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–  Nina

  

    As coisas mudam. Talvez, até rápido demais. Mas, fazem a sua presença quando permanecem durante algum tempo. Se eu olhar para o passado e debater-me sobre o que aconteceu nele, iria ficar impressionada. Eu, sinceramente, não fazia nada para aproveitar a vida. Ia à escola, às aulas, fazia o que tinha a fazer, e, quando chegava a casa, deitava-me na cama e ficava a encarar o teto esbranquiçado a pensar em algo absurdo. Nunca pensei que uma pessoa como Luke pudesse ter tanto efeito na minha vida. Desde que comecei a falar com ele, desde que lhe contei a minha vida, desde que pude apreciar a beleza das coisas com ele, notava algo diferente. Era algo bom, algo cheio de luz. E esse 'algo' agradava-me. A última coisa que eu queria era depender de alguém, mas sentia que isso já estava a acontecer. Lentamente, eu estava a começar a depender de Luke, da sua existência, e isso assustava-me. Eu não queria que estes sentimentos se extinguissem e não queria que alguma vez ele fosse embora. Não conseguiria lidar com isso. Nunca pensei que me poderia sentir assim perante uma pessoa. Assim, com uma sensação irritante mas agradável no estômago, com o coração a palpitar no peito a uma velocidade inexplicável, com arrepios... Estaria eu apaixonada? Eu não fazia a mínima ideia, mas gostava desta sensação. Podia sentir-me feliz. Podia notar na minha importância porque alguém me relembrava da mesma, tal como eu relembrava esse alguém da sua. Isto era tudo tão absurdo. Eu estava a viver algo que não tinha planeado. A vida é assim. Dá-nos experiências inexplicáveis e a única coisa que podemos fazer é aproveitar. Porque se alguma coisa aparece rapidamente e do nada, ninguém nos garante que não vai acabar do nada.

    Hoje era sexta-feira. A famosa sexta-feira. Oh, vamos ser honestos; não era famosa para o Mundo mas eu pensava que seria um dia que iria recordar.

    Tinha que estar pronta numa hora e não sabia o que vestir. Decidi optar por um estilo simples e casual. Afinal de contas, isto seria só um almoço com um amigo, não é?

    Mas esse amigo era o Luke, o que me deixava extremamente nervosa.

    Decidi respirar fundo sete vezes antes de dar uma olhadela no meu armário. Optei por vestir umas calças de ganga justas e uma camisola branca de alças. Sim, isto deveria servir. Não decidi usar muita maquilhagem; queria parecer natural, apenas. Coloquei um casaco de ganga sobre os meus ombros quando saí da casa-de-banho, e, depois disso, apenas esperei por Luke à porta de casa, com o telemóvel nas mãos.

    Um dos meus pés batia impacientemente no chão e eu tinha que admitir que estava ligeiramente nervosa. Ligeiramente? Oh, quem é que estou a tentar enganar? Eu sentia-me imensamente nervosa.

    A minha campainha tocou, fazendo-me despertar do transe em que tinha estado nestes últimos minutos. Esperei dez segundos antes de abrir a porta. Assim que o fiz, o meu olhar imediatamente caiu no rapaz à minha frente. Um suspiro involuntário saiu por entre os meus lábios. O cabelo loiro escuro de Luke estava perfeitamente no seu sítio e os seus pálidos olhos azuis encaravam-me da mesma forma que eu os encarava. Desesperadamente. Um sorriso se rasgou no seu rosto assim que me viu, e eu derreti-me completamente. Estaria eu já em pó?

    "Olá" – ele disse, e eu fitei o chão, envergonhada por não ter dito nada.

    "Olá, Luke" – respondi, tentando soar normal, mas falhando miseravelmente.

    "Como estás?" – ele perguntou assim que saí de casa e fechei a porta.

    "A viver..." – pousei o meu olhar nele – "E tu?"

    "Nervoso" – uma das suas mãos cobriu o seu pescoço num acto de nervosismo.

    "Porquê?" – semicerrei os olhos.

    "Estou contigo" – declarou – "Quando estou contigo sinto-me nervoso. Não quero fazer nada de mal e não te quero desapontar" – quando se apercebeu do que tinha dito, arregalou os olhos e fitou os nossos sapatos.

    "O sentimento é mútuo" – aproximei-me dele e murmurei ao seu ouvido. Ele estremeceu e sorriu de canto, fazendo com que eu visse a sua profunda covinha.

    Com algum esforço, decidi apenas focar-me na paisagem que estava à nossa frente, enquanto caminhávamos. Optei por não fazer perguntas, pois Luke deveria ter as coisas planeadas, pensava eu.

     O céu estava cinzento e as nuvens pareciam carregadas, mas, mesmo assim, as árvores continuavam verdes e bonitas e as flores continuavam a florescer, porque, para o fazer, precisam de um pouco de chuva. Luke tornava esta paisagem ainda mais bonita. A sua presença tornava as coisas mais bonitas. Ele era especial. Todos nós precisamos de alguém como ele nas nossas vidas.

    "No que estás a pensar?" – a sua voz fez-se ouvir no meio do barulho que o vento fazia ao embater nas folhas das árvores.

    "Oh, em nada mesmo" – encolhi os ombros – "Apenas em como a paisagem é bonita"

    "Tens razão" – olhou para o céu cinzento, e depois suspirou.

    "É bonita, mesmo assim" – encarou a minha bochecha direita e ao sentir o seu olhar pousado em mim, parei a meio da rua desabitada para o fitar.

    "Luke" – o seu nome escapou dos meus lábios.

    "Nina" – ele repetiu a minha acção, o que me fez rir.

    "O que planeias para esta aventura?" – arrisquei em perguntar, cruzando os braços ao peito.

    "Oh, nem tu imaginas" – sorriu – "Está tudo planeado, e espero, sinceramente, que nada falhe"

    "Porquê?" – eu inquiri.

    "Quero que te sintas especial, Nina..." – humedeceu os seus lábios – "Também me fizeste sentir especial, e continuas a fazê-lo. Agora é a minha vez"

    A expressão séria que estava no meu rosto desapareceu uma vez que ouvi as suas doces palavras. Um sorriso pequeno, mas verdadeiro, curvou-se nos meus lábios e uma das minhas mãos foi ao encontro da palma fria de Luke. As pontas dos meus dedos traçaram as linhas transcritas na mesma e, seguidamente, o meu olhar subiu até ao seu esbelto rosto.

    "Sabes... Antes costumava detestar este tipo de tempo" – sussurrei – "Mas agora é diferente. Parece que sei apreciar a beleza das coisas... E agora adoro o tempo frio e céus cinzentos" – encostei a minha cabeça ao seu ombro.

    "Às vezes é assim..." – falou num murmúrio – "Às vezes, temos que aprender a gostar de coisas que antes detestávamos. É assim que funciona"

    O que se sucedeu à sua frase foi silêncio. Um confortável silêncio. Sabia que estávamos ambos a pensar em algo e não havia nada de constrangedor acerca disso. Sabia também que Luke estava certo. Tudo o que ele dizia estava certo e isso deixava-me intrigada. Como poderia um rapaz de 17 anos saber tanto sobre a vida? Era possível, mas raro. Mais uma vez, ele era uma excepção. E estava tão grata pelo facto de ter tido a hipótese de o conhecer. Eu odiava o mau tempo, mas aprendi a gostar dele quando vi que havia beleza no mesmo. Eu não odiava Luke, apenas não falava com ele. Assim que o comecei a fazer, assim que o conheci e descobri mais sobre ele, comecei também a desenvolver um sentimento perante ele. Comecei a gostar dele. Talvez, até demais.



Treehouse ➤ Luke Hemmings [Completed]Onde histórias criam vida. Descubra agora