CAPÍTULO 1

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Existe vida após a morte? Bom, isso depende. Depende do que você considera "vida". Depende do que a morte significa em sua vida. Para mim, dependia do fato quase incompreensível de que, para me sentir viva, tudo que eu mais desejava era estar nos braços da minha Morte. Uma morte personificada na figura de um homem cheio de cicatrizes, de fulgurantes olhos azul-turquesa e um rosto tão perfeito e atormentado quanto as suas atitudes. Uma Morte que poderia me tirar a vida com um simples sopro, porém, vil e inescrupulosa, resolveu fazer isso com requintes de crueldade, reduzindo meu coração em pedaços. Não desista, por favor, não desista - implorava o choro compulsivo. A sensação era de que haviam incendiado meu corpo, eletrocutado e mergulhado em ácido, tudo ao mesmo tempo. Liberei um gemido de dor ao sentir um relâmpago trespassar meus músculos e contrair meu esqueleto. Uma substância congelante entrou em contato com minha pele em chamas. Escuridão, agonia, sufocamento. - Fica comigo, Nina. Por favor, reaja - tornou a implorar a voz distante. - Por favor... Meus pulmões ardiam. Manchas negras bloqueavam a luz. A dor cedeu um pouco e, naquele instante, tentei reaver meu cérebro ou sentir meu coração, encontrá- los, entender quem eu era, onde estava, mas me vi perdida, abandonada dentro de um corpo inerte. E escorregando... Não havia onde me segurar. - Me perdoa. - A voz parecia desesperada. - Por favor, reaja, Tesouro. - Soluços. - Eu... eu não posso te perder. Aquela voz... A sombra da intuição me alertava sobre o perigo de tê-la por perto. Eu deveria odiá-la, rechaçá-la, mas, por uma razão inexplicável, minha alma regozijou-se, feliz. Finquei as unhas no chão. Eu não podia escorregar. Subitamente, uma sensação revigorante rasgou meu peito, como se tivessem injetado oxigênio em meus pulmões. Eu precisava suportar. - Arrrh!!! - Outra descarga elétrica desceu pela minha coluna, incendiando minhas veias e artérias. O fogo ainda lutava contra aquilo que parecia querer me arrancar da inércia e do torpor. Ardor e congelamento intercalavam-se num frenesi. A consciência ligeiramente mais presente. Água fria abria caminho e invadia uma área carbonizada, que eu já não contava mais que existisse em meu corpo febril. Rosto, barriga, costas, pernas, seios, tudo sendo despertado por carícias e gotas d'água geladas. Novo choque. Senti a pulsação atrás do fogo ceder. Os dedos abrasadores das chamas reduziram sua fúria e se abriram, dando espaço para que o bálsamo em forma de gotas geladas ame

Não olhe!Where stories live. Discover now