Não olhe!

A continuação...

estraçalhado, tentava me alertar. Precisava tomar vergonha na cara e dar atenção a ele. # - As ervas ajudaram bastante, meu senhor. Agora é só ela dormir - comunicou uma senhora franzina. - Amanhã estará recuperada e conseguirá andar e falar. Precisará apenas se alimentar, mas acho que, se forçar isso hoje, é capaz de vomitar e liberar energia. Se isso acontecer, talvez haja perda da memória recente, quiçá algum dano neurológico. - É o suficiente por hoje. Bom trabalho, Tori. Agora pode se retirar - respondeu Shakur sem parar de me estudar. - Boa noite, Majestade - desejou a mulher, deixando-me a sós com o líder. A figura amedrontadora de Shakur mexeu comigo de uma forma bem diferente da que eu podia esperar: ela me despertou compaixão e não medo. De perto, era possível distinguir aquilo que passava despercebido a distância: uma horrível cicatriz de queimadura avançava do lado direito ocultado pela máscara metálica e atingia parte da hemiface esquerda. Estaria todo o lado direito tomado por ela? Seria por isso que ele usava aquele disfarce? Para não assustar ainda mais as pessoas? Teria acontecido o mesmo com seu corpo? Shakur se aproximou da cama onde eu estava e senti um arrepio se espalhar por minha pele. Ah, não! O que ele poderia querer comigo? Ameacei me levantar, mas ele segurou meu braço. À diferença dos calafrios que experimentei com outros zirquinianos, o que senti quando Shakur me tocou foi uma espécie de contratura muscular generalizada, uma sensação paralisante, que transpassou meu corpo e não me deixou reagir. - Shhhh! Acuada e fraca, fechei os olhos. Quando voltei a abri-los, deparei-me com o líder me cobrindo com um cobertor feito de pele de carneiro, num gesto espantosamente zeloso. Então ele se afastou sem pronunciar uma única palavra e saiu, batendo com força a porta que dava para o aposento ao lado. A descarga adrenérgica produzida por aquele breve contato com Shakur foi aos poucos se dissipando e sendo substituída por outra reconfortante, como se magicamente meu corpo tivesse recebido uma recarga de energia. Estranho.