Capítulo 1

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6 anos antes

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6 anos antes ...


— ... Nesse sentido, o próprio debate filosófico girava em torno do surgimento da chamada sociedade civil. Aqui, vocês devem observar que os estudiosos da época estavam empenhados em compreender a formação do Estado e a origem... - eu me virei, bem a tempo de ver o deslocamento rápido, para o fundo da sala, de alguém que acabava de entrar? Quase uma hora depois que a minha aula havia começado, observei, dando uma espiada em meu relógio de pulso de modo bem evidente. O vulto de um cabelo completamente vermelho prendeu a minha atenção, e eu franzi a testa, incomodado tanto com o horário como com o reconhecimento de quem era o aluno que estava chegando agora. O aluno não, a aluna.

Parei de falar e me desloquei mais para a frente da sala. Aquela era uma turma de segundo período do Curso de Ciências Sociais, e eu finalmente consegui organizar a minha vida a fim de ministrar aquela disciplina, que era uma das que eu mais gostava, já que o processo de estudos intensivos para o concurso da Promotoria tinham tomado todo o meu tempo no semestre anterior.

Além disso, eu gostava de me afastar às vezes das aulas do Curso de Direito para dar aula em outro departamento, mas já havia feito isso quando iniciei como professor, e sempre fazia questão de estar ali para essas disciplinas de cunho mais filosófico. Então, mesmo com todo o trabalho no meu novo cargo, eu tinha conseguido encaixar aqueles dois dias na semana para ir à Universidade e fazer algo que eu gostava e respeitava muito, e estar no horário certo para iniciar a aula. O certo mesmo é que eu era rígido com questões de horários, todos os meus alunos sabiam disso, em ambos os departamentos, mas ao que parecia, aquela ali tinha decidido ignorar essa informação.

E era segunda, não, talvez a terceira vez que ela, sempre sentando-se lá atrás, entrava furtivamente, quase sempre atrasada, enquanto todos os outros alunos já cientes dos meus critérios e da forma como eu dirigia as minhas aulas, faziam questão de serem mais respeitosos. Eu não tinha dito nada antes, por que pareciam atrasos menores, mas agora ela tinha ultrapassado o que poderia ser considerado aceitável.

Cruzei os braços sobre o peito, em silêncio, por um momento, e a turma ficou logo muito quieta, alguns entreolhando-se, sem compreender o motivo de eu haver parado, mas entendendo que havia um problema. Eu mantinha geralmente uma postura muito firme com os alunos, principalmente com as alunas, diga-se de passagem. Eu tinha iniciado cedo, sabia que era relativamente jovem para um professor universitário, e às vezes as coisas podiam confundir-se muito rapidamente, se você não impunha limites. E fazer isso não era muito difícil para mim, que mesmo na vida pessoal fazia questão de manter uma certa ordem nas coisas. Não à toa meus irmãos e amigos viviam implicando com a meu jeito de ser, justamente por que era muito diferente do modo com eles se comportavam.

Não demorou e eu estava sendo chamado de "Mister Freeze", Sr. Engomadinho, Diego, o Babaca (uma aluna rejeitada havia feito esse apelido correr pelo campus), ou então de coisas como chato, imbecil, arrogante, metido, prepotente, implacável. A lista era extensa. Até gay já resolveram dizer que eu era - quando me viam declinar educadamente de certos convites nem tão sutis que algumas alunas faziam para mim.

DIEGO  Série Avassaladores Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora