8 - Verdadeiras intenções

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De arma em punho, observei o meu oponente. Eu realmente não queria ter que usá-la. Depois não digam que eu não avisei!

— Não é lábia. —  respondi. —  É a verdade, Sr. Henrique. E espero realmente nunca ver a Alma, assim como o senhor, se debulhando em lágrimas com um filho sem o pai para criá-lo, porque isso faria de mim corno. Essa criança não é minha. Quando ela tiver um filho meu, já estará usando isso. — segurando o objeto entre os dedos, abri a caixa de veludo. — A criança será meu filho de forma legal. Assim como Alma Arantes Ferraz, um dia será Ávila de forma legal.

O homem empalideceu, boquiaberto, encarando a aliança. Eu disse que não queria usar essa arma a menos que não tivesse escolha. Ele não me deu uma.

Ainda bem que o pai dela estava sentado, ou teria caído. Tenho certeza que suas pernas ficaram bambas.

Ele levou a mão ao coração e foi ficando cada vez mais branco. Shiii, matei o velho de enfarto! Será que era melhor ligar de uma vez para a emergência?

— Senhor? Está se sentindo bem? — por favor não morra no meu sofá!

O Sr. Henrique não respondeu e não tirava os olhos do anel. Quando a minha mão fazia um movimento, para onde eu mexia a caixa ele a seguia, embasbacado. Resolvi deixar o objeto pousado sobre a mesinha de centro. Levantei-me e peguei um copo com água na cozinha. Talvez assim lhe passasse o torpor.

— Senhor, talvez seja melhor beber um pouco d'água. — segurei o copo cheio bem na frente da caixa vermelha para que ele conseguisse enxergar o objeto que eu lhe oferecia.

Funcionou. O pai dela pegou a bebida, a princípio de forma automática, enxugou a testa suada com a mão vazia e depois bebeu tudo de uma só vez. Quando terminou falou:

— Mas ela só tem dezessete anos. E você... só dezoito!

Vinte, na verdade. O comentário dele me preocupou. Será que eu teria que explicar a teoria da idade e do amor de novo?

— Vocês não passam de crianças! — ele me olhava como se eu não fosse real.

— É por isso que espero que saiba guardar o meu segredo. — falei.

— Ainda não falou sobre isso com ela? — os olhos dele se iluminaram.

— Não, senhor. — respondi.

Ele respirou visivelmente aliviado, se recostou na poltrona e alisou o próprio rosto várias vezes.

— Ufa! Ainda bem. Já estava com medo que fosse entrar na minha casa amanhã dizendo que vão se casar no domingo!

Dei uma risada. A tensão do ambiente estava finalmente se anuviando.

— Pretendo esperar alguns anos para isso. Ela ainda é muito jovem.

— Falou o ancião de cabelos brancos. — Henrique disse com uma pontinha de sorriso.

— Mas posso adiantar se achar que é mais adequado. — provoquei.

— Não, não. — ele voltou a ficar branco. — Alguns anos está ótimo! Posso? — apontou o anel.

— Claro.

Com a agressividade substituída por uma mistura mais intrincada e complexa de sentimentos, ele estendeu a mão e retirou o objeto de seu ninho. Novamente recostado no sofá, a joia era girada em suas mãos, prendendo-o a pensamentos que guardava apenas para si. Uma aliança em ouro branco cravejada de diamantes negros. Exatamente como o mundo secreto que olhava para mim de dentro dos olhos dela.

Tempo Quebrado | 2Onde histórias criam vida. Descubra agora