CAPÍTULO • 07 (Degustação)

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CAPÍTULO 07

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CAPÍTULO 07

VLADIMIR

— VLADIMIR, VOCÊ ESTÁ ouvindo? — Andrei balança a mão na frente do meu rosto, quebrando o transe de pensamentos que tem se tornado cada vez mais frequente.

Forço minha vista contra a luz da manhã que invade o escritório residencial, iluminando os traços delicados e calmos do meu irmão mais jovem. Andrei é nosso advogado e, ainda hoje, tenho certa dificuldade em assimilar o menininho bondoso e altruísta que fora na infância ao tubarão que defende nossa empresa.

— Claro. — Recomponho-me, limpando a garganta com uma boa dose de vodca que dispuseram sobre a mesa. — Você estava falando sobre o... — Droga, não tenho ideia. — Clube?

Ivan, sentado à minha frente, inclina-se para analisar meu rosto de perto. Mesmo sendo o segundo filho mais velho, sua aparência no dia de hoje é juvenil, com a barba muito bem cortada e os cabelos castanhos penteados para trás — às vésperas do casamento com a mulher de sua vida, não poderia ser diferente. Porém, ao se entreolhar com Andrei, sentado ao seu lado, não obtém nenhum sucesso em esconder a surpresa.

— Está se sentindo bem? — Ivan indaga cautelosamente. — Parece um pouco desatento hoje.

— Minha nossa! — exclama Roman, deitado na poltrona reclinável no meio do nosso escritório. Ocultando os olhos esverdeados com o antebraço tatuado, seu aspecto é de um homem recém-vencido por uma noite de muitos exageros alcoólicos. — Isso é um indício do apocalipse? Devemos acionar as forças armadas? Mulheres e crianças primeiro?

— Para alguém nas suas condições, deveria se preocupar mais consigo mesmo — retruco, sem paciência para brincadeiras sagazes.

— Carinhoso como sempre, irmão — ironiza.

— Eu disse que dois investidores rescindiram os contratos e entraram com pedidos de ressarcimento. — Andrei, visivelmente fatigado em decorrência dos últimos meses, tendo que lidar com todos os percalços jurídicos acarretados pelos imprevistos com o projeto do clube, entrega-me duas pastas vermelhas. Na frente de cada uma, destaca-se a grande letra inicial do nosso sobrenome, entalhada com relevo dourado.

Era o que eu temia. Se os sócios começam a sair do projeto, significa que nosso prestígio já não é suficiente para controlá-los. Aos olhos dos urubus de terno que rastreiam carcaças em decomposição dentro da limitada esfera corporativa, nos tornaremos uma empresa agonizando em decorrência da fraqueza. O buraco deixado por esses dois associados é como uma ferida infeccionada, e só vai piorar se não tratarmos o problema com cuidado.

Péssima hora para me perder em questões insignificantes. Desde o início da semana, quando reencontrei aquela mulher no meio da rua, não consigo parar de pensar no tamanho da minha tolice. Quase perguntei se o nome dela, por acaso, não seria Serena Fajardo! Onde eu estava com a fodida cabeça?

Entre Acasos e Destinos | LIVRO 2 | DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora