Capítulo 30

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Não acredito que estava fazendo isso. Não acredito que estou, em plenos domingo, assistindo um jogo de futebol. Não que eu realmente esteja vendo, não que estar fazendo as unhas na frente da tv signifique que eu esteja prestando atenção em 22 homens retardados correndo atrás de uma bola. Porque não estava. Definitivamente, não. Pra ser bem sincera, eu não teria me lembrado disso se Chris não tivesse vindo para cá. (meu amigo está sem tv a cabo, o que o faz ficar 20 horas no meu apartamento).

Christian: Posso te fazer uma pergunta? –falou com a boca cheia de pipoca.

Anahi: Você nunca pergunta se pode perguntar. Você é meu melhor amigo, Christian, você pode tudo. –sorri bebendo o refrigerante.

Christian: Você está apaixonada por Alfonso?

Eu engasguei, cuspindo toda a Coca-Cola da minha boca. Pelo amor de Deus! É claro que eu não estava apaixonada!

Anahi: De onde tirou isso? É claro que não estou!

Christian: Eu não teria tanta certeza. –resmungou.

O encarei.

Christian: Encare os fatos, Anahi, Alfonso trocou meia dúzia de palavras com você e você largou a noite inteira numa boate VIP para ir com ele.

Any: Nós só fomos conversar. –dei de ombros

Christian: E agora ele te pediu para ver um jogo de futebol e você está vendo.

Anahi: Eu estou vendo porque você ligou a tv.

Nessa hora Alfonso fez um gol. Eu tentei esconder o sorriso quando ele procurou a câmera e fez, com os dedos, um A, mas a tentativa não deu certo. O gesto era simples e encantador.

Christian: Você me contaria, não contaria? –ele falou –Me contaria se finalmente se apaixonasse?

É, não se assustem, com 19 anos eu nunca havia me apaixonado. Por um motivo bem simples, eu não queria me afundar de vez na roça em que eu morava.

Nasci em Monte Sião, cidade interiorana de Minas Gerais, colada com Aguas de Lindoia e mais colada ainda com São Paulo. As vezes eu me perguntava se era paulista ou mineira, porque era só pular uma linha e já estava em outro estado. Monte Sião era a capital nacional do Tricô, e, sinceramente, envelhecer sobre o sofá brincando com duas agulhas na frente da tv não estava entre minhas 60 primeiras prioridades da minha vida.
Por isso fugi para São Paulo –capital –na primeira oportunidade que tive. Antes disso, eu disse não a qualquer relacionamento serio montessianense.

Meu amigo de infância espera ansiosamente pelo momento que eu me apaixonaria. Mas, infelizmente, eu teria que desanima-lo mais uma vez.

Anahi: Christian, vamos pensar. –coloquei o esmalte no chão e o encarei –Por que eu me apaixonaria por Alfonso? Ele é famoso, jogador de futebol, prepotente, mal educado, insuportável, idiota, grosso... Eu nem o acho bonito!

Christian: Mas foi para cama com ele. Não se deita com pessoas que se despreza.

Anahi: Concordo. Mas só porque eu fui para cama com um cara sem o achar bonito não quer dizer que eu esteja apaixonada, pelo amor de Deus, nós dois não ficamos mais de meia hora sem brigar.

Christian: Anahi, eu não sei se você sabe... Mas o amor não segue muita a logica de preferencias, opiniões e ideia iguais. Porque, se o amor fosse logico, eu não ficaria excitado com o mesmo sexo. Não acha?

Er.

Não, eu não estava apaixonada. Eu me negava a estar, por que eu nunca ouvi os conselhos maternos de nunca diga nunca? E por que eu fui dizer que nunca, jamais, nem em sonhos, never, eu me apaixonaria por um famoso jogador de futebol e que ele teria menos chance ainda se fosse Alfonso Herrera?

Maldição!

Quem foi o idiota que inventou o “paga língua” ?

Me da o twitter dele agora, que eu quero ter uma conversinha básica com esse maldito.

Pausa dramática.

Mas eu não estava apaixonada.

Me negava a estar.

E não me olhe assim não, você faria a mesma coisa se estivesse no meu lugar. E antes que diga não, lembre-se que você não faz nem ideia do que me leva a ter tanto asco –é, asco é uma bela palavra –do mundinho das celebridades.

Whatever.

Jogada na cama, pensando em como sair daquela situação, querendo morrer –sem hipérbole, acredite –Então, me ligaram atrapalhando minhas ideias.

Anahi: Alô.

Alfonso o: Você tá assistindo televisão?

Anahi: Hein?

Alfonso: Liga no Fantástico, Any.

Não, eu realmente não devia ter obedecido a Alfonso. Mas eu era curiosa de mais para não faze-lo.

E la estava Tadeu Schmidt (?)
AimeuDeus, Poncho, você não fez isso. Não fez!
Mas ele fez.

Tadeu: Alfonso voltou com tudo –falou –E causando polemica. Fez três gols. Pediu musica e fez as fãs se desesperarem.

Me sentei antes que caísse. Ou desmaiasse. Ou morresse. A ultima ideia seria bem legal nesse momento.

Já não era o bastante ele ter dedicado os gols para mim? Ele tinha mesmo que pedir musica? E uma musica linda assim? Era mais ou menos assim: “Sou fã do seu jeito, sou fã da sua roupa, sou fã desse sorriso estampado em sua boca. Sou fã dos seus olhos, sou fã sem medida, sou fã nº 1 e com você sou fã da vida...” ♫

Ok. Tudo bem. Eu não vou chorar. Não vou. É só uma musica. Não seja idiota, Anahi. Quantos anos você tem? Nove ou dezenove?

Pelo amor de Deus!

Alfonso: Você ainda está na linha, Any?

Anahi: Es-tou.

Alfonso: Tá tudo bem?

A voz era preocupada, mas eu podia perceber, notavelmente, que ele estava sorrindo.

A campainha tocou, me acordando.

Anahi: Só um segundo, Poncho.

É claro que era ele. Alguém teve duvidas disso?

Alfonso: Oi –ele sorriu encostado no portal.

Anahi: O que você tá fazendo aqui?

Eu não desliguei o celular, estupidamente. Era o choque, da um desconto.

Alfonso: Depois dos jogos costumamos ter folga. Não sabia?

Alfonso tirou o celular da minha mão.

Alfonso: Você não vai me convidar para entrar?

Desisti de lutar contra mim mesma –pelo menos naquele momento –e o beijei. O que mais podia fazer depois de uma musica daquela?

Alfonso.
Anahi sempre me surpreendia. Quando eu achava que ela me beijaria, ela me batia e quando eu achava que ela me bateria, ela me beijava.

Alfonso: Você gostou tanto assim? –sussurrei quando ela me puxou para dentro da casa.

Anahi: Quem tá na chuva é para se molhar.

Alfonso: Não foi o que eu perguntei –fiz carinho em seu rosto.

Alfonso: Há cinco minutos perguntei o que você estava fazendo aqui e você disse que foi dispensado. O que não respondeu minha pergunta.

Dei um sorriso.

Alfonso : 1x1 –ela riu –Eu sabia que se você não soubesse por mim amanha daria um escândalo.

Anahi: Está me chamando de escandalosa?

Alfonso: Estou.

Anahi: Seu filho da mãe! –me deu um tapa, me fazendo rir.

Poncho: Agora você tem que responder a minha. Decidiu se render?

Anahi: Por hoje.

Alfonso: Por que você resiste tanto, Anahi?

Anahi: Porque você é idiota, prepotente, chato... É tudo que repudio num homem.

Alfonso : E por que mesmo tudo isso sendo verdade você está nos meus braços agora?

Anahi: Porque você está certo –suspirou –Porque é impossível resistir.

Alfonso: Vai me deixar dormir aqui? –dei um sorriso

Anahi: Se for só dormir...

Eu a encarei e, mesmo querendo mais do que isso, pude ver o quanto ela estava falando serio.

Alfonso: Tudo bem, eu estou mesmo cansado. –dei um beijo na testa dela.

A cama de Any era maior que a cama do quarto que eu dormi durante a recuperação. Isso nos deixava mais acomodados, mesmo colados, mal me lembro da ultima vez que só dormi com uma garota que já transei antes –se é que teve uma primeira vez –mas a sensação era boa. Any deitou a cabeça no meu peito.

Alfonso: Você pensou na minha proposta? –falei.

Anahi: Como você pode querer namorar uma garota que não sabe nada de você? –me encarou

Alfonso: Não sou tão egocêntrico assim, sabia?

Anahi: Não estou falando disso, Alfonso. A questão não é essa. A questão é que não se namora pessoas que não conhecemos. O que você sabe sobre mim além de eu ser dançarina, escandalosa, mal-educada e marrenta?

Alfonso: Sei o principal, cariño. –fiz carinho no rosto dela- Sei que, diferente do que sou para você, você é tudo que eu gosto numa mulher.

Anahi: Alfonso...

Alfonso: Psiu. –pus os dedos nos lábios dela –Você vai ser minha, Anahi, e nós dois sabemos disso.

Anahi: Com que certeza você fala isso?

Alfonso: Com a mesma certeza que entro em campo sabendo que darei o melhor de mim para orgulhar o time que me paga.

Anahi: Por que você tem que ser tão decidido? –resmungou.

Alfonso: Sou meio-de-campo, Anahi. Se eu tiver um segundo de indecisão posso perder a chance de fazer um bom lançamento e isso pode fazer meu time perder, um segundo, Any. E o que poderia ser só felicidade pode se transformar em lagrimas de tristeza. Não posso ter espaço pata indecisão em mim.

Ela suspirou. E eu sabia, o assunto estava terminado, naquele momento.

Não, eu não fiquei surpresa com a mudança bipolar de Any na manha seguinte, mas fiquei irritado. Muito. Porque ela simplesmente não podia aceitar as coisas como elas são? Pelo amor de Deus! Não somos crianças, eu não tenho que ficar me escondendo. Até parece que a famosa era ela.

Anahi: Alfonso–ela me acordou –Minha mãe acabou de chegar no prédio. Será que você pode ir embora?

Alfonso : Ah, não, Anahi. –eu me sentei –Primeiro você me esconde de Dulce, agora de sua mãe?

Anahi: É diferente, você não conhece minha mãe.

Alfonso: Você falou a mesma coisa da sua amiga. –resmunguei.

Anahi: Por favor, Alfonso. Se minha mãe te ver aqui ela vai pirar. A coisa mais simples que poderá fazer é me mandar de volta para Monte Sião.

Bateram na porta.

Anahi: Droga. –gemeu –Alfonso , depois você me fala o que quiser, mas, por favor....

Alfonso : Vai me pedir para pular a janela?

Anahi: Não. –fechou os olhos –Já vai, mãe! –gritou –Que droga, tá acabando o mundo? –me olhou –Poncho, a minha relação com a minha mãe não é das melhores. Você tem todo o direito de ficar com raiva de mim, mas, por favor, pode se esconder no banheiro? –apontou o banheiro do quarto.

Suspirei e fui até lá. O que mais podia fazer? Dois minutos depois a voz áspera da mãe dela tomou conta da cama.

Marichelo: Por que demorou tanto?

Anahi: Se você avisasse quando vinha isso não aconteceria.

Marichelo: Você é mesmo igualzinho ao canalha de teu pai!

Sinceramente, não tinha hora pior pra minha mãe aparecer. Eu estava quase pensando em contar a Poncho todos os meus medos –eu realmente preciso ser internada antes que cause danos maiores a mim e à sociedade! –e então minha querida, amada, idolatrada, mãe apareceu sem aviso prévio logo quando Poncho estava aqui.

Pai, por que me abandonaste? –qqqq O que eu fiz de tão ruim assim para Você me punir tanto?

Alfonso não merecia –e pra ser bem sincera, nem eu –ouvir toda a ladainha enfurecida da minha mãe de como eu era uma inútil por não ter arrumado um trabalho, de como minha casa estava imunda e do quanto eu era uma inútil nas outras horas do dia. Eu escuto isso há 19 anos e eu estava mesmo acostumada.

Mas isso não me impedia de me sentir absurdamente envergonhada ao final dos 30 minutos de sermão. Tudo bem eu saber disso. Nada legal Poncho ouvir de tabela.

Felizmente, ela pareceu se tocar de que a viagem a cansou e foi tomar banho. Infelizmente, essa era a hora de despachar Poncho –mesmo contra a minha vontade –sem qualquer explicação.

Ele não entendeu. Certamente ficara morrendo de raiva de mim e saiu bufando sem dar um beijo de despedida –eu o teria impedido se tivesse tentado –Ele estava no direito de ficar com raiva, afinal, orgulho a parte, eu sou mesmo chata e sofro de desvio de múltiplas personalidades q-, mas isso não quer dizer que também não fiquei magoada com a reação dele.

Sim, pode não parecer, mas eu tenho um coração aqui, no meu peito.

E, aparente e estupidamente, ele já era de Alfonso. Eu querendo. Ou não.

Alfonso.
-Já lhe disseram que você está insuportável? –Mane grunhiu ao meu lado.

Alfonso : Você já falou isso duas vezes hoje, Mane. –falei recomeçando outra sequencia de abdominal –Se falar pela terceira juro que não terá chance de abrir a boca de novo.

Mane: Duas semanas longe de Anahi –ele resmungou –e você fica mais estressado que policia dos EUA por causa de terroristas.

Mane, apesar de inconveniente, estava certo. Era difícil admitir para mim mesmo, era difícil admitir que uma despretensiosa loira de 19 anos, com veneno na língua e sorriso angelical, podia ter tanto poder em mim em tão pouco tempo. Era difícil aceitar que isso realmente estava acontecendo, que eu realmente tinha me apaixonado por uma bomba armada como Anahi, que me odiava e tinha uma muralha intransponível protegida por seus próprios fantasmas.

Era difícil lidar com isso tudo.

Especialmente com a rejeição.

Mane: Por que não vai atrás dela?

Alfonso: Não –me neguei, furiosamente, aumentando o ritmo.

Mane: Por que? Orgulho?

Alfonso: Chame do que quiser, eu denomino amor próprio. Em todas as outras vezes eu fui atrás dela, fiz mais do que costumo.

Alfonso : Anahi não vai vir atrás de você.

Alfonso: Sei disso.

Mane: Você está desistindo antes de tentar.

Alfonso: Está enganado, Mane. Eu já tentei e fui até onde eu podia.

Mane: Vou ter mesmo que aguentar esse seu humor?

Alfonso : Não por muito tempo. –sorri.

Era o que eu esperava, pelo menos.
Talvez, com sorte, essa suposição poderia estar certa. Meu mau humor não poderia durar para sempre, eu realmente tinha motivos para ficar feliz. Meu pai voltou pro Rio de Janeiro, aparentemente satisfeito com o aumento de sua mesada. Minha recuperação estava acelerada, mais do que os melhores otimistas imaginaram, recebi duas propostas de clubes europeus, que estão sobre meu pedido de estudos do que seria bom ou não para mim.

Não que eu realmente esteja pensando.

Eu já havia dito não. O que fez Maite se enfurecer.

Mas, era uma promessa, eu só sairia do meu time de coração se fosse para jogar no Real Madri, meu outro time de coração. E fim de papo, sem discussão.

Mane: Você tem certeza de que não recusou o Manchester por causa de Any?

Alfonso : O que ela tem a ver com tudo isso?

Mane: Você não espera, nem inconsciente, que ela venha até você?

Alfonso: Não sonho tão alto, Mane.

Mane: Você sonha com o Real Madri e vem me dizer que não sonha alto?

Alfonso: Não entende, não é? Jogar na Espanha seria fruto do meu esforço, mais do que do meu talento. Eu só preciso continuar me destacando e sabemos que a proposta virá. –terminei a sequência  e me sentei, bebendo água –Nunca será assim com Anahi. Não importa quanto talento eu tenha, ou o quanto eu me esforce. Não importa nada que eu fizer, eu nunca serei quem Any quer para ela. Convenhamos, Mane, jogar no Real é fichinha perto do gênio e personalidade dessa garota.

E aquilo era um fato irreversível.

Naquele momento.


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Oi, meninas, desculpa a demora, mas é que essa semana foi horrível, junto com as aulas veio uma doença que eu não sei o que é, AINDA. Olha, eu achei melhor modificar o dia de post de quinta para sábado que é bem melhor. Bom, é isso, me contem o que estão achando e dêem suas “estrelinha”.

Com amor, Clara.

Beijos.

A Musa do Futebol.Onde histórias criam vida. Descubra agora