura e pensando na ideia de Karyn sobre os testes para a orquestra do colégio. Começava a achar que não era uma má ideia. Me tirando dos meus pensamentos, ouvi duas batidas na porta. Me virei para ver Benjamin parado na entrada. Dei duas batidas na cama ao meu lado e ele se deitou ali.

— A mamãe foi falar com você, não foi? — falei e ele me encarou.

— Você falou alguma coisa pra ela?

— Apenas disse para perguntar para você, porque eu não iria dizer nada — respondi. Instantaneamente, ele voltou a encarar o teto.

— Podemos não falar sobre mim hoje? — pediu e eu concordei. — Soube que você saiu com o time ontem, vi as fotos. Como foi?

— Só acompanhei a Lou e o Evan. Johann é um babaca sem noção.

Ficamos os dois olhando para o teto. Eu sentia saudades do quarto decorado que eu tinha na minha antiga casa. Na verdade, sentia saudades de tudo lá. Tudo.

— Ontem, Karyn, sem querer, me fez lembrar de você-sabe-quem — disse e Ben se virou para mim, me encarando com uma sobrancelha erguida. — Eu não devia me lembrar dele, não é? Afinal, fui eu quem terminou tudo, certo?

— Às vezes, não deixamos alguém porque queremos, mas, sim, porque eles nos obrigam a isso. Ele não tinha tempo para você. Vocês nem pareciam mais um casal, Ella, e você fez o que era certo no momento: foi cuidar de si mesma. Não precisa ficar mal por se lembrar dele ou, até, sentir saudade dos momentos que vocês passaram juntos, mas não deixe isso abalar o seu presente ou o seu futuro.

Eu passei o meu braço pelo seu, abraçando-o desajeitadamente de lado e agradecendo pelo irmão que eu tinha.

Eu passei o meu braço pelo seu, abraçando-o desajeitadamente de lado e agradecendo pelo irmão que eu tinha

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— Como vai a escola? — meu pai perguntou para Benjamin e eu.

Estávamos sentados na pequena mesa de jantar com algumas caixas de pizzas no centro, já que mamãe havia tirado folga da cozinha hoje.

— É sábado e eu estou cansada, peçam pizza — foi o que ela disse para convencer papai a comprar. E é claro que ele comprou.

Olhei para Ben, esperando que ele respondesse e ele levantou uma sobrancelha enquanto mastigava, jogando a resposta de volta para mim.

— Está tudo bem — falei, por fim. — Eu estou pensando em fazer o teste para o grupo de música.

— Isso é ótimo, filha, tenho certeza que tudo dará certo. — Ele sorriu para mim e eu sorri de volta. — E você, Benjamin?

— Eu estou esperando o resultado do teatro — disse e meu pai assentiu, murmurando o mesmo que falou para mim. — Eu vou sair com alguns amigos depois do jantar, tudo bem?

Benjamin nunca foi o maior fã de esportes da face da Terra. Ele assistia e só. Quem acompanhava meu pai nos jogos de basquete que ele amava era eu, talvez esse seja o motivo pelo qual nós temos um laço muito mais forte que ele e Ben.

Quando Ben levantou-se da mesa e se despediu, prometendo que não demoraria a voltar, as atenções foram voltadas para mim. Minha mãe sempre sabia que algo estava fora do lugar e, todas as vezes que ela me encarava do jeito que estava fazendo agora, sabia que arrancaria tudo de mim.

— O que há de errado, Ella? — perguntou e eu suspirei.

— Não é que há algo errado, eu só estou pensando — falei, por fim. — Há um garoto na escola, Johann, e ele é o maior babaca. Está tentando ganhar o posto de capitão do time e, agora, também resolveu mexer com a Karyn.

— Por que ninguém fala com o treinador ou a diretora? — perguntou meu pai, deixando o pedaço de pizza no prato e voltando sua atenção para mim.

— Porque ele é filho dela. Se nós não conseguimos lidar com um demônio, quem dirá com o diabo.

Parei no meio do quarto com o violino posicionado, respirando fundo antes de começar a tocar

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Parei no meio do quarto com o violino posicionado, respirando fundo antes de começar a tocar.

Havia iniciado as aulas de violino por obrigação até começar a amar o que faço e aprender a tocar com sentimento. Tocava não apenas para fazer bonito para outras pessoas, mas porque era um modo de mostrar tudo o que sentia, tudo o que estava dentro de mim.

Tirar notas daquele instrumento era colocar para fora, em forma de melodia, os sentimentos que transbordavam em mim, sejam eles tristes ou felizes. Era poder mostrar aos outros que é possível amar sem nem mesmo chegar perto, apenas fazendo as pessoas sentirem pela música. Eu amava pessoas e amava tocar. Então eu amava tocando.

O violino tornou-se uma parte de mim. Uma das melhores partes de mim, diga-se de passagem. E foi através da música que eu conheci meu ex-namorado, o que a Karyn me fez lembrar. Era uma apresentação da orquestra que eu participava e, no final, a plateia foi liberada para cumprimentar os músicos. Então ele veio.

Ele não gostava de música clássica, mas disse que gostava do meu cabelo e de como ele se mexia quando eu estava imensa em uma canção. Algumas semanas mais tarde, quando nos encontramos, eu lhe mostrei Numb no violino e ele falou que, talvez, estivesse começando a gostar do instrumento. Porém, naquele mesmo dia, ele disse também que, talvez, estivesse começando a gostar de mim.

Com o tempo, ele começou a gostar mesmo da música (e de mim também) e foi aprender a tocar violoncelo. Fazendo aulas quase todos os dias, não tardou a aprender e nós, finalmente, tocamos uma música juntos.

Eu tinha, na minha antiga casa, uma sala apenas para ensaiar e nós estávamos lá. Benjamin saiu com Juliet, meus pais saíram para jantar e o nosso primeiro beijo saiu também, logo depois de Sweet Child O' Mine.

As notas soavam dentro de mim como sentimentos e saíam como melodia. O amor, que um dia eu senti, era forte o bastante para, hoje, ser tocado.

 O amor, que um dia eu senti, era forte o bastante para, hoje, ser tocado

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Sobre poemas anônimos, garotos e amor - Livro I [COMPLETO]Where stories live. Discover now