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–  Luke

  

    Os seus longos cabelos castanhos esvoaçavam no ar. Nina tentava apanhá-los para os poder colocar no sítio, mas não necessitava de tal coisa. Eu tinha medo de focar o meu olhar nela durante demasiado tempo e de me sentir incapacitado para depois o remover. Os seus olhos esverdeados pareciam duas esmeraldas e a sua figura estava segura e recta ao meu lado. Eu era um sortudo, definitivamente. Um sortudo por ter a oportunidade de estar aqui, ao lado de uma rapariga lindíssima e única. O seu corpo frágil estava ligeiramente encostado ao meu e a sua cabeça pousada no meu ombro. Ainda assim, conseguia examinar tudo muito detalhadamente.

    Eu não tinha planeado um almoço chique num restaurante caro e fino. Íamos apenas a uma pizzaria. Não tinha rosas para lhe dar nem usava uma roupa para a ocasião, mas sentia que a minha presença era o suficiente para manter Nina agradada. Isso era uma das coisas que me fascinava sobre ela. Sentia-se contente com poucas coisas.

    De vez em quando a sua meiga e ternurenta voz fazia-se ouvir, quando ela tinha algo a dizer. Podia ser algo fora do vulgar mas eu gostava desse tipo de coisas. Gostava da sua maneira de pensar. E, provavelmente, muito possivelmente, gostava dela.

    "Quando eu era pequena, dizia ao meu pai que queria ter um amor verdadeiro na minha vida" – ela disse, num murmúrio. Olhei para baixo e inalei o cheiro a amêndoas proveniente dos seus cabelos. Depois, tentei processar o que ela tinha dito.

    "E irás ter" – respondi. Nina forçou um pequeno sorriso e voltou a pousar a sua cabeça no meu confortável ombro.

    "Tu tens um coração quente e estás num Mundo feito de gente com corações frios. É difícil encontrar o tal, aqui" – voltei a falar. A rapariga ao meu lado desencostou-se um pouco de mim, e, por alguma razão, senti-me incompleto.

    "Acho que já encontrei" – olhou-me nos olhos um tanto fixamente – "Mas tudo está a acontecer muito lentamente" – continuou a fitar-me. E, naquele momento, percebi que tinham razão quando afirmavam que existiam olhares que se expressavam e que diziam tudo o que as pessoas não podiam dizer. O que eu tinha a fazer era percebê-los.

    "E quem é ele?" – inquiri, colocando as minhas mãos frias nos bolsos.

    "Oh, está mais perto do que tu pensas" – Nina riu-se e encarou o céu. Ela impressionava-me. Conseguia lidar com as coisas tão bem. Pelo menos, era o que parecia.

    "Acho que chegámos" – declarei, e quase tive um ataque ao perceber que nada se encontrava nos meus bolsos – "Oh, não" – procurei desesperadamente pela minha carteira em todos os buracos que tinha nas peças de roupa, mas não a encontrei, o que me fez soltar um grande grunhido.

    "O que se passa?" – Nina questionou, soltando pequenas gargalhadas.

    "Esqueci-me da carteira" – levei as mãos ao meu rosto cansado e suspirei.

    "Não faz mal"

     "Não faz mal, Nina? Eu queria que isto fosse especial para ti, mas tenho sempre que falhar, tenho sempre que fazer porcaria" – cerrei os punhos, zangado comigo mesmo – "Sou mesmo estúpido" – falei num sussurro à medida que me sentava num banco de madeira.

    "Não, não és" – ela aproximou-se de mim e ajoelhou-se, de modo a poder fitar-me – "Todos erramos, não há nada de mal nisso. Tu apenas te esqueceste da carteira, e, acredita, também me teria esquecido com este nervosismo todo" – uma gargalhada escapou por entre os seus lábios – "Aliás, acho que me esqueci mesmo dela"

Treehouse ➤ Luke Hemmings [Completed]Onde histórias criam vida. Descubra agora