XI

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XI
Enrico

Em seu quarto, balancei Liz por cerca de vinte minutos até que ela soltasse uma fungada é realmente dormisse.
Apreensivo, a coloquei dentro do berço, ajeitei a chupeta em sua boca, coloquei um bicho de pelúcia tão pequeno quanto ela ao seu lado, acendi o abajur e apaguei a luz principal.
Assim que cheguei à sala, Aline estava de braços cruzados andando de um lado para o outro.
- Ela dormiu. - falei.
- Que bom. - respondeu secamente.
Fiquei parado, com as mãos no bolso da calça esperando que ela dissesse algo, até que disse:
- Então, você precisa ir embora, né?
Passou por mim indo até a porta, senti que ela queria dizer algo mas não estava conseguindo e por isso ficava se auto martirizando.
- O que você quer dizer? - perguntei.
Seus olhos arregalaram-se e só então notei que eles eram da cor dos de Liz.
- Está tão visível assim? - ousou perguntar arqueando a sobrancelha e debruçando-se levemente na maçaneta da porta.
- Sim. - respondi.
- Sei que é chato o que irá dizer, mas, eu não gosto de você por perto de Liz.
O que eu fiz?
- E posso saber o porque? - ousei perguntar.
- Porque você é um estranho. Nós não o conhecemos, você é apenas o irmão da minha cliente, não tem o porque de se aproximar.
Cruzo os braços.
- Você está com ciúmes? - perguntei.
- Lógico que não! - rapidamente respondeu, eu sabia que sim. - Você é um estranho.
- Não pareço ser para sua filha.
- Ela só tem quatro meses, ainda há tempo de se acostumar sem você, a propósito, te conhece a o quê... Alguns dias? - fez as contas.
- Prazer, sou Enrico. Posso ficar por perto dela agora? - perguntei.
- Não. - respondeu virando de costas para mim.
- Liz está me fazendo bem.
- O orfanato infelizmente está cheio de crianças, elas poderão te fazer bem também.
Eu sorri, porém querendo chorar.
- Todas elas me olham com cara de desespero, não estão acostumadas a verem um monstro. - fui sincero.
- Você não é um monstro.
- Quero ficar perto de Liz. - desconversei.
- Não será possível, desculpe.
- Faço questão.
- Eu já disse que não! - falou mais alto.
- Ok. - respondi erguendo as mãos em sinal de rendição.
Ela ficou em silêncio.
- Espero que um dia você deixe de ser tão individualista. Aprenda que criamos nossos filhos para o mundo, Liz não será sua para sempre, talvez seja apenas agora sendo um bebê. - após dizer isso, sai fechando a porta com mais força do que o costume.
Eu não desistiria de ficar perto de Liz, ao menos não tão cedo.

ENRICOOnde histórias criam vida. Descubra agora