Capítulo Dois: Jeff, The Killer

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— Bom trabalho. Nada mal pra sua primeira vez.

A chuva cessou. O silêncio toma conta da imensidão da floresta. Meus pensamentos, de contrapartida, são ensurdecedores.

O assassino acende um cigarro, se dirigindo até mim.

Leva uma das mãos até meu rosto, acarinhando-me com os nós dos dedos.

Me sinto mal e fraca. Minha pele queima, calafrios percorrem-me o corpo inteiro.

Observo suas orbes ônix, buscando desesperadamente por qualquer resquício de humanidade em sua alma. Por qualquer resquício de emoções que possam me fazer sentir compreendida ou acolhida.

Ele sorri. As cicatrizes esticam-se em um sorriso sinistro. Sua risada sarcástica atinge-me feito uma estaca no peito.

O mundo me parece cada vez mais distante e sombrio.

Levo uma das mãos até seu rosto, sentindo-me cada vez mais distante.

Fecho os olhos e me deixo ser tomada pela escuridão, perdendo a consciência lentamente.

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Vejo alguns vultos em meio a penumbra, mas logo volto a fechar as pálpebras exaustas.

Estou sendo carregada por alguém.

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Lentamente volto á consciência. Estou deitada em um sofá, dentro de um cômodo quente e aconchegante. Meu corpo mole mal consegue se mover e estou queimando em febre. Puxo a manta que me cobre até a altura da boca e afundo ainda mais meu corpo dolorido no sofá.

O chão e as paredes desse quarto são de madeira escura e as únicas coisas que tem aqui são uma lareira de tijolos acesa, o sofá verde-musgo onde estou deitada e uma mesa central. O que julgo ser uma janela está selada com tábuas de madeira. Mesmo se tivesse forças, não faria o esforço de tentar abrir a porta. Julgando pela janela, imagino que não tenha sido resgatada.

Mesmo esperando que não, sei que quem me trouxe aqui foi ele.

Ouço passos se aproximarem ao outro lado da porta. Fecho os olhos e finjo estar dormindo. Não estou pronta para ver aquele homem mais uma vez.

Como esperado, um rangido anuncia a abertura da porta. Passos pesados ecoam pelo pequeno cômodo.

Meu corpo treme de forma involuntária. Me amaldiçoo e espero que ele não perceba.

  — Haha.

 

Ele ri cinicamente.

Abro meus olhos — ele já percebeu. Como não perceberia?

Com dificuldade, sento-me sobre o sofá.  Ao olhar para meu próprio corpo, coro violentamente. Estou apenas de camiseta e roupas íntimas, e com certeza essa camiseta não é minha. O tecido preto bate-me no meio das coxas. Lembro-me claramente de vestir jeans e moletom antes de desmaiar.

Essa não é a minha maior preocupação agora, entretanto, não sei onde enfiar a minha cara. Ele continua sendo um homem, afinal. E insano. Não sei mais do que infernos ele seria capaz de fazer.

  — Esse não é o seu maior problema agora. — Seu tom é cortante. Ele se aproxima e senta no sofá, distante.

Por acaso pode ler meus pensamentos, também?

O homem parece querer falar alguma coisa. Hesita muitas vezes e não diz nada. Isso me deixa curiosa, mas prefiro não tocar no assunto.

Ele joga uma cartela de remédios sobre mim e desvia o olhar. Pareceu incomodado com isso. É um remédio para febre e dor de cabeça. 

Haha. Dê uma pancada na cabeça de alguém e depois dê remédios para dor.

"Se você não falar alguma coisa, vou ser eu quem vai comer sua língua, e não o gato."

A idéia me faz ter arrepios. Me forço a balbuciar qualquer coisa:

  — Não nos conhecemos formalmente.

 

Nunca gaguejei tanto. Sei que soei extremamente ridícula. Ainda me sinto trêmula.

Ele torce o nariz, e respira fundo antes de dizer:

  — Jeff.

Era óbvio. Jeff, the killer. Por isso ele me olhou com desdém. Como pude ser tão estúpida? Ele é um dos mais perigosos dos assassinos. Não reconhecê-lo deve ter sido como um insulto.

Então, ele forjou sua própria morte. Lembro de ver nos noticiários algo sobre terem o encontrado morto.

  — E onde estamos? -Me encolho, desviando o olhar.

Jeff não se dá ao menos o trabalho de olhar para mim. Ele olha para as chamas criptantes da lareira.

Já eu foco em esconder o meu medo. Mesmo não sabendo o motivo, ele parece não querer me matar — pelo menos, não agora. Vou tentar não estragar isso no momento.

  — Na minha casa. — responde como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
 

— Ah, entendi. — murmuro de forma sarcástica.

Eu estou na casa de um assassino em série.

Ótimo.

Perfeito.

Ele põe uma das suas mãos gélidas em meu pescoço, me tirando dos meus pensamentos.

Recuo instintivamente. Não confio nesse filho da puta, e com motivos mais do que plausíveis. Jeff não parece se importar, entretanto.

— Faça alguma coisa estúpida que eu chuto o seu cadáver até aquela cela suja.

É a única coisa que diz antes de sair do quarto.

Ele deixa deixa a porta aberta.

O que infernos isso significa? 

Permaneço sentada. E se sair daqui for uma "coisa estúpida"?  Sei muito bem que ele me deixaria apodrecer naquele cubículo. Mesmo morta, isso é um pouco triste, não? De qualquer forma, não imagino o que me aguarda fora desse cubículo.

Me deito novamente, tentando enxotar para fora os pensamentos sobre sair daqui.

Passo os dedos entre meus caracóis negros em uma tentativa de distração. Meu cabelo está como o imaginado para uma pessoa que foi perseguida, levou uma bela de uma surra e foi obrigada a ficar meia-hora em uma tempestade. 

Pelo menos o sangue do meu corpo foi embora com a chuva. Isso era para ser bom? Soou um pouco patético.

Suspiro, impaciente. Os meus pensamentos banais não dão conta de me distrair da situação toda.

Ficar aqui vai ser um pé no saco.

A Nova Proxy | Jeff The Killer {EM REVISÃO}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora