O Sentimento Perdido

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Era uma vez um jovem. O seu nome era Sérgio da Maia, e era um rapaz normal para a sua época. Gostava de ouvir música no gira-discos da sua família ou fumar com os seus amigos. No entanto, por causa da época onde vivia, viu-se forçado a deixar os seus estudos para ajudar os pais no negócio da família: a taberna mais famosa da sua localidade.

Certo dia, Sérgio da Maia despediu-se da sua família para ir para a tropa. A sua mãe ficou destroçada, mas nada podia fazer, uma vez que o serviço militar era obrigatório.

De início, Sérgio da Maia não estava de acordo com isto. No entanto, com o passar do tempo, e pelo facto de ter estabelecido uma forte relação de amizade com os seus colegas da tropa, passou a gostar do serviço militar.

Alguns meses mais tarde, Sérgio da Maia voltou para casa. A sua mãe ficou radiante, e decidiu oferecer a todos os clientes da taberna presentes uma rodada por conta da casa.

Apesar da vida feliz que Sérgio da Maia levava, um dia foi abordado com uma carta do estado português, que lhe diz que pelo facto de ser um cidadão em idade ativa, e de estar de boa saúde, terá de se disponibilizar para cumprir o serviço na Guerra do Ultramar. Sérgio da Maia estava destroçado, pois é uma pessoa de caráter pacifico, e que acreditava que as guerras poderiam ser evitadas. No entanto, se não fosse, seria preso.

Sérgio da Maia encontrava-se no Santa Maria; o barco que o levava para Angola. A viagem foi péssima: para além de se ter sentido mal inúmeras vezes, a má disposição dos outros homens parecia extender o sentimento.

Semanas passaram, e Sério da Maia não matou ninguém até a esse momento.

Foi num passeio de ócio com os seus companheiros que avistou algo: uma belíssima mulher de cor, toda ela deslumbrante. Linhas toscas delineavam-lhe o corpo, dando-lhe formas tão perfeitas que parecia pintada numa tela. A verdade é que quando Sérgio da Maia olhou para esta mulher viu uma musa, pois sabia que nunca tinha visto nada nem ninguém com um ar tão harmonioso como esta maravilhosa figura. Os colegas de Sérgio da Maia começaram a troçar do seu comportamento, e só quando se sentiu a corar se apercebeu que se teria apaixonado à primeira vista. Os seus amigos deixaram-no nesta localidade angolana, e prometeram que daquele momento a 4 horas o iriam buscar.

Sérgio da Maia chegou ao pé daquela que detinha o seu olhar e propôs-lhe um passeio, ao que a africana aceitou. Chamava-se Gabriela, e havia um espaço de 3 anos na sua idade e de Sérgio da Maia.

No final do dia, Sérgio e Gabriela envolveram-se. Nunca Sérgio tinha experenciado algo tão mágico e deslumbrante, sobretudo porque estava com a mulher que amava.

Com o passar das semanas, Sérgio continuava a encontrar-se com Gabriela. Até a própria se sentia diferente com a presença do português: pela primeira vez estava a experenciar o amor.

Então chegou o dia que ambos temiam: Sérgio da Maia voltaria a Portugal. Tentou convencer Gabriela e ir consigo, mas ambos sabiam que não podiam. Tentaram aproveitar ao máximo as ultimas horas juntos, até que Sergio finalmente partiu. Estava destroçado — nunca na vida se tinha sentido tão triste, era como se tivesse deixado uma parte do seu corpo para trás.

Quando regressaram à sua família, eles notaram que ele estava diferente. Quando perguntaram o que se passou, ele apenas respondeu que matou muitos pretos e que estava arrependido.

Passaram-se 26 anos. Sérgio da Maia casou com uma linda portuguesa e teve dois rapazes. Porque voltou a estudar, abriu uma firma de advogados.

Certo dia, enquanto estava a trabalhar, a sua recepcionista diz que há alguém para o ver. Ao sair deparou-se com uma figura mística, um autêntico flashback. Sérgio viu à sua frente a cara chapada de Gabriela. Ele gaguejou.

Esta jovem moça mulata abraçou-o, e só aí lhe ocorreu que este teria sido um pouco do amor que deixou em África. Foi aí que Zene contou a Sérgio que a sua mãe tinha morrido há 2 anos atrás. As corandeiras da vila diziam que ela tinha morrido de desgosto, já que apesar da sua mãe ter sido uma das mais bonitas da vila, nunca mais se voltou a envolver com outro homem.

Sérgio sentiu-se cobarde, pois nunca voltou atrás para rever o seu amor verdadeiro. No entanto, Zene conta que o ultimo desejo da sua mãe foi que ela conhecesse o seu pai, e agora que o fez, ela poderia ficar finalmente em paz.

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