Unilateral

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"Te amar é como caminhar em uma fina linha
Estou entre a vida e a morte fria
A realidade e a surrealidade
E a sanidade e a completa insanidade" Sue.

~ 6 ~

A neve cai do lado de fora da casa antiga enquanto meus olhos observam o jardim tingido deve branco. Estou com frio e estranhamente faminta, mas totalmente indisposta para sair do meu quarto. Faz uma semana desde que dancei com Jimin e tive a certeza de que estou nutrindo muito mais do que um sentimento de criadora para com a sua criação. Ele faz meu coração doente bater forte e beiro a morte todas as vezes que ele se aproxima.

Sabe o que é isso? Amar alguém que pode te matar sem ao menos te tocar simplesmente pelas emoções que ele te causa? Eu sou alguém fadada a viver isso e a cada dia sinto mais vontade de fugir, embora não consiga. Eu sei que um lado meu o quer, mesmo que custe a minha vida, mas o meu outro lado deseja viver, mesmo que para isso eu tenha que sentir saudades do meu anjo de olhos azuis.

── Noona... ── ouço sua voz e viro na direção da porta, que está aberta. ── Está tudo bem?

── Sim. ── respondo enquanto observo seu corpo. Jimin está vestido com um conjunto de moletom e usa em seus pés um par de Converse. ── O que veio fazer aqui?

── Faz uma semana que você não sai direito deste quarto, noona. Eu fiz algo? ── abraço meu corpo com meus próprios braços e respiro fundo, tanto, que sinto a pele do meu pescoço esticar e minha clavícula ficar exposta.

── Venha cá, Jimin. ── ele caminha lentamente até mim e seus olhos vãos dos meus à janela, que proporciona a bela e melancólica imagem da neve fofa caindo sobre o lugar.

── Eu gostaria de tocar a neve. ── ele sussurra. ── Eu posso? ── seus olhos retornam aos meus e assinto. Abaixo meus braços e seguro sua mão. o guiando até a porta da sacada, a qual abro. Do lado de fora sinto o frio me castigar. ── É lindo. ── ele desfaz o toque das nossas mãos e olha para o céu com os olhos fechados, como se quisesse ser acariciado pelos flocos de cristal. ── Gostaria de ser humano, noona.

── Por quê? ── o questiono intrigada enquanto tento me aquecer, definitivamente não estou pronta para baixas temperaturas.

── Mesmo que eu me esforce ao máximo, ainda não sinto nada. Eu não sinto o frio que umas humano sente e eu gostaria de ser capaz de sentir. ── me aproximo dele e levo minhas mãos ao seu rosto, o qual trago para perto do meu. Nossos olhos se prendem como imã e metal e encosto nossas testas.

── Juro que se eu pudesse, você seria humano. ── fecho meus olhos e puxo o ar com dificuldade, estou beirando um colapso inesperado. ── Te faria ser capaz de sentir tudo, de viver, de amar. ── uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto e volto a olhá-lo. ── Mas eu não posso, Jimin, eu não posso. ── neste instante tudo se torna escuro e eu acabo perdendo os sentidos.

(...)

Quando desperto, já não é mais dia. O clima continua gelado e o único som que meus ouvidos captam é da lareira, que estala ao consumir a lenha. ── Eu estava preocupado com você. ── busco a voz angelical e encontro Jimin sentado em um poltrona, com o tronco despido, enquanto vários fios estão conectados ao seu corpo. Ele me observa atentamente enquanto se carrega.

── Sabe que precisa estar em modo de descanso para se carregar, não é? ── vocifero totalmente rouca.

── Não pude apagar sendo que você estava desacordada e tão pálida.

── Como você cuidou de mim?

── Toda a inteligência que você colocou em mim finalmente foi usada. Eu administrei algumas doses dos seus remédios e mantive seus batimentos sobre observação, para ver se ficaria tudo bem.

── Se não ficasse?

── Não existe esta possibilidade. ── viro minha cabeça baixa direção oposta à que ele está e volto a falar.

── Sabe por quê me mantive afastada durante uma semana?

── Por que?

── Porque quando estou perto de você sinto que posso morrer a qualquer minuto. Jimin, eu não posso te amar, por mais que eu queira, eu não posso.

── Então não me ame. ── busco outra vez sua figura e o vejo desconectar os fios do seu corpo, depois se colocar de pé e caminhar até mim. ── Afinal, este amor seria unilateral e só te faria sofrer.

── Você não entende, não é? ── me sento na cama e ela senta a minha frente, perto o suficiente para me tocar na hora que desejar. Seus olhos estão carregados de uma intensidade perturbadora e eu o desejo como umas louca, desejo que a minha criação perfeita se entrelace em mim e una as nossas vidas.

── O que eu devo entender? ── ergo minha mão e deslizo pelos seus cabelos macios, Jimin fecha os olhos e parece um gato manhoso ao receber carinho.

── Por você eu sofreria, o meu lado que deseja isso é muito maior do que meu medo e racionalidade. Jimin, você me faz sentir coisas que em minha vida triste eu não fui capaz de sentir.

── Eu não sou real.

── É sim, você é real para mim. ── o puxo para os meus braços e o abraço apertado. ── Não sabe o quanto é real. ── eles nos afasta lentamente e aninha meu rosto em suas mãos macias.

── Eu gostaria de ser capaz de te amar como umas humano faria, não sabe o quanto este desejo me atormenta. ── seus olhos vão dos meus aos meus lábios e em segundos a mínima distância que me impede de enlouquecer é findada e sou presenteada com a doçura das suas promessas que jamais poderão ser realizadas.

Seu beijo é doce, viciante, calmo, eletrizante.

Minhas mãos tocam seus cabelos e com um selinho nos afastamos. ── Venha cá, noona. ── ele se deita na cama e me puxa para deitar sobre seu peito, que é duro, mas acolhedor. Fecho meus olhos enquanto ouço seus corações de metais vibrarem e me sinto em casa até que ele sussurra como um doloroso pedido. ── Não me ame, por favor.

Coração de Robô (Concluída)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora