Esperança

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Meus olhos estão presos ao rapaz deitado sobre a cama metálica do meu laboratório. Seus olhos estão fechados, sua pele está descoberta da cintura para cima e seus cabelos castanhos estão caídos sobre seu rosto belo e angelical.

Jimin levou cinco anos para ser criado, cinco longos anos de noites em claro e xícaras e mais xícaras de café como acompanhante da minha necessidade de termina-lo.

Eu me dediquei a ele, dediquei minhas poucas forças ao meu amado menino.

- Você será capaz de me salvar? - sussurro e caminho até ele, tomo sua mão fria e selo o dorso de pele alva. - Será capaz de me trazer de volta a esperança? - lágrimas teimosas escorrem pelo meu rosto e me deito sobre o peito do andróide.

Sete anos atrás eu não imaginaria que chegaria tão longe com algo que não estava preparada para executar. Eu sempre tive notas maravilhosas, possuía os melhores educadores e frequentava as melhores instituições, mas a produção de andróides era algo feito pelo meu pai, um brilhante inventor que ergueu com muito esforço, talento e dedicação, a San Martin, uma empresa de produção de robôs com tecnologia avançada; eles eram quase humanos.

Porém, minha vida se transformou do dia para a noite e eu me vi sozinha e destinada a morte.

Eu estava no colégio, era mais um dia atarefado, mas durante minha aula de literatura eu acabei perdendo os sentidos e fui levada ao hospital, onde acordei depois de dois dias.

Eu lembro dos olhos da minha mãe repletos de olheiras e a palidez de sua pele, ela estava péssima e eu soube que tudo aquilo tinha algo mais sério por trás.

Naquele dia mamãe me disse algo que ficou marcado em mim feito uma dolorosa tatuagem que não cicatriza, ela continua a doer incessantemente.

- Querida, mamãe precisa te contar algo. - meu coração falhou algumas batidas, eu senti que ele tinha relação com tudo aquilo. - Meu amor, você irá precisar de um transplante de coração.

- Como assim, mãe?

- Filha, nós não sabíamos, mas seu coração deixou de desenvolver corretamente tem um tempo e agora que você está se tornando uma adulta, ele não suporta manter seu corpo e pode parar a qualquer minuto.

- Está me dizendo que eu posso morrer a qualquer instante?

- Sim. - minha mãe não conseguiu se manter forte e chorou, acompanhada por mim, ela chorou. Nos abraçamos bem apertado e permanecemos assim por um longo tempo.

Eu posso afirmar que descobrir que poderia morrer antes de me tornar uma adulta completa não me afetou tanto, eu continuei bem até que dois anos depois o avião onde meus pais estavam caiu e não houve sobreviventes.

Eu morri por dentro quando soube. A dor era insuportável, lacerante, nada se comparava a tudo que eu senti quando descobri que não veria mais meus pais.

Eu desejei que meu maldito coração parasse também, mas isso não aconteceu. Os médicos não permitiram que eu fosse ao enterro, alegaram que eu poderia ter um ataque e acabar falecendo também, então acabei ficando longe enquanto muitas pessoas velavam e enterravam os meus amados pais.

Depois de tudo isso eu me tornei uma pessoa triste, sorrisos não são mais uma opção, eu apenas sobrevivo. Os altos muros da mansão agora são minha prisão, a qual eu mesma busquei.

Coração de Robô (Concluída)Where stories live. Discover now