Poeira e Gás

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Olá, pessoal, aqui é o Benjamin de volta ao lugar que me foi roubado pela Rita. Sim, partir de agora, vou chamar "a menina do acidente" de Rita, então se acostumem com esse nome. Ou não, pode ser que daqui a alguns dias ela decida mudar de nome ou melhor ainda, ela lembre dele completo. Por isso, digo na minha melhor voz de narrador: não percam os próximos episódios.

Enfim, depois da conversa com a Rita, me senti mais tranquilo e o restante do dia foi... melhor que o normal. Mas minha felicidade só durou até o final do expediente, porque o gerente me chamou para uma conversa e se o chefe quer falar em particular com seu empregado, é muito provável que o proletariado não goste do que vai ouvir. Suspirei e entrei na sala dele.

— Senta aí, Benjamin. — Pediu, enquanto vasculhava alguns papéis e gavetas. — Relaxa, você sabe que eu não mordo.

Sentei e cruzei os braços. Realmente não era minha primeira conversa com o chefe mas todas as vezes eram assim. Como eu poderia fazer para melhorar a situação? Eu deveria falar alguma coisa? Minha cara estava legal? Era o que eu me perguntava entre outras coisas, um pouco nervoso, mas só um pouco.

— Quero falar dos seus atrasos. — Parou de mexer nas coisas da mesa e pegou um papel que parecia uma planilha, tinha os nomes dos funcionários, números e pontos ao lado. — Hoje já foi o quarto do mês e ainda estamos na segunda, terceira semana do mês?

— Segunda. — Respondi encabulado. Minha sinceridade podia me ferrar, mas mentir para chefe pode ser mais perigoso ainda.

— Então, Benjamin. — Me encarou. — O mês tem quantas semanas?

— Quatro.

— Então, temos duas semanas e quatro atrasos. — Falava e mostrava a contagem nos dedos. — Se continuar assim, o padrão será dois por semana talvez e o que me garante que no final do mês não terão 8 dias? E isso é uma semana, não é?

Concordei com a cabeça, olhando para baixo.

— E essas horas atrasadas vão sendo contadas e eu não sei se dá um mês. — Bufou, arqueou as sobrancelhas e fez bico. — Presta atenção, meu filho.

Ele fez uma pausa e eu assenti.

— Olha, você é um dos meus melhores funcionários, sei que você faz seu trabalho direito. Muito bem, aliás. Mas preciso saber se posso contar com você pelo que estou te pagando. — Salário. Tava demorando para a conversa esbarrar nesse tema. Respondi com a franqueza do bom profissional que era:

— Pode sim, seu Lúcio.

Ele respirou fundo e pigarreou.

— Isso aqui é só uma chamada, tá bom? Nada irá se alterar. Por enquanto.

— Tá, sim.— Peguei a planilha da mesa, devagar. Nunca fui de chegar tarde, mas agora com a Rita, estava ficando difícil conciliar com as visitas. Se ao menos eu tivesse um horário mais flexível... e não é que tive uma ideia? — Seu Lúcio, eu juro que vou me esforçar para isso não acontecer mais, contudo, todavia,porém, entretanto, mas, se acontecer... eu fico a disposição para fazer hora extra. Sem pedir para o senhor me pagar a mais.

Ele colocou a mão no queixo e permaneceu em silêncio por uns segundos com uma expressão pensativa, até que abriu a boca.

— Vou pensar no seu caso, mas por hora, está dispensado.

Apertamos as mãos e eu fui embora. Enquanto voltava para casa, pensava preocupado que se ele não aceitasse minha ideia teria sérios problemas para manter meu emprego na situação em que estava agora. "Foco, Benjamin!" repetia para mim mesmo, enquanto minha cabeça dava loopings.

Estrelas PerdidasWhere stories live. Discover now