CAPÍTULO 21-DONATO ASSUSTA TIAGO

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Naquele dia, Tiago saíra de casa ainda mais cedo, pois chovia forte e ele teria que segurar a muleta com uma mão e o guarda-chuva com a outra. 

Ele estava bem melhor com as massagens e exercícios do doutor Álex, mas ainda estava inseguro de sair apenas com uma das muletas, por isso, foi andando bem devagar.

O rapaz prometera às amigas que pegaria um táxi, mas foi apenas para não preocupá-las. Elas não podiam saber que o dinheiro dele já estava quase no fim e, por isso, ele economizava ao máximo na esperança de voltar a trabalhar antes que ele acabasse. O táxi teve que ser descartado.

Tiago estava concentrado em andar devagar e não cair, quando percebeu um carro parando perto dele.

O rapaz parou imediatamente e o coração quase veio à boca ao ver Donato ao volante.

_Quer uma carona?_o mecânico falou sem olhar para a cara dele.

Imagens de Donato acelerando o veículo assim que ele entrasse e, na sequência, o arremessando para fora do carro o atingiram.

_Não...obrigado. Posso me virar sozinho._gaguejou.

Tiago interpretou aquela expressão como escárnio:

_Estou vendo. Suas amigas não te deram dinheiro para o táxi?_a voz tão amada fez o peito do rapaz doer de saudades, mágoa, mas o pânico superava todas as outras sensações.

Tiago respirou fundo e recomeçou a andar. Melhor seria ir embora e não arriscar-se a falar algo que o irritasse.

De repente, pisou em falso, cambaleou e caiu no chão, numa poça de água.

Assustado, ouviu Donato abrir a porta do carro.

Sem olhar para trás, o rapaz concluiu que ele viria acabar o que começara naquela noite na oficina. A rua estava vazia por causa da chuva forte e seria fácil jogá-lo, sem que ninguém visse,  dentro do carro e, após acelerar, o arremessar no asfalto, ou coisa pior, pensava Tiago.

Tentou levantar-se rapidamente e o resultado foi ainda pior, pois tropeçou num hidrante e voltou a cair.

Já no chão, olhou para trás e a visão que teve o deixou apavorado: Donato pegara a muleta e vinha em sua direção com passadas rápidas.

Tiago encolheu-se da melhor forma possível e cruzou os braços sobre a cabeça, esperando o golpe.

O golpe não veio e ele olhou para ver o que  tinha detido Donato: doutor Álex Toledo segurava firmemente o braço de Don.

Donato era alto e forte, mas o médico também não ficava atrás e, por isso, os dois se encararam sérios na mesma altura.

_O que pretende fazer?_o médico perguntou com seu tom de voz autoritário.

Don puxou o braço com violência, libertando-se:

_Só queria devolver a muleta para o rapaz._disse o mecânico sem saber quem era aquele que o questionava com tamanha autoridade.

_Informou isso a ele ou deixou que ele pensasse que você terminaria o serviço que começou naquela noite?_agora a voz adotara um tom ameaçador que deixou Donato em alerta.

 Percebendo as roupas brancas, intuiu que aquele fosse o filho do doutor João Pedro, o tal fisioterapeuta que cuidava de Tiago numa clínica ali perto.   

Talvez Tiago tenha assustado-se mais do que Donato, pois não sabia que o médico já descobrira a verdade.

Um minuto de silêncio invadiu os três ali, no meio da rua, onde algumas pessoas transitavam sem se dar ao trabalho de observar a cena.

Recobrando-se do susto, Donato olhou para Tiago, ainda segurando a muleta com mão firme, pensando que fora um tolo ao pensar que o seu filho adotivo realmente não o denunciaria pra ninguém.

O mecânico  encarou o rapaz que estava largado no chão, molhado até os ossos pela chuva fria.

Tiago percebeu um ódio quase palpável vindo do pai adotivo:

_Tenho nojo de você...nojo!

A muleta foi arremessada em sentido oposto ao que o rapaz estava, mas, mesmo assim, ele assustou-se pelo impacto que ela provocou.

Donato partiu sem olhar para trás, em alta velocidade, apesar da chuva, deixando médico e paciente sozinhos na rua.

Dr Álex olhou para seu prometido visivelmente preocupado:

_Você está bem, Tiago?

O rapaz tentou fazer com que os dentes parassem de tremer, mas o resultado não foi bom:

_Acho que sim, doutor Álex.

_Machucou o pé?_perguntou em alerta, ao que o rapaz negou com a cabeça, repetindo que estava tudo bem.

Foi só quando o médico estendeu a mão para ele se levantar, que o rapaz deu um grito, ao perceber que não conseguia levantar o braço.

_Droga! Devo ter machucado o ombro na queda!_desabafou.

Tiago assustou-se com a facilidade que o médico abaixou-se e o pegou em seus braços, erguendo-o do chão e o levando para o seu carro.

O rapaz sentiu-se como uma criança sendo carregada daquele jeito, colocada no banco do carro e presa ao cinto de segurança.

Fizeram o restante do trajeto em silêncio, mas Álex notou o quanto Tiago estava desfeito e trêmulo. O médico não soube avaliar se era frio, medo ou dor (talvez as três coisas juntas), mas sabia que, definitivamente, Tiago não estava bem.

O SINAL DE CAIM-Armando Scoth Lee-romance gayWhere stories live. Discover now