Capítulo 1

23 1 0
                                    

Quatro meses depois


Por quatro anos, eu costumava acordar e dar de cara com uma parede de cimento enquanto tomava o meu café da manhã, mas depois do terremoto acabei em um lugar onde posso tomar minha primeira xícara de café do dia encarando a Oakland Bay Bridge. O Marina Bayside fica longe o suficiente para eu não ouvir o trânsito na US-101 e apenas a 15 minutos de caminhada do Mercy Bay, então não posso exatamente reclamar da minha nova localização.

As folhas já começaram a amarelar do lado de fora da janela e eu dou as costas para observar a sala. Impecável. Nem parece que tem alguém morando aqui, de verdade. O que é ótimo, porque meu apartamento em condições normais transita entre "atulhado de caixas de delivery e garrafas de vinho vazias" e "roupa espalhada por todo o lado". Estou orgulhosa de mim mesma, acho que realmente tenho uma chance com a assistente social.

Eu só preciso passar na vistoria da casa e aí, boom, terei uma licença e estarei pronta para abrigar crianças sem lar.

Para ser sincera, essa é a parte mais assustadora de todas. Por mais que eu não queira admitir, talvez Suze estivesse certa em questionar meus motivos. Eu sei que essas crianças precisam, desesperadamente, de lares seguros e saudáveis. Mas o mero pensamento de me tornar responsável por eles faz com que meu estômago afunde.

― Tudo bem aí? – A voz familiar chama a minha atenção e eu viro o rosto para encarar Frank, parado próximo ao balcão da cozinha, terminando de vestir a camiseta cinza da Corporação.

― Ótimo. – Respondo com um dar de ombros.

― Tem certeza?

Estreito os olhos na sua direção. ― Claro.

― Você não ficou chateada por que... – ele coça a nuca e sua voz se perde no meu silêncio.

― Porque você tem um encontro com uma garota que realmente gosta?

As bochechas de Frank ficam vermelhas, mesmo com a pele bronzeada dele. Os olhos cinzentos me encaram com apreensão e preciso apertar os lábios para não rir. Não quero magoá-lo, mas a verdade é que Frank sempre acha que encontrou A garota, até perceber que relacionamentos são complicados demais.

O lado ruim de ser a melhor amiga de Zoe – como ela diz – é que ela simplesmente não aceita que você passe feriados e qualquer data comemorativa sozinha. O lado bom é que você acaba no meio de uma comemoração gigantesca com a família Riccio ― e se por acaso ficar bêbada no ano novo, pode acabar dormindo com um cara bem bonito, como o Frank.

― Frank. – Falo com calma. – Nós concordamos que seria só sexo, né?

― É, eu sei. – Ele desvia os olhos dos meus.

― Então? Vai dizer que está afim de mim?

― Não! – Ele fala bem rápido, erguendo a cabeça. – Por Deus, não. Nem um pouco. – Ergo as sobrancelhas para ele, porque mesmo não querendo nada com o Frank, gosto de pensar que consigo sacudir o mundo dos homens de vez em quando. – Quer dizer, não assim. Claro que você é uma mulher muito legal. E bonita. E inteligente. Você é muito inteligente...– se apressa, atropelando as palavras.

Tenho certeza que ele já deve estar suando.

Pressiono os lábios mais uma vez para segurar a risada.

― Frank?

― Sim? – Ele parece agradecido por parar de falar.

― Você precisa ir. Seu turno começa daqui a pouco.

As Cicatrizes de Andy - Série Mercy Bay #2 (Degustação)Where stories live. Discover now