CAPÍTULO 18- NA CASA DE ÁLEX

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Álex esperou o efeito da droga passar, antes de se levantar do chão onde se sentara.

Apagou a lâmpada azul, as velas e recolheu os objetos sagrados que havia trazido.

Abriu as cortinas e a luz da tarde voltou a invadir o ambiente.

Olhou para o rapaz que ainda ressonava no chão, alheio ao homem que o observava em silêncio.

Álex tentou encaixar a visão que tivera em sua viagem pela memória de Tiago naquela que estava ali aos seus pés. Não deu.

O rapaz de agora nada tinha daquele que ele vira: nem o viço, nem a alegria, nem o vigor, nem a aparente juventude de um homem de 25 anos, que aparentava ter menos de vinte...a ausência de cabelos, as cicatrizes ainda tão visíveis, as costelas à mostra...

Novamente, o médico ficou surpreso por perceber que o seu peito doía e ele sabia que não se lembrava da época em que sentira tanta pena de uma pessoa.

Era estranho porque, até então, a pena sempre lhe remetia a alguém inferior a ele e agora...ele ficou confuso mais uma vez: quem era Tiago realmente? Por que ele, e não outro homem, fora escolhido pelo mestre Tanko?

_Mestre Tanko...o senhor não me preparou pra isso..._sussurrou o médico meneando a cabeça. _Eu nunca poderia imaginar que teria que salvar a vida do meu próprio mestre, além de prepará-lo para assumir o papel de meu superior.

O médico passou as mãos pelos cabelos: aquilo era uma loucura, uma loucura!

Como se respondesse as suas dúvidas, novamente várias correntes elétricas o lembraram que aquele não era um indivíduo comum, mas o seu futuro mestre e, talvez só por isso, ele não se atreveu a associar Tiago a um ser inferior, mesmo estando naquela posição tão decadente física e emocionalmente.

Um ódio inesperado o invadiu ao se lembrar que fora Donato o culpado daquilo tudo! Seria capaz de matá-lo com suas próprias mãos, se ele estivesse ali!

Somente um homem covarde para agir daquela forma contra alguém que acabara de lhe salvar a vida...alguém que acabara de lhe declarar amor.

Tiago estava frágil, indefeso, vulnerável ali naquela cozinha e acabara de se jogar na frente do corpo de Donato, quando, afetado pela adrenalina da situação e pela possibilidade de perder o homem que amava, declarou o seu amor.

Era um mundo estranho, Álex já sabia, onde o amor é recompensado com o ódio, mas mesmo assim, aquilo o machucou.

Álex ajoelhou-se, olhando para Tiago com um respeito que ele não sabia que existia nele e mesmo não sabia de onde nascia.

Tocou o rosto com as pontas dos dedos e contornou cada um de seus traços...suas cicatrizes...

Doutor Álex Toledo, um dos maiores fisioterapeutas do mundo, detentor de conhecimentos místicos poderosíssimos, jurou para si mesmo que ajudaria Tiago a se recuperar daquele episódio de uma vez por todas.

A saúde física e mental, destruídas por Donato, voltariam. Os cabelos voltariam a crescer, as cicatrizes desapareceriam, curaria o seu pé. Tiago renasceria mais vivo, mais saudável, mais forte do que nunca, mais seguro...como convinha a um mestre.

Com a ajuda de Álex, ele esqueceria daquele ataque brutal e injusto...daquela homofobia monstruosa praticada por alguém tão amado que o havia rejeitado daquele jeito.

O coração do fisioterapeuta foi invadido lentamente por uma ternura que ele nunca havia experimentado por pessoa alguma neste mundo.

Não soube explicar como  não percebera o passar do tempo: ficara ali, apenas observando Tiago, em silêncio, ensimesmado daquele jeito.

O SINAL DE CAIM-Armando Scoth Lee-romance gayNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ