39 ¶ Beijo inesperado.

5.2K 473 193
                                    

Quando você acorda, qual é o primeiro pensamento que te vem na cabeça?

Eu penso no fim do dia.

No maldito fim do dia.

Nas noites frias e densas.

Mas aquela noite no hospital não foi uma dessas. Pelo contrário, ela foi calorosa.

Scott sentou ao meu lado.

— Quando sairmos daqui levarei você no melhor lugar que existe nessa cidade. — prometeu, esperançoso.

Não emiti reação. O encarei sem qualquer entusiasmo. O sorriso dele murchou, mas não desapareceu.

— Será que pode nos deixar a sós? — pedi à Connor. Ele me fitou por alguns instantes antes de concordar e deixar o quarto. Ele não fechou a porta, então qualquer um que passasse podia ouvir e nos ver.

Scott permaneceu com o olhar esperançoso.

— Scott... Acho que já conversamos sobre isso...

— Não acredita em mim, não é?

Inclinei a cabeça para o lado, sorrindo fracamente.

— Eu acredito. O problema é que eu já perdi demais pra arriscar perder mais alguém. — confessei, engolindo em seco. — Não posso me apaixonar, entende? E se eu me quebrar? O que vai acontecer com os meus cacos?

Num rápido movimento suas mãos estavam em volta das minhas. Não senti o toque, não senti absolutamente nada.

Ele não me transmitia mais aquela sensação boa, sabe? Era como se nós dois não tivéssemos mais nenhuma ligação forte. Nenhuma conexão.

— Junto tudo e colo caco por caco. Novamente, tentamos de novo. — instigou, confiante. — Sempre poderemos tentar.

— Você não entendeu, Scott... Eu realmente não posso me apaixonar. Não quero arriscar sair machucada. Eu prefiro não ter, do que ter e depois perder, compreende?

Quando perdemos alguém, isso fica na gente. Sempre lembrando como é fácil se machucar. Scott desviou o olhar. Algumas enfermeiras passavam pela porta, paravam e curiosamente nos olhavam, mas logo seguiam seus caminhos.

— Não precisa ser sempre negativa, Ame. — fitou-me fixamente. — Pense positivo. Pense "agora vai dar certo". Foi uma tragédia o que aconteceu com os seus pais, mas não foi sua culpa, simplesmente aconteceu. Teve que acontecer.

Sorri, tristemente.

Achei lamentável e injusto tocar nesse assunto delicado. Eu nunca falava dos meus pais.

— Não estou falando dos meus pais, Scott. Você não sabe nem a metade da minha história, e se soubesse, talvez me trataria como todos os outros.

Ele travou o maxilar, ficando ainda mais sério.

— Nunca vou te tratar como todos os outros!

Sorri. Apesar de tudo, era ingênuo.

— Onde irá me levar quando eu sair daqui?

Como Não Te Amar? (REPOSTANDO)Where stories live. Discover now