Capítulo Um: Sem Saída

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Desperto, já em estado de alerta. Meus olhos abrem e fecham desesperadamente em busca de qualquer fonte de luz. Me encontro em completo breu, em uma superfície gélida e com dores pelo corpo inteiro.

Não faço a mínima ideia de onde estou, se estou bem, que horas são, que dia é. Ou até mesmo se estou viva. Esse breu absoluto não é exatamente um ótimo indicativo de se estar no mundo carnal.

Poderia tudo ter sido apenas um sonho. Uma piada de mau gosto — mas, não. Flashes nebulosos e turbulentos passam pela minha mente em alta velocidade, pertubando-me com os recentes ocorridos.

Além disso, a dor da pancada se irradia da minha nuca pela cabeça inteira. Esse pode ser um lembrete sem graça de que, sim, estou viva. Para o meu azar.

Aquele cadáver;

Aquele homem;

A carnificina que presenciei;

Tudo atinge-me feito um soco na cara.

Nunca me senti tão impotente. É como se eu tivesse feito o papel de uma marionete. Foi como estar em um parque de diversões e embarcar em um trem fantasma, onde tudo é premeditado. Um trem fantasma sem saída. Eu não tive a mínima chance de fugir. Cada passo, cada decisão que tomei aquela noite pareciam ter sido esperados por aquele desconhecido.

Uma súbita raiva me atinge, me fazendo querer gritar. Estou com medo até mesmo de sair do lugar e acabar morrendo. Ou sei lá que coisa DOENTIA acontecer.

Pela primeira vez, desejo ir pra casa. Aquele maldito lugar é um paraíso comparado a onde estou.

Sou arrancada de volta para a realidade ao me assustar.

Um grito doloroso ecoa pelo lugar, seguido por súplicas e soluços. Me encolho ainda mais, abraçando os meus joelhos. Essa pessoa está implorando para morrer. Engulo seco na mesma hora. O que diabos alguém pode sofrer para implorar pela morte? As possibilidades que se passam pela minha mente embrulham meu estômago vazio.

O som se aproxima ainda mais, assim como o tintilar de pesadas correntes se arrastando pelo chão.

Ouço um estalo e luzes começam a acender uma por uma. Meus olhos se fecham com a claridade da iluminação artificial. Aos poucos me acostumo com a luminosidade, que na realidade, é fraca e antiga.

Fico sem reação ao olhar ao redor. Um arrepio percorre minha espinha.

Celas, como em uma prisão. Ou como um zoológico. É animalesco.

O lugar é pequeno, contendo seis celas e um largo corredor. Sobre o chão: não sei como identifiquei sua cor cinza; está coberto por ambos sangue fresco e sangue seco. As paredes não possuem uma janela sequer e estão no mesmo estado do chão. O cômodo fede a metal e podridão. Não possui nenhuma escapatória visível. E se parece muito com um antigo frigorífico — esse pensamento me faz arrepiar. Correntes com ganchos enferrujados pendem do teto; alguns deles possuem pedaços de carne completamente negros devido a decomposição. O cheiro que isto emana é nauseante. Evito olhar por muito tempo, agora tendo ciência das pequenas larvas que corroem a carne apodrecida. Uma das peças perfuradas pelos ganchos assemelha-se a uma cabeça.

Em cada uma das celas, apenas uma pessoa — o que considero como regalia. Não gostaria de ter um companheiro de cela, dadas as condições das outras vítimas. Todos estão em péssimo estado físico, alguns aparentemente delirantes. Gemidos e sussurros tomam conta do local. Isso é desumano. As pessoas aparentam estar aqui a muito tempo, presas em jaulas e humilhadas feito animais; não muito diferente de um show de horrores.

Alguns me olham com pena. Outros dirigem seus olhares vazios para mim. Isso já é o suficiente para me fazer entender. Eu vou morrer aqui e tenho que aceitar isso de boca fechada. E isso vai demorar.

A Nova Proxy | Jeff The Killer {EM REVISÃO}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora