Beijo Molhado

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"Esse amor pode me matar, mas me faça sentir viva enquanto eu ainda respirar."

~ 7 ~

Na manhã seguinte acordo agarrada ao corpo de Jimin, que finalmente está em modo de descanso. Sua respiração mecânica funciona muito bem, algo que percebo ao observá-lo com cuidado. Seus cabelos estão caídos sobre o rosto e ele parece um anjo, um anjo incapaz de se proteger.

Me levanto e caminho até a janela, por onde observo o dia enevoado, que continua tingido pela neve branca. A parte mais rigorosa do inverno finalmente chegou e junto com ela um sentimento que eu não devo sentir. Eu o amo, mesmo que não deva, eu o amo.

── Noona, você está bem? ── ouço sua voz e me viro para encará-lo, que me olha atento, como se eu fosse frágil e precisasse de constante cuidado para não partir.

── Sim. ── volto até a cama e me sento na beirada, ainda sob seu olhar. ── Precisamos conversar sobre o que aconteceu ontem.

── Noona, apenas esqueça. ── Jimin se levanta e passa a mão pelos cabelos, que vão brevemente para trás, mas retornam à frente do seu rosto.

── E se eu não quiser esquecer? ── seu olhar muda de cor, se torna escuro e percebo que pode ser uma falha.

── Você está disposta a morrer por uma máquina que pode ser descartada? Noona, não deixarei que faça isso. ── os olhos azuis voltam e eu franzo o cenho.

── Talvez seja o meu destino. ── fico de pé, dou a volta na cama e me aproximo dele, que tenta se afastar, mas é pego por minha mão fria. ── Me ofereça alguma felicidade, por favor.

── Acha que vai tocar em meus sentimentos? Eu não tenho sentimentos. ── ele se afasta e me dá as costas. ── Não quero mais que me toque, não quero que me diga palavras bonitas e, por favor, evite se encontrar comigo. Se quiser, posso ficar no laboratório até ter que ir para o hospital. ── sua voz está carregada de uma frieza que faz meu coração doer, estou decepcionada e sinto minhas esperanças serem esmagadas por suas mãos fortes. ── Viveremos como deve ser, criadora e criação. ── após isto ele caminha até a porta e sai do meu quarto, que se torna enorme e dolorosamente frio sem sua presença.

Caio de joelhos e me entrego às lágrimas. Por longos anos eu me privei de felicidade, por longos anos vivi apenas eu e eu mesma e agora que vejo uma esperança em um lugar que não deveria haver nada, esta migalha de bom sentimento é arrancado de mim.

Jimin jamais corresponderá ao que sinto, ele não se importa, nem há como, ele é uma máquina.

(...)

Os dias se passam e meu contato com Jimin é apenas por motivos de extrema importância. Fiz uma avaliação nele, que esteve todo o tempo desligado, e percebi que não havia nada de errado com seu sistema, um alívio, mas a mudança da cor dos seus olhos continuavam acontecendo, principalmente quando ele se irritava ou evitava falar algo.

Comecei a observá-lo de longe, mesmo que fosse doloroso vê-lo e não poder tocá-lo, mas mesmo assim fiz. E a cada dia seu comportamento foi se tornando mais estranho, chegando ao ponto dele desligar por não estar se recarregando. Eu percebi que ele não queria mais existir, não queria mais estar perto de mim, provavelmente para evitar que eu continuasse a nutrir umas sentimento impossível.

E agora, enquanto a neve branca cai do lado de fora da casa e o relógio marca três da tarde, estou na biblioteca esperando que ele atenda ao meu pedido e que venha ao meu encontro.

Os minutos se passam e quando sua figura pálida entra no cômodo meu coração bate forte, ele é o único capaz de gerar isto em mim. ── Por que me chamou?

── Quero saber o que está acontecendo com você. Segundo as minhas avaliações, seu sistema está em perfeita ordem, mas você parece estranho. O que há? ── seu olhar encontra o meu e parece carregado de um sentimento que conheço muito bem. Tristeza.

── Eu pensei muito, mesmo que eu seja uma máquina, e preciso te pedir algo. ── aceno para que ele continue a falar. ── Eu quero ser desligado.

── O que? ── me coloco de pé e bato as mãos no tampo da mesa de madeira. ── Enlouqueceu?

── Não. Você tem uma doença rara, que pode te matar a qualquer minuto e mesmo assim tem tendências autodestrutivas. Noona, pensa que não ouço seu coração? Ele muda quando estou por perto, e ele não pode mudar.

── Esta vida miserável é minha e eu escolho quando acabará.

── Eu não deixarei fazer isso. Olha, será melhor para todos se o projeto 001328 seja encerrado. Você voltará a ficar de bem com sua babá, poderá viver saudável até encontrar uma cura e eu enferrujarei no laboratório, de onde nunca deveria ter saído. ── não consigo acreditar no que estou escutando, não consigo acreditar que a idéia de eu o amar o afete tanto quando não deveria afetar nada.

── Por que pensou em tudo isso? ── dou a volta na mesa e me aproximo dele, que se escolhe. ── Por que está pensando!? ── grito. ── Não percebe que a minha cura é você?

── Não, não sou. Seu coração ama alguém que não é capaz de nada, que não pode te amar. E eu pensei em tudo isso por que você não consegue raciocinar, está tão focada em algo que te matará, que não consegue pensar! ── ele altera sua voz e fala alto comigo enquanto seus olhos se tornam outra vez escuros como a noite.

── Ao menos uma vez na minha vida eu não quero pensar. ── findo nossa distância e seguro seu rosto entre minhas mãos. ── Deixe que esse amor surreal me mate, mas me faça sentir viva enquanto eu respirar. ── tomo seus lábios cheinhos com os meus e durante o beijo carregado de sentimentos da minha parte, sinto nossos lábios ficarem molhados. Me afasto rapidamente e com os olhos arregalados observo Jimin, que está fazendo algo que jamais pensei ser possível.

Ele está chorando.

Coração de Robô (Concluída)Where stories live. Discover now