Capítulo 5

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O Brick Wall está lotado quando eu chego para a festa de São Patrício. Todo decorado em tons de verde, com trevos de quatro folhas e canecas e mais canecas de chope verde sendo vendidas. Observo a multidão, mas não consigo encontrar meus amigos, então vou direto para o bar. Sei que eles devem estar ali em algum lugar, mas não consigo tirar Wade da cabeça e, para ser sincera, acho que não seria uma ótima companhia no momento.

Encaro o manhattan no balcão e penso em Miguel dizendo que minha preocupação falava mais sobre mim do que sobre os pacientes. Eu deveria trabalhar com o meu instinto, acreditar nele. Quando acho que algo está errado, preciso acreditar. Mas nunca tinha parado para pensar que talvez esteja projetando meus próprios traumas nos pacientes. Que isso me impede de enxergar o que realmente está por trás de tudo.

Às vezes um acidente é só um acidente. Um grito é só nervosismo.

Aperto o local da cicatriz no meu braço, por cima da malha fina que uso. "Mas às vezes, uma cicatriz é uma queimadura de cigarro cicatrizado" penso comigo mesma. "Às vezes um choro abafado no meio da noite não é só um pesadelo". A culpa corrói meu estômago.

Talvez eu não seja um júri muito imparcial.

Calo a boca da culpa com um gole da bebida.

A música alta enche os meus ouvidos e me perturba, o bar está apinhado de gente muito feliz e, dois drinks depois, ainda não consegui encontrar meus amigos. Estou cansada, ainda pensando no meu paciente e não acho que vou animar a festa de ninguém – especialmente depois de ver CJ e os amigos entrando no bar.

Não estou com humor para um lugar alegre e frequentado pelo CJ. Então termino meu drink, deixo o dinheiro sobre o balcão e sinalizo para o barman que fique com o troco.

Me levanto rápido da banqueta alta, virando-me e esbarrando em um cara que estava chegando ao bar, pisando em seus pés sem querer. Ele parece não notar o pisão e estende os braços para segurar meus ombros, como se eu fosse me estatelar no chão. Ergo o rosto e o estranho sorri para mim, com as bochechas coradas pela bebida e os olhos apertados formando rugas nos cantos. Por educação, sorrio de volta e me contorço para escapar de suas mãos.

― Desculpe. – Tento me afastar, mas ele bloqueia a passagem por um momento.

― Você não está saindo agora, né? – Ele pergunta como se já tivéssemos nos visto alguma vez.

Faço de conta que não escutei e lhe dou as costas, me afastando. Mas não vou muito longe porque ele segura o meu pulso.

― Hey, eu estou falando com você.

― E eu estou ignorando você. – Puxo meu braço mais uma vez.

O estranho se aproxima mais um pouco com aquele tipo de sorriso que diz "eu sei que você só está se fazendo de difícil" que eu tanto odeio. Queria poder socar a cara dele, mas sou sedentária demais e ele é bem maior do que eu. Calculo que não ganharia essa briga.

― Não é assim que funciona, querida. – Ele está a poucos centímetros de mim, passando os dedos pelo meu braço. – Porque não deixa que eu te pague outro drink? – Sorri mais uma vez e se aproxima, os dedos subindo pelo meu pescoço, puxando-me para perto.

Empurro os seus ombros com força, fazendo-o cambalear alguns passos para trás. As unhas dele arranham a pele do meu ombro, exposto no recorte da blusa, quando o afasto.

― Cai fora. – Mas ele está rindo, equilibrando-se com a ajuda das banquetas altas do bar.

O babaca dá mais um passo em minha direção, mas algo – ou melhor, alguém – se interpõe entre nós dois.

As Cicatrizes de Andy - Série Mercy Bay #2 (Degustação)Where stories live. Discover now