Colombianas

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Conhecer minha família. Ele queria conhecer minha família. Não consegui acreditar quando propôs, parecia brincadeira, mas ele estava sério e era verdade.

Coloquei camiseta preta e jeans, o básico para um velório, ou dois. Suspirei profundamente. Pensar que duas pessoas queridas morreram me pesava o coração. Algo no mundo estava muito errado.

Peguei o telefone sobre o criado mudo e disquei o número de minha mãe.

Eu telefonava para minha mãe quase todos os dias. Conversar com ela sempre me deixava melhor em relação aos problemas. Não que ela os resolvesse, mas sempre os fazia parecerem coisas bobas diante da grandeza do meu ser. Apenas minha mãe conseguia fazer com que me sentisse uma gigante que não podia ser derrotada.

— Bom dia, querida! — Minha mãe atendeu com sua voz solar que sempre iluminara minha existência.

— Mamãe, como a senhora está? — Perguntei.

Minha família era muito tradicional, então todos os membros mais novos tratavam os mais velhos por “senhor” ou “senhora”, exceto os primos.

— Deus te abençoe, filha. — Minha mãe abençoou.

Era regra sempre pedir a “bênção” para os pais. Nunca fui muito católica, mas sempre acreditei que ser abençoada por meus pais era algo importante, afinal, mostrava o carinho e o cuidado que eles tinham comigo.

— “Bença”, mãe. — Do meu ponto de vista apenas pessoas arrogantes falavam a palavra da maneira correta.

— Como você está? Ganhou os prêmios? — Indagou.

— Bem — suspirei outra vez, suspirava demais naquela manhã —, ganhei o de melhor matéria e segundo lugar como funcionária.

— E isso é possível? — Imaginei a expressão perplexa que estaria estampada ma face de minha mãe.

— Aparentemente é bem possível. Na verdade meu chefe disse que só conseguiram garantir o prêmio de primeiro lugar para mim na modalidade melhor matéria, os superiores deram ordens de premiar Mauro como melhor funcionário. — Despejei o caminhão de derrota que tinha sido minha noite.

— Bobagem, minha filha. Essa gente é muito machista, não podem ver uma mulher destemida e talentosa que tentam barrar o progresso. — Ela mal falou e eu já me sentia melhor.

— Mãe, a senhora é dez. — Fiz voz de dengo, mas a verdade é que queria disfarçar o tom de choro. Meus olhos estavam marejados.

— Claro que sou. Uma filha fantástica só poderia vir de um útero fantástico! — Brincou.

Eu ri. Ouvi o barulho de algumas panelas sendo manejadas.

Sentia-me dona do mundo outra vez. Eu tentava não passar meus problemas para minha mãe, não gostava de perturbá-la, mas às vezes até mesmo eu precisava de colo. Mamãe nunca soube que fui estuprada, meu irmão descobriu porque as fofocas chegaram a seus ouvidos. Foi difícil fazer com que não contasse para meus pais, mas ele compreendeu.

Lembrei o que me fez ligar para mamãe. Precisava introduzir o assunto com delicadeza ou ela faria uma farra sobre eu ter um relacionamento.

— Mamãe... — comecei com cautela — quando vocês estarão livres?

— A semana inteira. Eu e seu pai, claro, seu irmão só fica livre nos fins de semana. Por quê? — Claro que ela perguntaria o motivo.

— Eu... Hã... Um amigo quer conhecê-los. Ele é bacana, pensei que poderia abrir uma exceção e levá-lo em casa. — Foi a forma mais amena de dizer que queria levar meu ficante à casa de meus pais.

A Rosa do Assassino [Concluído]Where stories live. Discover now