Capítulo 3

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― Quanto já tem? – Pergunto do sofá da sala de descanso quando Abby aparece com o jarro "Anel da Esme" nos braços.

Abby tem um sorriso largo nos lábios, o que quer dizer que deve ter encontrado mais doações pelos corredores – afinal de contas, todos nós sabemos muito bem quanto um residente da emergência ganha em um ano para pagar um anel de noivado.

― Uns 300 dólares.

Ela deixa o jarro sobre a mesa e vem se sentar ao meu lado, colocando as pernas em cima da mesinha de centro, como eu. Abby é o tipo de colega de trabalho por quem você tem carinho, porém não está na sua lista de cartões de natal. Mas ela está sempre fazendo algo por alguém. É o tipo de pessoa que escolheu a enfermagem porque não sabe fazer mais nada além de ajudar as pessoas.

Às vezes eu queria ser um pouco mais como a Abby.

― Conheço uma loja de penhores que vai ter algo legal por esse preço.

― E comprar um anel com o nome de outra pessoa gravado nele? Que horror, Andy.

Dou de ombros. – O que importa é a intenção, não é?

― Dá azar usar um anel assim. – Ela diz, fazendo uma careta. – É mau agouro, porque aquele casamento acabou.

Eu rio enquanto me levanto, mas Abby permanece séria. – Você realmente acha que isso acabaria com o noivado deles?

É a vez de ela dar de ombros, ajeitando-se mais no sofá. – Quem sabe?

― Na minha experiência, só há uma coisa que pode interferir em relacionamentos. – Caminho para a porta.

― O que é?

Paro com a mão na maçaneta, olhando por cima do ombro só o suficiente para sorrir.

― Pessoas.

Isso faz Abby rir, mas ela rola os olhos e grita algo como "nada de anéis usados" quando saio da sala.

Do lado de fora o hospital está quase silencioso. As salas de plantão estão lotadas com os residentes, a triagem está vazia e eu posso ouvir alguns médicos e enfermeiras disputando "corrida de cadeira" no corredor entre as salas de trauma. Não passam das duas da madrugada, mas o hospital está calmo. Tão calmo que ninguém ousa dizer isso em voz alta.

Sempre que algum interno desavisado sente a necessidade de esclarecer – como se nós não tivéssemos olhos – como o Pronto Socorro está parado, não demora nem dez minutos para que alguma calamidade quase nos leve ao código preto.

Estou atravessando a estação das enfermeiras quando ouço alguém gritar:

― Preciso de ajuda aqui!

O instinto toma conta e aceno para Miguel, do outro lado da estação, correndo em direção à entrada das ambulâncias. Sob a luz brilhante eu vejo CJ com o colete a prova de balas e o distintivo, arrastando Lea pelo flanco.

A mulher está ainda mais pálida que o de costume e há sangue manchando seu rosto. Ela não consegue ficar de pé e acaba escorregando, quase levando os dois ao chão. Me apresso na direção deles e ajudo CJ a segurar a parceira.

― Precisamos de uma maca aqui! – Grito e em seguida Miguel e o dr. Taylor aparecem.

― O que aconteceu? – o dr. Taylor pergunta.

Ele e Miguel nos ajudam a colocar Lea na maca. Quando vejo, dr. Chong está conosco e mais uma enfermeira.

― Fogo cruzado. – CJ diz sem tirar os olhos da parceira. – Fomos pegos dentro do carro, eu simplesmente dirigi.

As Cicatrizes de Andy - Série Mercy Bay #2 (Degustação)Where stories live. Discover now