Capítulo 4

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A mesa da minha era de quatro lugares, mas nunca me pareceu tão pequena como naquele momento. O Pedro, amigo do meu pai, era um pouco grande demais para as cadeiras pequenas.

Dona Márcia deixou a comida pronta, mas acabou tendo que ir embora mais cedo. Mesmo com meu pai insistindo para ela jantar conosco. Segundo ela, sua familia também precisava dela em casa.

– Então, Jorge... – Pedro estava contando mais uma de suas aventuras como policial para meu pai. Eu quase não prestava atenção no que era falado, já que sua voz era tão grossa como trovões e eu me acabava de olhar aqueles lábios se mexendo a cada letra disferida. –... E foi assim que eu ganhei uma cicatriz no abdômen.

Olhei de canto de olho para Priscila, que também me olhava, com um sorrisinho cínico no rosto.

Ela era a única que sabia sobre meu fascínio por cicatrizes, e como elas me atraem. Aposto que ela vai ficar falando na minha cabeça por semanas.

– Cicatriz? – ela perguntou mexendo no pedaço de frango em seu prato. – Sera que podemos ver? Deve ser tipo uma marca de guerra, né? – Cretina.

Olhei rapidamente para Pedro, pedindo mentalmente para ele não ceder às vontades da Prih, mas foi em vão.

– Você se importa, Jorge?

Meu pai fez que não com a cabeça.

– Claro que não. Fique a vontade. – ele falou.

O policial levantou da cadeira, o que fez um ruído irritante. Já falei que alguns sons me irritam? O barulho de pessoas comendo, por exemplo. Também me irrito com algumas pessoas respirando, mas enfim...

Pedro levantou um pouco sua camisa branca, de cara já vi alguns pelos.

Meu Jesus amado.

Peguei rápido um copo de água e comecei a beber. Foquei no meu prato e não olhei mais para cima depois disso. Não queria ver aquilo.

– Uau. É linda... – eu percebi a falsidade na voz de Priscila. Ela odiava cicatrizes, só estava fazendo para me provocar. Pedro pareceu acreditar e soltou um "Obrigado". – Não vai olhar, Gui?

Apertei mais o garfo na mão.

– Claro., – sorri forçado.

Quando levantei a cabeça meu mundo pareceu parar. O cara tinha um abdômen trincado, bem como desconfiei. Os pelos que ele tinha ali só o faziam ficar mais gostoso.

– É... Legal. – engoli em seco.

Pedro disse um "valeu" e se sentou.

– Cara, essa comida ta demais. – falou olhando para meu pai.

– Márcia é uma ótima cozinheira mesmo. Sua comida é melhor que de restaurante.

– Não tenho duvidas. – ele respondeu. – E vocês? São namorados? – apontou para mim e Priscila com o garfo.

Tive que rir.

– Nem nos meus piores sonhos. – Priscila disse. – Esse ai é um cuzão. Ninguém quer ele.

Apertei os olhos.

– E você, Prih, já superou o chifre do último relacionamento? – ela apertou os olhos. Ganhei...

– E você já superou o pinto pequeno do Junior?

Olhei rápido pra ela.

– Quem é Junior? – meu pai é daquele tipo chato. Que quer saber o nome e endereço de todos os cara que eu saio, como se eu fosse uma garotinha indefesa. E o pior é que eu nem peguei o Junior.

– Ninguém, pai. Essa menina é doida. Deve ser falta de pau. – olhei para ela que apenas riu.

– Falta de pau não. Talvez de pepeca....

– Meninos! – meu pai falou. – Eu já me acostumei com o palavriado de vocês, mas Pedro não. Se comportem.

Soltamos um "tudo bem".

Depois disso o parceiro do meu pai parou de falar. Percebi ele me olhando de lado algumas vezes.

Depois do jantar fomos todos para a sala, assistir um pouco de TV e jogar conversa fora. Nas verdade, que assistiu foi só meu pai e seu novo amigo. Já que eu e Prih ficamos no celular.

– Preciso ir no banheiro...

– Fica na segunda... – meu pai começou a falar mas foi cortado por Pedro.

– Sou mestre em me perder em casas alheias. – e riu sem graça. – Pode me mostrar onde fica? – falou olhando pra mim.

Fiquei um pouco surpreso com o pedido, mas fui mesmo assim. Subimos a escada e eu mostrei o banheiro à ele.

Antes de entrar ele escorou na parede e ficou olhando pra mim, de braços cruzados.

– Então quer dizer que o filhinho do Jorge é viadinho... – ele usava de uma irônia toda errada, daquelas eu tinham a intenção de magoar as pessoas. Ainda bem que superei essa fase.

– O termo correto é Homossexual, mas sim, eu sou "Viado"– fiz aspas com o dedo. – E não, eu não te devo satisfação.

Ele riu mais ainda.

– Além de viado e mal criado. Sabe... No prédio onde eu morava também tinha um viadinho igual você. Sempre que eu encontrava com ele no elevador ele ficava me olhando, só faltava ficar de quatro e mandar eu meter a rola. Quer saber o que eu sentia quando via ele?

Fiz que não com a cabeça e virei para descer as escadas, mas ele segurou no meu braço e em fez virar para ele.

– Mas vou contar mesmo assim... – e chegou mais perto, quase colando sua boca a minha. – Eu sentia nojo dele, igual sinto de você.

Apenas fiquei olhando para ele. Já passei por isso algumas vezes e não vai ser um cara cheio de músculos que ia me colocar pra baixo. Dei um solavanco e me soltei dele.

– Como se alguém ligasse para a opinião de um verme igual você. – coloquei um dedo em seu peitoral duro feito pedra. – torce pro meu pai não saber que o parceiro dele é um homofóbico de merda, ou pode dar adeus a seu emprego, babaca.

Ele tirou meu dedo de seu peito e apertou um pouco, nada que doesse demais.

– Você ta achando que é quem pra...

– Gui, já vou indo. Minha mãe já me mandou umas mil mensagens. – Prih apareceu falando e Pedro saiu de perto de mim e entrou no banheiro.

Eu com certeza iria manter distância desse cara.


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Obrigado por lerem! <3

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