12 - Surpresas

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Não prestei atenção aos protestos tolos que Alma pronunciava. Ela ainda estava de pijama e se negava terminantemente a ir comigo ao hospital. Teimosa!

Não precisava da colaboração dela para levá-la. Já não precisaria em circunstâncias normais, mas naquele momento, com ela tremendo e sem cor... tinha medo que se quebrasse sob um movimento brusco.

Com ela no colo, desci as escadas do prédio. Afivelei o cinto de segurança em volta do corpo dela. A moça estava fria e molhada.

O trânsito, naquele dia em especial, parecia estar abarrotado de veículos e andar em marcha tão lenta quanto uma tartaruga paralítica. De ré talvez chegássemos mais rápido!

No meio do caminho Alma tombou a cabeça para trás e prendeu o nariz entre os dedos.

Carissimi, o que está sentindo? — perguntei aflito.

— Que vamos morrer antes de chegarmos ao hospital se você continuar dirigindo desse jeito. Pode, por favor, olhar para a rua? E para de costurar entre os carros, não quero que seja preso por direção perigosa, que é exatamente o que está fazendo agora. — ela tinha parado de tremer e as bochechas estavam ficando coradas. — Tem algum papel aqui, que eu possa usar, por favor?

Tinha uma camisa no banco de trás, estendi o braço, peguei o tecido e entreguei a ela.

— Toma. — reduzi um pouco a velocidade e tentei me acalmar. Ela tinha razão, um acidente não ajudaria em nada.

Alma embolou o tecido sob o nariz, que logo foi se manchando de carmim à medida que ela ia limpando o rosto. Misericórdia. Aquilo era muito sangue!

Alguns minutos depois, Finalmente parei o carro na porta do hospital, mas fui obrigado a olhar para ela, confuso e atordoado. Sã. Ela estava completamente corada e sorridente.

— Acho melhor fazerem alguns exames em você. — falei sem entender o que estava acontecendo ali.

— Por que o meu nariz sangrou um pouco?! — ela me estendeu a camisa suja. — Pode levar para eles analisarem, então.

— Quero que eles analisem você. — rebati.

— Eu não vou entrar ali. — ela apontou. — Em primeiro lugar, estou de pijama. Em segundo, não tenho nenhum documento porque você saiu desesperado de casa. Em terceiro, estou repetindo isso há séculos, mas você não está me ouvindo: foi só uma hemorragia nasal! Nada mais. A bagunça pode parecer um pouco assustadora, mas é só isso, bagunça. Por isso não queria que você visse. Eu sabia que você iria surtar, exatamente como você fez.

Fiquei olhando para ela sem acreditar. Era possível que aquilo estivesse acontecendo? Ela começou a rir.

— Mas talvez eu devesse entrar para acompanhar você. Está branco como papel. Se desmaiar aqui, não vou conseguir arrastá-lo para fora.

Uma hemorragia nasal?! É. Uma hemorragia nasal. Mas ela tinha ficado tão pálida... como podia estar tão normal diante de mim? Rindo com o bom humor de sempre?

— Agora podemos ir pra casa? A minha mãe deve estar louca de preocupação. Não sei se percebeu, mas ela também estava lá. E como você a ignorou completamente e saiu como um raio de casa ela já deve estar de cabelos em pé.

Fernanda. Depois de ver a bagunça no banheiro, não me lembrava muito da mãe dela. Acho que a mulher tentou falar alguma coisa comigo, mas não tenho certeza. Suspirei e tirei o celular do bolso da calça.

— Diga que vamos para casa. — entreguei o aparelho à moça que ainda me deixava intrigado, sentada com tanta naturalidade no assento do passageiro ao meu lado.

Tempo Quebrado | 2Onde histórias criam vida. Descubra agora