CAPÍTULO • 05 (Degustação)

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CAPÍTULO 05

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CAPÍTULO 05

VLADIMIR

CONFIRO AS HORAS no relógio de pulso, minha paciência se esvaindo cada vez mais à medida que o ponteiro dos segundos completa seu percurso rumo ao número doze. Pontualidade é uma virtude, mas, como qualquer qualidade, se restringe a um número limitado de pessoas. Elena Kokorina definitivamente não faz parte desse número.

Nos confins do hotel dourado de Leonel Palliermo, o primeiro concerto de Brandenburg reverbera através de corredores e ornamentos lustrosos, com hóspedes e convidados a exibir suas roupas clássicas e igualmente chamativas como se estivéssemos em um baile retrógrado do século passado.

A pior parte de cumprir com as obrigações de um presidente é me submeter a tais formalidades desagradáveis e seus protocolos de etiqueta.

Do sofá na recepção, consigo escutar o barulho das câmeras fotográficas impacientes na entrada, capturando a imagem ideal de todos os convidados que chegam através das imensas escadarias principescas.

Aproveito o tempo vago para conferir nossas ações, a cotação do dólar e do euro, os impactos da economia no rublo russo. Retiro meu celular do paletó, porém, quando estou no meio das pesquisas, minha mente volta a ser preenchida com a lembrança do que aconteceu mais cedo.

Aquela funcionária realizou uma proeza que pouquíssimas pessoas conseguiram até hoje. Ela me desarmou. E eu gostei.

Corazón...

Pesquiso por um tradutor online, mas hesito antes de digitar, sentindo-me muito imaturo. Baixei a minha guarda com uma desconhecida, e erros amadores como esse são inadmissíveis para um homem que carrega a identidade do sobrenome Volkiov nas costas.

Mas ela não sabia quem eu era, ou sabia? Droga.

Deixei-me levar por seu riso fácil, a espontaneidade ingênua, as feições engraçadas e autênticas. Sem mencionar a beleza incomum, os olhos marcantes, expressivos e grandes no rosto desenhado com linhas finas, a forma como seus lábios faziam convites inocentes e eróticos ao mesmo tempo. Acredito que nem se deu conta das próprias insinuações.

Minha blindagem é protegida com cadeados e bolas de ferro que me prendem à cadeira que um dia pertenceu ao meu pai, e meu prazer pessoal jamais poderá se dissociar do que é melhor para a empresa.

Mas a curiosidade é inofensiva, não? Que mal há em sanar uma dúvida?

Digito as letras e a resposta vem imediatamente, junto com uma emoção diferente, divertida e leve.

Coração? Ah, a espertinha me passou a perna, aposto que está rindo agora por me fazer chamá-la usando um apelido tão íntimo. Não deve mesmo saber quem eu sou, ou jamais se atreveria. As pessoas não me desafiam descaradamente assim. Fui feito de bobo com uma coisa tão pequena...

Entre Acasos e Destinos | LIVRO 2 | DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now