17 ¶ Inferno

5K 596 286
                                    

Connor Rivers •

Amaldiçoo o infeliz dia que jurei infernizar Ame Brooks pelo resto da vida.

Tudo era mais fácil quando eu apenas a encontrava pelos corredores da escola e despejava toda a frustração do meu dia sobre ela. A cada dia me convencia de que precisava sair daquela cidade, precisava deixar toda essa maldita vida pra trás e ir para algum outro lugar no mundo onde não corresse o risco de vê-la novamente, seguir meu próprio caminho, e ter paz pelo restante da vida.

Mas isso se tornava cada vez mais difícil.

Cada dia ficava mais árduo pensar num futuro onde eu não encontrava mais Ame Brooks nos corredores da escola. Não poder mais olhar aqueles grandes olhos castanhos e ver todo o turbilhão de sentimentos fluindo de maneira natural, ascendo as chamas mais ardentes dentro de mim.

Quando Minnie revelou sua descoberta chocante sobre as lâminas, não sei o que deu em mim, ou como perdi a cabeça, mas sei que tudo saiu do controle e agarrei o braço dela com tanta força que por um segundo pude ter o vislumbre de lágrimas em seus olhos. Não queria machucá-la. Eu não era um covarde total. Um merda, se quer saber. A soltei do meu aperto, mas não antes de pegar a pequena caixa de lâminas das suas mãos. Ninguém tinha o direito de mexer com a Ame, não daquela forma. Estranho, não? Eu, a pessoa que mais a desprezava, que mais machucava, falando sobre quem tem, ou não, direito de machucá-la. Mas eu tinha "motivos". Bons motivos. E acreditava estar coberto de razão.

— O que pensa que está fazendo? — questionou, indignada.

Era inacreditável que ela se importava mais com a caixa do que com a dor em seu braço.

Ame merecia tanto esse ódio assim?

— Não é pra falar nada disso pra ninguém, me entendeu? — soei mais rígido que o normal. — Não quero que ninguém saiba!

Minnie juntou as sobrancelhas.

Ela me conhecia bem, éramos amigos de infância, até chegamos a ficar algumas vezes, mas éramos iguais demais para suportar um ao outro.

— Por que não? Não é você quem sempre faz questão de humilhá-la? Posso muito bem te ajudar com isso! Imagina só a cara dela quando espalharmos pela escola...

— Não ouse abrir a boca, Minnie.

Naturalmente sua feição mudou.

— Qual é o seu problema, Connor?

Muitos. E ela era um deles.

— Não tenho nenhum problema, mas se continuar na minha frente, aí sim teremos um.

Minnie me encarou por mais alguns segundos, por um instante seus lábios se abriram, como se quisessem falar algo, mas logo se fecharam. Ela se preocupava bastante com sua imagem para se quer cogitar me enfrentar. Sabia que eu poderia facilmente esmagá-la como um inseto. Eu possuía esse trágico dom de fazer com que as pessoas tivessem medo de mim, e muitas das vezes por razões supérfluas.

— Espero que faça bom proveito dessa caixa. Tem um baú de ouro em mãos. Não desperdice!

Encarei aquela caixa de lâminas por segundos, minutos, não sei bem quanto tempo. Mas sei que meu último pensamento antes de jogá-la de volta no armário da Ame foi ir visitar o túmulo do meu irmão. Eu precisava pedir desculpas a ele por todas as mancadas que havia dado durante os últimos anos desde sua ausência. Eu deveria ter feito o que pensei, mas por algum motivo egoísta deixei de ir ao cemitério porque ia assistir o jogo. Kent me implorou para ir vê-lo, assim como Scott que insistiu para que eu estivesse lá.

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora