Chapter 3

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"Dark as night and clear as day

The end is near where memories fade"

"Escuro como a noite e claro como o dia

O fim está perto de onde as memorias desaparecem"

Erick Serna – Dig your grave


Dentro do restaurante da Miree, atrás do letreiro neon, vermelho, tinha a melhor comida da cidade. O melhor sorvete caseiro de limão e amêndoas do mundo e o sossego mais desejado do universo.

Observo Noah devorar seu prato de Waffles com frutas picadas em cima. Era estranho me encontrar assim com ele, nossa última conversa foi numa delegacia onde, o Sheriff, coletou nossos testemunhos. Ali eu tinha pela primeira vez olhando Noah Melton.

- Coma devagar vai ficar com gases! – o repreendo levando uma colher de sorvete a boca.

Me olha desestabilizado e então para de comer.

- Sempre cuida das pessoas ou está fazendo isso por que eu te ajudei? – questiona, entrelaçando os dedos.

- Faço isso porque não quero ver você arrotando! – exclamo.

Sua risada gostosa toma conta do restaurante vazio. Aqui sempre é assim de tarde, sem ninguém, silencioso e calmo. Embora a senhora Miree ser uma mulher enxuta e nova, ela não pensa em largar a Sweet Shop nunca, para ela esse lugar traz vida a Santa Rivers. E é verdade, em meio a tanta amargura a Sweet Shop traz um doce que o universo precisaria comer pra entender.

- Sabe... – começa, trabalhando minhas palavras – eu nunca te pedi desculpas pelo passado. Das vezes que eu o humilhei e... – travo – joguei comida em você. – abaixo a cabeça.

Como as coisas mudam, como o tempo nos faz ver os absurdos que cometemos durante a vida. Há um ano atrás, eu era um monstro.

Imagine um ser humano asqueroso, sem nenhum escrúpulo, sem moral, honradez ou honestidade. Essa era eu, uma pessoa horrível que fez da vida de muitos um inferno, inclusive de quem eu nunca imaginaria gostar no futuro. Primeira da classe, líder de torcida, popular e bonita. Status de qualidade e amigos grandes.

Melissa Mccott, o que falar do asco em pessoa? Líder das Tigresas de Rivers, abelha rainha e minha melhor amiga. Nascemos com dias de diferença, crescemos juntas e hoje mal nós olhamos e o motivo? Bem, pra início de conversa tudo começou ano passado, quando em uma festa da escola meu próprio namorado tentou me estuprar. Por trás de todo processo, descobri que quem havia me topado naquela noite tinha sido ela. Minha amiga, que jurou me proteger e me ajudar, diante a todos próximo foi por ela que pedi e gritei socorro e naquela noite a mesma me observou ser despida de forma inapropriada e agredida como um porco em seu abate.

Taulli Voscum, filho da prefeita. Capitão do time de futebol e um egocêntrico fino. E por ele eu era apaixonada, até a fatídica noite de 27 de agosto. Frio e calculista até as entranhas, mas comigo tudo mudava, no fundo eu sabia que era reciproco, mas o ódio de seus pais pela minha família ultrapassava qualquer perspectiva de esperança entre nós e acabou que todo esse ódio chegou em mim.

Henry Trumam, filho do diretor e da jornalista renomada, segundo capitão do time, machista e com o ego mais inflável existente. Mulherengo e capataz de Taulli, louco pra estrear seu rosto bonito na capa da revista da minha mãe.

E por último eu, sabe o que temos em comum? Um segredo jurado por todos nós até o tumulo. Um pecado e um crime realizado no dia 27 de agosto.

Ao levantar minha cabeça, o rapaz me encara fixamente. Nenhum músculo do seu rosto se movia. Seu pescoço mexeu algumas vezes, suas pernas ficaram inquietas até que finalmente falou algo.

- Pessoas como você não sabe o que é ser humilhado e apedrejado, mas sabe muito bem como torturar. Eu não a culpo e aceito suas desculpas, mas entendo que um ser humano não muda assim tão drasticamente. - termina.

Realmente ele estava certo, ainda em mim, residia uma Elba má, cheia de si e com audácia, no entanto ela foi ofuscada pelo medo, a dor e o sofrimento.

- Um ano atrás você me ajudou. Ouviu minhas suplicas dentro daquele quarto podre. Desde aquele dia eu soube o que é estar na sua pele. Na semana em que voltei, fui expulsa das Tigresas, Melissa havia dito que mancharia as meninas se eu continuasse. Vazaram fotos daquela festa, me humilharam e machucaram sem pena nem piedade. Henry se aproveitou e aproximou-se, porém não foi com intenção e sim preocupação, pela primeira vez. Taulli... – dei uma pausa, minhas mãos inquietas – ele se afastou, se aproximou. No final eu perdi muita coisa, todos achavam que era mentira minha e que estava sendo manipulada, a escola inteira ficou do lado daquele imbecil. Quando a polícia de South Dalle, interviu o tabuleiro virou. – o encarei.

Em muito tempo alguém havia me ouvido com tanta atenção. E eu gostava.

- Ele foi mandado pra Nova Iorque, as festas de boas-vindas foram proibidas e as pessoa, passaram a me ver como um lixo que mentia. – levei mais uma colher de sorvete a boca – Desde de então, só vim falar com ambos um mês atrás. – finalizei.

- Sinto muito, cerejinha. – seus lábios se comprimiram numa linha fina.

- Por que cerejinha? – sorrio.

- Seu cabelo é vermelho que nem uma cereja. Único não acha! – volta a comer.

Novamente o clima que antes estava pesado havia se tornado descontraído e especial.

Quando terminamos de comer, meu relógio de pulso marcava 4h e 30min.

- Ah, Deus. – me levanto às pressas já procurando a carteira dentro da bolsa.

- Tá tudo bem? ­– me observa sem entender.

- Não, eu estou atrasada para o jantar na casa dos meus avós e ainda nem troquei de roupa. – puxo duas notas de vinte e jogo sobre a mesa.

- Ei, não precisa pagar. – se levanta e aproxima-se.

- Claro que preciso. – digo apressada guardando a carteira dentro da bolsa.

- Posso então te dar uma carona? – pergunta

Paro e o encaro.

- Você dirige? – fecho a bolsa.

- Vem comigo, cerejinha. – diz, enquanto pega minha mochila e a põe em seus ombros.

Sua mão pega a minha e me leva.

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