A continuação...

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do sinistro líder a quem ele admirava. Apavorada, procurei algum pedaço entre as carnes que estivesse mais cozido, ou melhor, menos cru. Detectei uma coxa meio queimada de uma ave pequena e a puxei. Prendendo a respiração, enfiei os dentes nela enquanto Shakur me observava, indecifrável, por detrás da máscara negra. O sabor não era ruim, mas também não era bom. Insosso. Se aquela era a comida de festa, estava na cara o porquê das pessoas por ali serem loucas por bebida. Para minha sorte, o líder se deu por satisfeito depois de algumas mordidas e parou de me encarar. — Estou com sede — avisei, e ele levantou o braço. Num piscar de olhos, um homem co colocava uma caneca de alumínio transbordando um líquido vermelho-amarronzado bem na minha frente. — Não exagere — determinou intransigente. Que tipo de bebida era aquela? Fui surpreendida com o sabor e a textura. Ela era espessa, adocicada e esquentava minha garganta de uma maneira muito suave. Seria alcoólica? Pouco importava agora. Após alguns goles, era a bebida mais deliciosa que já havia experimentado na vida! — Chega! — ordenou Shakur ao ver como eu sorvia o líquido com avidez. Ele fez outro gesto com as mãos e a caneca desapareceu da minha frente, sendo substituída por uma cheia d’água. Percebi que a maioria das pessoas não tinha autorização para subir até a área onde eu e Shakur estávamos, mas isso não as impedia de se aproximarem até a base da escadaria para me observar. Constatei que quase não havia mulheres por ali. Senti um calafrio arrebatador percorrer minha pele e, instantaneamente, a coxa daquele maldito pássaro estufou em meu estômago e ameaçou voltar pela boca. O maldito calafrio era o mesmo que costumava eletrificar e atordoar a minha alma. Richard. Entre as numerosas risadas que pipocavam pelo salão, uma delas me atingiu como um tiro certeiro. Meu coração deu um disparo, senti uma enxurrada de sangue correr em minhas veias e minhas pernas ameaçaram bambear. Sorrindo e descontraído, Richard apareceu abraçando a tal galega e mais duas garotas, até que chegou um rapaz, que logo depois reconheci: o tal do Morris. Que ótimo! Não havia quase mulheres por ali e as poucas presentes pareciam disputá-lo a tapa. Um ódio enlouquecedor me queimou por dentro. Eu não queria admitir, mas sabia que, bem lá no fundo, estava louca da vida comigo por estar morrendo de ciúmes de um garoto que eu deveria odiar. Como se lesse meus pensamentos, Richard se virou e me encarou por um instante. Eu não desviei o olhar e mantive minha postura firme e interrogativa. Sua fisionomia se modificou, ficando imediatamente séria. De repente ele disse alguma coisa ao pé do ouvido delas, que a seguir soltaram novas risadas e, para minha surpresa, todos eles começaram a caminhar em minha direção. Ah, não! Mais sangue pulsava em meus ouvidos e um latejar furioso reverberava em meu crânio. Ele não vai subir. Ele não vai subir. Ele… Subiu. Droga! — Shakur! — Os cinco o reverenciaram em uníssono. — Sentem-se! Estou de saída — retrucou o todo-poderoso. Boa! Eu encontrara minha saída estratégica. Iria embora com o líder.

Não olhe!Where stories live. Discover now